Teste: CLA 180, o Mercedes mais barato do Brasil

R$ 137.900. Este é o preço do Mercedes-Benz mais barato do Brasil. O motor é 1.6 de quatro cilindros turbo, a transmissão é automatizada de dupla embreagem e sete marchas, tem lista de equipamentos ok, mas que poderia ser mais recheada, e design que chama a atenção dos mais jovens. Bom, estou falando do CLA 180, modelo que tive a oportunidade de acelerar e, confesso, esperava um pouco mais.

Por fora o CLA seduz por fugir dos traços mais clássicos da marca. Gosto muito da linha arredondada do teto, com uma queda da coluna ‘C’ extremamente marcante e em perfeita harmonia com a traseira. Os fortes vincos no capô e ‘esculpidos’ nas laterais sugerem um porte mais musculoso ao sedã de 4,63 metros de comprimento, 1,43 metro de altura e 2,03 metros de largura (de espelho a espelho). As rodas de liga leve, que poderiam ter um visual mais arrojado, são de 17 polegadas.

Por dentro, o CLA 180 entrega requinte, mas é nítida sua pegada mais simples em relação à C 300 Estate, perua que tive oportunidade de testar recentemente (confira avaliação completa). O volante, por exemplo, é revestido com um material sintético muito agradável ao toque, mas que não é couro como um carro de quase R$ 140 mil merece ter. O couro está somente nos bancos, e de maneira parcial. As demais peças têm materiais de qualidade, não apresentam rebarbas e estão muito bem encaixadas. O CLA não merece críticas duras neste quesito.

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E apesar de o design interno também ser muito agradável, alguns elementos revelam rugas (idade avançada). A começar pela quantidade elevada de botões entre as saídas centrais de ar e os controles analógicos do climatizador (ar-condicionado). Todos os comandos, inclusive um teclado que remete ao de um telefone residencial, ficam extremamente ultrapassados diante do touchpad que o Classe C, por exemplo, adota e que deixa o visual muito mais clean já que tudo foi ‘jogado’ para dentro da central multimídia.

Já os bancos dianteiros em estilo concha, típicos de competição, sugerindo interessante esportividade, me agradam e estão em mais sintonia com a proposta e o perfil do cliente que a Mercedes quer seduzir. O mesmo acontece com o painel de instrumentos, com dois belos mostradores analógicos (velocímetro e conta-giros) e uma tela em TFT entre eles com todas as informações do computador de bordo – todas controladas por meio dos comandos do volante multifuncional de excelente empunhadura, diga-se de passagem.

RODANDO

Para quem gosta de uma posição esportiva de condução, como eu aprecio bastante, o CLA 180 é digno de elogios. Por meios de regulagens mecânicas – aqueles ajustes elétricos posicionados na porta, como manda a tradição da Mercedes, não estão presentes –, eu tenho uma amplitude boa da altura do assento, conseguindo soca-lo no chão. A coluna de direção tem ajustes de altura e profundidade – este segundo fundamental para ‘vestir’ o carro.

Com a chave no bolso, basta pressionar o grande botão posicionado à direita do volante para o motor 1.6 16V Turbo de quatro cilindros e injeção direta de combustível (comando duplo de válvulas) ganhar vida sem muito alarde. Aliás, é um propulsor com números que não me instigaram a sair acelerando o CLA 180. São apenas 122 cv de potência máxima que aparecem a 5.000 giros e 20,4 kgf.m de torque que nasce a baixos 1.250 rpm e permanece flat, pleno, até 4.000 rotações – este é um motor que gira até 6.200 rpm.

Porém, ao pisar mais fundo no pedal da direita, o CLA 180 até surpreende entregando, vejam só, diversão! Arranca um leve sorriso de canto de boca em um semblante blasé àquela altura até aquele momento. E isso se deve a três pontos especiais: torque entregue 100% em rotação muito baixa (1;250 rpm, somente), peso de 1.430 kg e uma transmissão automatizada de dupla embreagem e sete velocidades muito bem escalonada na hora em que eu quero performance. Neste momento até chamo as mudanças para as aletas atrás do volante, que são de série.

No entanto, ao mesmo tempo em que extrai desempenho de um motor longe de ser fantástico, e consegue ser muito confortável em uma tocada leve, como se estivesse levando a vovó para fazer exames, esse câmbio 7G-DCT mostrou-se, em momentos raros, um pouco indeciso, trocando tardiamente as marchas e deixando o motor trabalhar desnecessariamente em giros mais elevados. Tal comportamento foi mais frequente em descidas acentuadas.

O CLA 180 é equipado com o Dynamic Select, tecnologia que consegue definir personalidades para o sedã. São quatro: ECO (focada na eficiência energética e economia de combustível), Comfort, Sport e Individual. Todas atual na sensibilidade do volante, deixando mais direto ou não, na resposta do acelerador e até no sistema de climatização do carro. Já o Individual possibilita ao motorista fazer uma mescla de todas essas personalidades.

Em termos de performance, a Mercedes informa oficialmente que este sedã de tração dianteira atinge os 210 km/h de velocidade máxima e acelera de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos – aqui vale ressaltar o excelente coeficiente aerodinâmico do CLA (cx 0,24). O consumo de combustível na cidade, ainda segundo dados da fabricante, é de 11 km/l na cidade e 14,9 km/l na estrada – dados de tirar o chapéu. Lembrando que o CLA 180 traz de série função Start-Stop, que pode ser desligada apertando um botão no painel central.

Quem acompanha meu trabalho sabe que sou um admirador de ajustes de suspensão mais para o firme. No entanto, a Mercedes pesou a mão na rigidez do setup do CLA - independente nas quatro rodas, com estrutura McPherson na dianteira e multibraços na traseira. Passou um pouco do ponto. As batidas duras e secas são frequentes, e em São Paulo, onde buracos são crateras, acaba causando certo desconforto em caminhos mais longos. Ao mesmo tempo que encarar um asfalto que mais parece uma mesa de sinuca é extremamente prazeroso quando se está no comando deste Mercedes.

Controles de tração e estabilidade são de série, mas raramente entram em funcionamento, até por conta do equilíbrio do CLA 180. Os freios a disco nas quatro rodas – ventilados na frente e sólidos atrás – contam com ABS (antibloqueio das rodas) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem). Há também auxiliar de partida em rampa e até tração eletrônica em cada roda.

CUSTO-BENEFÍCIO

O pacote de equipamentos de série do CLA 180 é bom, mas poderia ser melhor. São sete airbags (frontais, laterais, de cortina e de joelhos para o motorista), ISOFIX (ponto de fixação de cadeirinha infantil), freio de estacionamento elétrico, controlador e limitador de velocidade, câmera de ré, direção elétrica, pneus run-flat, sistema de monitoramento de pressão dos pneus, entre outros. A central multimídia é compatível com Android Auto e Apple CarPlay, mas a tela não é sensível ao toque e a única maneira de movimentá-la é por meio de um seletor no console central. Volto a frisar: o touchpad do Classe C é uma boa solução – não melhor que uma tela sensível ao toque.

Claro que tudo é custo e ampliar os itens de série aumentaria, naturalmente, o preço final do modelo. No entanto, alguns poderiam deixar o CLA 180 mais interessante, como alerta de objeto no ponto cego, alerta de mudança de faixa, ajustes elétricos do banco – pelo menos do motorista - até mesmo um sensor dianteiro e/ou traseiro.

ESPAÇO

O CLA é um sedã com bom espaço interno, mas nada de especial. Além dos 4,63 metros de comprimento, a distância entre os eixos é de 2,69 metros – chega a ser 1 cm menor que o Corolla, por exemplo. Aliás, a capacidade do porta-malas é a mesma do Toyota: 470 litros.

VALE A COMPRA?

Faz questão de ter um Mercedes zero-quilômetro na garagem? Seu desejo é ter um sedã com a estrela de três pontas tatuada na grade frontal e seu teto de investimento é R$ 140 mil? Se a questão for uma dessas duas, não tenho argumentos. Vá à concessionaria mais próxima e realize seu sonho. Agora, se a questão é potencializar ao máximo a compra, nesta faixa de preço existem algumas boas opções.

Uma delas é o Ford Fusion 2.0 FWD Titanium, que sai por R$ 140.300 e oferece, por exemplo, motor 2.0 Turbo de 248 cv e 38,5 kgf.m de torque, são oito airbags, 16 centímetros a mais de distância entre os eixos, porta-malas com mais de 510 litros, central multimídia Sync 3 – uma das melhores à disposição do consumidor brasileiro –, entre outros. Aqui seu dinheiro vai fazer mais pelo mesmo...