O Range Rover Evoque e o Discovery Sport chegaram à linha 2024 e já tivemos a oportunidade de acelerar os dois modelos. Ambos fazem parte da linha Land Rover, mas atenção: esse nome tão tradicional cairá, progressivamente, em desuso.
É que a marca inglesa quer valorizar as linhas Range Rover, Defender e Discovery separadamente, e se tornar uma "house of brands" - ou seja, uma espécie de conglomerado de marcas. Tanto que, atualmente, a inscrição "Land Rover" aparece nos carros apenas discretamente.
Mas vamos aos carros. Lançado em 2011, montado em Itatiaia (RJ) desde 2016 e em sua segunda geração desde 2021, o Evoque nunca mudou muito. Nem precisava: seu design impressionantemente bem resolvido parece ser à prova do tempo e continua absolutamente atual. Tanto que as mudanças estéticas sempre foram pontuais e discretas. Na linha 2024, o carro exibe novos faróis de LED Premium, grade e para-choque dianteiros redesenhados (este, com novas tomadas de ar nas laterais), novo arranjo nas lanternas traseiras e detalhes agora na cor bronze.
As novidades mais quentes aparecem no interior, onde agora praticamente não há mais botões físicos e uma nova telona de TFT, de 11,4 polegadas e levemente curvada, serve para controlar praticamente todas as funções de bordo - do ar-condicionado dual zone ao GPS, passando pelas conexões sem fio com Android Auto e Apple Car Play e até pelo sistema de seleção de modos de condução.
A nova central foi batizada com o curioso nome de "Pivi Pro". Seu grande barato é ter barras laterais permanentemente acessíveis, que fornecem atalhos para os principais controles e funções do veículo, como mídia, volume, clima e navegação. Isso permite acessar 90% das tarefas com dois toques na tela inicial.
Desta forma, é bastante fácil de usar - e mesmo um motorista da velha guarda analógica como eu não encontra dificuldades. Isso é importante, já que hoje em dia vários automóveis praticamente exigem um curso de "TI" para que se consiga usar todas as funcionalidade de bordo.
O painel de instrumentos, por sua vez, não mudou - ainda é de TFT e configurável como antes. E vale lembrar que, desde 2020, o Evoque tem sistema de telemática com acesso a concierge e assistência 24 horas. Um luxo! Por fim, o modelo também ganhou soleiras das portas personalizadas, com a inscrição "Evoque".
A cabine é toda sofisticada e minimalista. Solto o freio de mão eletrônico com o aperto de um botão, boto a pequena e curta alavanca do câmbio automático na posição "drive" com um leve toque, e pronto! Agora é só acelerar e frear, e o carro, literalmente, faz tudo que é preciso.
Quem, como eu, dirige habitualmente um SUV raiz dos anos 2000, com "tudo mecânico", do câmbio às seleções de tração integral e reduzida, tem a sensação de ter avançado um século. O Evoque é um SUV moderno, não tão afeito a trilhas pesadas, mas que dá plena conta do recado em diferentes tipos de piso.
Em nosso curto test-drive, pegamos um trecho de estrada asfaltada na Via Dutra, outro de ambiente urbano na cidade de Resende (RJ) e um bom pedaço de estrada de terra a caminho da localidade de Arapeí (RJ). O carro impressionou o tempo todo.
No asfalto, o comportamento é de um confortável sedã de luxo, mas com visão panorâmica já que posição de dirigir é naturalmente mais alta do que num três volumes. O Evoque roda macio, é absolutamente obediente e os assistentes à condução reforçam a sensação de segurança.
O SUV acelera, freia e faz curvas grudado no chão. Em trajetos urbanos, o único problema é a sensação de impotência - é como estar em um foguete sem poder voar. Mas existe a compensação do conforto absoluto - a posição de dirigir é excelente, as respostas ao volante são bem diretas e você jamais cansa.
No trajeto de terra, o Evoque assume sua persona off-road. O conhecidíssimo sistema Terrain Responde permite que o motorista selecione o tipo de piso pelo qual vai rodar, e o carro se adapta àquela seleção - as opções são Eco, Comfort, Grass-Gravel-
Snow, Mud-Ruts, Sand, Dynamic e Automático. Mas nem é preciso ter esse trabalho: mantenha em modo automático (auto) e o carro vai reconhecendo o piso e parametrizando as respostas de motor, transmissão, tração, suspensões e controle de estabilidade.
Aí o único trabalho do motorista é curtir o passeio. Terra, lama, buracos, lombadas e valetas são solenemente ignorados pelo Evoque, cujas suspensões absorvem impactos e irregularidades com extrema eficiência e fazem os ocupantes do carro balançarem pouquíssimo. E nada de sustos: o sistema de câmeras espalhadas pelo carro mostram tudo ao redor, inclusive o que vai à frente e abaixo do capô dianteiro, com uma tecnologia chamada "capô transparente". É como se você visse através do capô, literalmente. Sensacional!
E o motor 2.0 flex? Bem, com seus 240 cv de potência e 36,6 kgf.m de torque, exibe respostas muito fortes que, eventualmente, podem até pegar o motorista de surpresa. Mas não chega assustar, já que o excelente câmbio automático de nove marchas distribui essas forças de forma progressiva e razoavelmente linear. A tração, claro, é 4x4 sob demanda.
Vendido em versão única, a Dynamic HSE P250 Flex, o Evoque custa R$ 471.950. É caro? Sim. Mas, quando você dirige esse carro, tem a nítida impressão de que vale cada centavo. Ao contrário do que vemos em muitos - muitos, mesmo - modelos vendidos no mercado brasileiro, cujos preços não condizem muito com o conjunto que é entregue.
O Discovery Sport também passou por uma pequena repaginada, mas nada muito radical. Seguindo a linha aplicada ao Evoque, recebeu nova grade dianteira, barrinhas no para-choque dianteiro e soleiras das portas personalizadas. Os novos acabamentos externos são na cor preta e, na cabine, além de um antes inexistente carregamento de smartphone por indução (que o Evoque já tinha), também ganhou o novo sistema de infoentretenimento Pivi Pro.
Se comparado ao Evoque, o Discovery Sport é pouca coisa menos luxuosa. Mas está longe de ser um modelo simples ou espartano. Tem as mesmas tecnologias e recursos e, ainda, a opção de sete lugares. A diferença, mesmo, está na rodagem: enquanto o Evoque é mais macio e confortável, e proporciona uma experiência de direção mais interessante no asfalto do que fora dele - embora seja eficiente nos dois ambientes -, o Discovery Sport parece se sentir mais à vontade no fora-de-estrada.
As respostas ao esterço do volante parecem mais diretas e as suspensões têm calibragem um pouco mais rígidas. Sendo assim, o Discovery Sport "quica" e balança um pouco mais que o Evoque. Mas nada que chegue a causar grandes incômodos. No asfalto, em cidade ou estrada, o comportamento é neutro como o do irmão mais vistoso. A diferença sobressai apenas fora dele. Ambos têm o mesmo vão livre de 21,2 cm, mas a capacidade para transpor áreas alagadas é um pouco maior no Discovery Sport - 60 cm contra 52 cm do Evoque.
O Discovery Sport é vendido em versão única, mas - ao contrário do Evoque - tem duas opções de motorização: a P250 flex, igual à do Evoque - justamente a que dirigimos -, e a D200, que usa o turbodiesel Ingenium 2.0 de 199 cv e 43,8 kgf.m - também com câmbio automático de nove velocidades.
Esta, inclusive, é uma híbrida leve: tem tecnologia mild hybrid electric (MHEV). Com ela, o funcionamento da função start-stop é mais suave. Além disso, por usar um motor de arranque acionado por correia e um conjunto de baterias, a energia normalmente perdida sob desaceleração é coletada, alimentando de volta uma bateria de 48 Volts para aumentar o desempenho e aumentar a economia de combustível - essa força extra entra sob demanda.
O Discovery Sport tem preços a partir de R$ 434.490 (flex) e R$ 466.490 (diesel híbrido leve). Com sete lugares, os preços sofrem acréscimo de R$ 13 mil.
A fábrica da Jaguar Land Rover (JLR) em Itatiaia (RJ) foi inaugurada em 2016. Fruto de investimentos da ordem de R$ 750 milhões, é responsável pela produção dos modelos Discovery Sport e Range Rover Evoque vendidos no mercado brasileiro.
Nestes oito anos de atividade, a planta já produziu mais de 20 mil veículos. Mas está longe de seu potencial completo: ano passado, por exemplo, fez cerca de 2.500 unidades - tem capacidade para fazer 24 mil unidades por ano. Na prática, é muito mais uma linha de montagem do que uma fábrica, já que as carrocerias monobloco dos caros vêm prontas, estampadas e pintadas, da Inglaterra.
Mas a unidade na região sul-fluminense tem características muito interessantes. Com cerca de 250 funcionários em chão de fábrica, é recordista em segurança no trabalho dentre todas as fábricas do grupo JLR, tem logística just-in-time apuradíssima e a ainda inclui uma "Clínica de Restauração", com uma equipe especializada dedicada à restauração minuciosa, que mantém a autenticidade dos veículos clássicos da marca.
Para isso, há uma oficina equipadíssima, com seis baias para montagem e desmontagem de veículos, além de uma cabine de pintura dedicada exclusivamente às restaurações.
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