O mercado brasileiro de motos custom de média cilindrada esteve praticamente abandonado nos últimos anos. Mas isso deverá mudar daqui pro final do ano. Com a chegada da Royal Enfield Super Meteor 650, os órfãos desse tipo de moto passam a ter uma opção realmente interessante.
A moto chegou com preços bastante competitivos, e em três versões para tentar agradar diferentes tipos de compradores. A saber:
Oferecida nas cores azul, preta ou verde, é a versão de entrada. Tem pintura de uma única cor, sem faixas ou adereços, e nenhum acessório. É a opção para quem gosta de moto custom em seu estado mais puro, sem firulas - ou para quem gosta de comprar e customizar.
Versão intermediária, é oferecida nas cores predominantes verde ou cinza, mas com detalhes na cor preta. A diferença para a versão Astral é essa: pintura bicolor, e só.
A topo de linha já sai de fábrica equipada com banco diferente, em peça única (nas outras os bancos do piloto e do garupa são separados), encosto para garupa, para-brisa e pintura bicolor mais caprichada, que pode combinar vermelho e branco ou azul e prata. A vermelha e branca, claro, é a minha preferida...
Mesmo na versão mais cara, a Super Meteor 650 custa R$ 15 mil a menos que a Kawasaki Vulcan 650 S, cujo preço já está na casa dos R$ 50 mil. Ou seja, a japonesa pode até ser mais potente, pouco coisa mais leve e ter aquela famosa confiabilidade, mas a diferença nos preços é muito significativa. E vale lembrar: os preços já incluem o frete.
Já falamos bastante da Super Meteor 650 aqui no WM1. Então vamos só lembrar suas principais especificações: motor bicilíndrico refrigerado a ar e óleo (com radiador), 648 cm³, potência de 47 cv a 7.250 rpm e torque de 5,3 kgfm a 5.650 rpm.
Além disso, a moto tem câmbio com seis marchas, secundária por corrente, suspensão dianteira Showa invertida (12 cm de curso) e traseira bichoque com pré-carga ajustável (10 cm de curso), freios com ABS nas duas rodas, que são de liga leve e calçam pneu Ceat 100/90 R19 na frente e 150/80 R16 atrás, vão livre de 13,5 cm e banco a 74 cm do solo, farol de LED, navegador Tripper, tanque para 15,7 litros e 241 quilos de peso em ordem de marcha.
Ou seja, um conjunto bastante honesto e equilibrado, ainda que a moto não use muito materiais nobres como alumínio para baixar peso nem tenha quitutes como painel de TFT, iluminação full-LED ou controle de tração, por exemplo. Mas, e aí? Como é pilotar a Super Meteor 650?
A expectativa para pilotar a Royal Enfield Super Meteor 650 era grande - e vinha desde o ano passado, quando a moto foi lançada na Índia. Mas chegou o grande dia, em uma manhã ensolarada em Brasília (DF). O ride teve cerca de 160 quilômetros por estradas, e mais uns 40 quilômetros pelas intermináveis avenidas do Plano Piloto. Uma boa rodagem.
O motor bicilíndrico é o mesmo da Interceptor e da Continental GT, mas com pequenas alterações no mapa da injeção e na admissão. Nada que faça muita diferença - tanto que números de potência e torque são os mesmos.
Proporcionalmente, há mais torque do que potência - algo esperado e necessário em uma custom. As respostas são honestas, mas as arrancadas são mais vigorosas do que o ganho de velocidade.
Mas não é uma moto manca. Subo as marchas no câmbio, cujas trocas são fáceis embora não exatamente macias, e o motor entrega sua energia de maneira suave, bem progressiva e linear.
Mas é um motor que trabalha melhor "cheio". Então, em ambiente urbano, é preciso trocar as marchas com boa frequência para que o melhor torque esteja sempre presente. Ao mesmo tempo, a Super Meteor 650 vai bem por avenidas largas e retas, mas sofre um pouco para transitar nos corredores e em tráfego pesado e moroso.
Na estrada, a história é outra. Marchas para cima e logo estou a 80 km/h com muita facilidade. Daí, descubro que a velocidade de conforto desse motor é 100 km/h - ali, ele está lisinho, sem ruídos ou vibrações incômodas.
Sigo em rotações médias e na hora de ultrapassar ou ganhar velocidade basta jogar uma pra baixo - a sexta é quase um ovedrive, então não tem muita força. Cumprida a manobra, volto à sexta e sigo tranquilamente. A rodagem é suave e muito prazerosa. Ou seja, totalmente sintonizada com a proposta da moto.
A posição de pilotagem é bastante cômoda. As pedaleiras são levemente avançadas e deixam as pernas apenas parcialmente dobradas, o que é bem confortável. O guidão tem altura razoável, que provavelmente agradará à maioria dos compradores. Mas eu preferia que fosse mais alto - mais por questão de costume com as minhas motos do que por deficiência ergonômica da Super Meteor 650.
A maneabilidade desta anglo-indiana é satisfatória. Mudo de trajetória com facilidade e mesmo em baixas velocidades não há qualquer insegurança. As manobras, porém, exigem certo cuidado, pois é aí que o peso em ordem de marcha - de bem fornidos 241 quilos - é sentido a todo instante.
O peso é mais sentido ainda porque o centro de gravidade é alto, em decorrência do motor bicilíndrico. Uma Honda Shadow 750, por exemplo, tem peso similar, mas parece ter bem menos porque é mais comprida (2,43 m contra 2,30 m) e o centro de gravidade com o motor V2 é mais baixo.
Pelo menos os freios da Super Meteor dão plena conta do recado: testei várias vezes, em diferentes situações, e as respostas foram sempre excepcionais - inclusive com o ABS funcionando muito bem. Da mesma forma a suspensão dianteira, composta por tubos invertidos Showa, mostrou excelente desempenho - com absorção eficiente dos impactos e zero reboladas nas curvas.
Já a suspensão traseira, na configuração de fábrica, é um bocado dura. Mas como tem ajustes de pré-carga, basta regular que isso melhora bastante. No ajuste padrão, não dá fim de curso nem "pancadas secas", mas o rebote é curto, grosso e sofrido. E olha que só rodei por asfalto bom, com raros trechos "malhados" e poucos buracos. Os pneus Ceat, por sua vez, não impressionaram nem decepcionaram nas boas condições de rodagem que passei.
Por fim, vale mencionar que o painel de instrumentos da Super Meteor 650, composto por um mostrador analógico com telinha de LCD interna, mostra apenas o necessário e tem números um tanto pequenos. Mas a leitura é tranquila e a iluminação noturna, bonita e eficiente.
A beleza está sempre nos olhos de quem vê. Mas os compradores e admiradores de motos custom costumam ser relativamente fechados a invenciones ou mudanças na "fórmula tradicional". Tanto que muitos torcem o nariz para o visual rebuscado da Kawasaki Vulcan 650 S e outros tantos nunca reconheceram a V-Rod como uma legítima Harley-Davidson (porque tem motor desenvolvido com a Porsche e refrigerado a água, vejam só!).
Isso só para ficar em dois exemplos frequentemente citados. E há quem diga que motos com motor bicilíndrico não são custom legítimas. Mas aí já é forçar a barra.
O que legitima uma custom são as proporções da moto e, por consequência, a posição de pilotagem. Componentes como tanque em gota, banco em duas alturas, para-lamas arredondados e outros detalhes apenas reforçam a proposta.
Isso tudo está na Royal Enfield Meteor 650 - e, na minha opinião, compondo um visual bonito, coerente com a proposta da moto e com preço justo.
A Super Meteor 650 merece a atenção de quem tem uma custom menor e quer "subir de cilindrada". Caso de donos de Meteor 350 ou de modelos já fora de linha de outras marcas (Suzuki Intruder 125 e 250, ou Yamaha Virago 250 e 535, entre outras).
E certamente também poderá ser uma opção para quem comprou uma Interceptor ou uma Continental GT porque a custom ainda não existia, e/ou apenas quer uma Royal Enfield mais confortável.
Por fim, surge também - e talvez principalmente - como uma opção economicamente viável de custom média para quem faz questão de moto zero-quilômetro. Afinal de contas, a Super Meteor 650 custa a mesma coisa que boas motos custom médias usadas que foram sucesso em suas épocas, e que ainda hoje, se devidamente garimpadas, são ótimas compras.
Na galeria de fotos abaixo, você confere todas as versões, vários detalhes e customizações feitas na nova Royal Enfield Super Meteor 650: