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BYD Seal: um belo sedã médio da nova era

O três volumes chinês é tudo aquilo que se espera de um bom modelo de médio porte... e ainda é elétrico! Confira o teste

por Evandro Enoshita

Me lembro até hoje do meu primeiro contato com um carro chinês. Foi por volta de 2011 e, naquela época, não era preciso ter olhos treinados para achar detalhes não muito agradáveis nesses veículos feitos no país asiático. Mas o cenário mudou. Os chineses chegaram lá e as suas marcas já produzem automóveis tão legais quanto os fabricantes mais tradicionais do planeta. Um exemplo disso é o BYD Seal.
Depois de um breve contato no lançamento, agora chegou a hora de passar uma semana com o carro. Rodei com o sedã elétrico no uso diário e até em uma curta viagem rodoviária. Será que o BYD Seal realmente vale o que aparenta? Confira a seguir.

Teste: BYD Seal

Cara de Porsche?

Se a ideia é impressionar a vizinhança, este pode ser o carro para você. Não dá para negar que o elétrico da BYD é classudo. A carroceria, com perfil baixo e linhas arredondadas, lembra as de modelos como o Porsche Taycan e o Tesla Model 3.
Detalhes como as maçanetas externas embutidas e que "saltam" para fora apenas com as portas destrancadas, além das rodas de 19 polegadas, contribuem para que o Seal pareça um carro mais caro do que ele realmente é. Principalmente se for um exemplar na cor Cosmos Black, como o carro que testei.
Em dimensões externas, o BYD Seal está mais para Jetta. São 4,80 m de comprimento, 1,88 m de largura e 1,46 m de altura. Medidas pouco maiores que as do sedã da Volkswagen. Por outro lado, o entre-eixos do três volumes chinês é bem mais longo: 2,92 m. Ou 24 cm a mais que no Jetta.

Espaço de sobra

Com um entre-eixos tão longo, maior até do que o do... Porsche Taycan (olha ele aí), o espaço para as pernas no banco traseiro é um dos pontos fortes do modelo.
Sem medo de errar, eu diria que é um dos melhores que já vi em um sedã médio. O conforto fica ainda maior por conta do assoalho plano. Por outro lado, o porta-malas tem apenas razoáveis 400 litros de capacidade, embora seja complementado por um pequeno bagageiro sob o capô.
Os bancos também são muito confortáveis e os assentos dianteiros ainda são do tipo esportivo, com ventilação, ajustes elétricos e aquecimento. O acabamento da cabine também merece aplausos, com boa variação de cores e texturas, materiais macios ao toque em várias superfícies e até apliques em suede. Melhor até que os encontrados em alguns carros mais caros e de marcas tradicionais.
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Já o painel segue a inspiração marinha dos outros modelos da BYD, com linhas bem sinuosas e... exóticas. São poucos os botões físicos e praticamente todos estão concentrados próximos da alavanca de câmbio (que é de cristal!).
Duas telas chamam bastante a atenção: a do quadro de instrumentos, de 10,25 polegadas, e a da multimídia, com 15,6 polegadas - e que, seguindo o padrão BYD, pode ser girada por um botão no volante.

Telas e mais telas

Só pelo tamanho das telas já dá para você, caro leitor, perceber que o pacote tecnológico é outro ponto forte do BYD Seal. E você está completamente certo. O problema é que essa dose cavalar de tecnologia exige certo treino do motorista para dominar a máquina.
Acessar os recursos do Seal não é algo muito intuitivo. Tirando alguns poucos atalhos no console central (como o do seletor de modos de condução), quase todas as funcionalidades do sedã da BYD exigem que o motorista acesse os vários menus da central multimídia.
Sem comandos manuais nas saídas de ventilação do painel, regular o fluxo de ar também é algo que exige que o motorista acesse a central multimídia. Além disso, o Seal também tem outro aspecto incomum na climatização de cabine: dá para alterar a velocidade do ventilador e a temperatura do ar-condicionado pelo quadro de instrumentos, usando os comandos no volante multifuncional.
Aliás, falando no ar-condicionado, ele é duas zonas e também tem um sistema de purificação do ar da cabine, que permite inclusive monitorar a qualidade do ar externo e interno. Algo que normalmente é visto apenas em carros de luxo. Já o sistema de som tem 12 alto-falantes e garante uma experiência sonora bem satisfatória.
As opções de personalização são bem curiosas. Dá para trocar a cor e o esquema de iluminação da cabine. E também dá para alterar o tom dos alertas sonoros do veículo.
Até testei o tema criado pela BYD (que transforma a cabine quase em uma nave espacial de ficção científica). Mas preferi deixar a assinatura de som padrão. Afinal, mais atrapalha do que ajuda perder alguns segundos para adivinhar se determinada campainha é da seta acionada, ou de outra coisa...
O Seal exige algum tempo de adaptação. Mas, depois de algumas horas ao volante, tudo se torna mais fácil. Ainda mais quando você descobre que várias funcionalidades podem ser acessadas via comando de voz.

Equipamentos

O BYD Seal tem um pacote único (e bem completo) de equipamentos. Começando pelos itens de conforto, tem teto panorâmico, ar-condicionado automático de duas zonas, tampa do porta-malas com abertura e fechamento elétricos, chave presencial, dois carregadores de celular por indução, bancos dianteiros com aquecimento, ventilação e ajustes elétricos, painel digital e multimídia de 15,6 polegadas com tela rotativa e sistema de som com 12 alto-falantes.
O pacote tecnológico tem monitor de pontos cegos, head-up display, sistema de câmeras 360° com modo panorâmico, alerta de tráfego cruzado na traseira e sistema de direção semiautônomo.

Conjunto mecânico

O Seal é vendido no Brasil em versão única, com tração integral e dois motores. São 531 cv de potência e 60,2 kgf.m de torque. Esses números garantem ao BYD um desempenho típico de um elétrico de alto desempenho: zero a 100 km/h em 3,8 segundos e velocidade máxima de 180 km/h.
A bateria é a Blade, desenvolvida pela própria BYD, que exibe boa proporção entre tamanho compacto e capacidade. Com 82,56 kWh, garante ao Seal 372 quilômetros de autonomia (ciclo PBEV) com uma carga.
O conjunto de suspensão é do tipo duplo A na dianteira e multilink na traseira, enquanto os freios tem discos ventilados na dianteira e na traseira.

Conforto e tecnologia ao volante

O BYD Seal tem posição de dirigir bem esportiva, com o assento baixo mesmo nas posições mais elevadas e um console central alto, que faz o condutor se sentir como em um avião. Os bancos, aliás, são bem envolventes e contribuem para reduzir o cansaço depois de algumas horas ao volante.
O sedã elétrico também entrega boa ergonomia. Os comandos - físicos e virtuais - estão todos próximos, mesmo para mim, que tenho menos de 1,65 m. O volante também tem diâmetro pequeno e permite acessar os botões sem precisar deslocar tanto as mãos da posição ideal.
Com boa amplitude de ajustes, nem é preciso se mexer tanto para visualizar as imagens do head-up display, que também é regulável e bem completo em informações, permitindo guiar praticamente sem olhar para a tela do quadro de instrumentos.

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Na rodagem, o BYD Seal é um carro bem silencioso e com uma direção direta e progressiva (leve em manobras e mais pesada em altas velocidades). Já a suspensão tem um acerto bem equilibrado, embora pendendo um pouco mais para o conforto.
Apesar de ser muito estável, o Seal dá aquelas embicadas com a frente nas curvas mais fechadas e oscila bem ao passar por uma lombada. Mas absorve muito bem as irregularidades, mesmo nas pistas com asfalto bem ondulado.
Os freios também se comportam muito bem, embora eu preferisse uma atuação maior do sistema regenerativo, que é tímida mesmo no acerto mais intenso.
Na hora de manobrar, o conjunto de câmera 360° e os sensores agradam pelos vários modos de visão e pela precisão no funcionamento. A tela da central multimídia exibe até a distância, em metros, do carro para os obstáculos. Coisa para engenheiro nenhum botar defeito...

Foguete

Mas um ponto que empolga mesmo no BYD Seal são as respostas do conjunto motriz de dois motores. Com o modo de condução Sport selecionado, o sedã elétrico entrega acelerações de grudar o corpo no assento.
Inclusive, eu rodei a maior parte do tempo com o acerto esportivo acionado. É que, além de liberar toda a potência do conjunto motriz, o modo Sport deixa também a direção mais pesada. O que contribui para deixar o Seal ainda mais divertido de guiar.
Já nos modos mais mansos Eco e Normal, as respostas do acelerador são (bem) menos brutas e a direção fica mais leve. Ou seja: o Seal passa a se comportar como um pacato sedã médio.

"Semi semi autônomo"

Embora fosse mais divertido guiar o sedã da BYD no modo manual, o dever do ofício me obrigou a testar o sistema de direção semiautônomo do modelo no uso rodoviário. E foi aqui que eu descobri um dos pontos que menos me agradaram na rodagem com esse elétrico.
Com todas as assistências ativadas, com tempo bom e rodando em uma pista com boa sinalização horizontal, o carro mantem bem a distância para o trânsito e a centralização na faixa. Dá até para se distrair por alguns segundos. Mas só isso mesmo, já que o carro é bem chato nos alertas para se manter as mãos no volante.
Esses alertas se mostraram importantes. É que, em algumas ocasiões, os sensores se perderam e o carro fez correções meio inexplicáveis de trajetória. Nada muito assustador. Mas foi preciso que o humano aqui contrariasse a decisão da máquina. E o sistema de leitura automática de placas por vezes identificou velocidades máximas erradas.
Esses sistemas de direção semiautônomos já estão mais precisos que há alguns anos. Mas é preciso ter consciência de que ainda estão bem longe de dispensar a atenção do motorista. E isso fica claro no BYD Seal.

Conclusão

O BYD Seal está à venda no Brasil por R$ 296.800. Nessa faixa de preços, é o único sedã elétrico do mercado e tem como concorrentes mais próximos (em porte e preço) o autocarregável Honda Civic Hybrid (R$ 265.900) e o híbrido-leve Audi A4 Prestige (R$ 305.990).
Com um belíssimo pacote de equipamentos, muito conforto e desempenho empolgante, o BYD Seal é uma opção interessantíssimo para quem está em busca de um sedã médio elétrico ou eletrificado. E nem é preciso fazer um exercício de adivinhação para saber se rolou, ou vai rolar, uma boa aceitação do público.
Lançado por aqui em agosto de 2023, o BYD Seal conseguiu fechar o mês de janeiro na segunda posição do ranking de sedãs médios mais emplacados no mercado brasileiro, superando modelos tradicionais (e mais acessíveis) como o Nissan Sentra, o Volkswagen Jetta e o Honda Civic.

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