Nada como a oportunidade de conhecer de perto. De acelerar. Avaliar. Quando chegou ao Brasil com a missão de substituir o cansado Freelander 2, o Land Rover Discovery Sport, confesso, não me conquistou de cara. Coloquei em dúvida a afirmação dos executivos que seria o modelo mais vendido da marca no País. “Mais que o Evoque? Duvido”, pensei. Hoje, depois de ter rodado por mais de 500 km com a cria mais nova dos ingleses, tenho todas as condições de afirmar: errei!
O Discovery Sport reúne qualidades para ser o ‘Lord’ de maior sucesso da Land Rover a partir de agora. E o responsável por me fazer mudar de opinião foi a nova opção do Discovery Sport com motor diesel, que chega partindo de R$ 218.100 na versão SE. Rodei, de São Paulo ao Parque Nacional de Itatiaia, na divisa do Rio de Janeiro com Minais Gerais, conduzindo a opção topo de linha HSE Luxury, que custa R$ 270.700 – ainda há uma configuração intermediária HSE por R$ 242.700.
Por fora, o ‘caçula inglês’ é discreto. Suas linhas são mais sérias e menos ousadas que as do Evoque, o que é bom, pois o Discovery Sport vai demorar mais para envelhecer, algo que já acontece com ‘pop star britânico’, que recentemente passou por um facelift para esconder ‘rugas’ aparentes. No entanto, apesar de sério, existe suave esportividade nas linhas afiladas da dianteira, na linha de cintura elevada sem interferir na área envidraçada, e nas rodas de liga leve de 19 polegadas ‘calçadas’ com pneus 235/55 R19. A traseira é mais recatada, mas com personalidade graças às lanternas esbugalhadas. O difusor poderia ser maior, assim como as ponteiras da saída dupla do escapamento.
Por dentro não há surpresas. Quando eu bati o olho no painel, no volante, nos comandos do painel central – especialmente na tela da central multimídia – e no acabamento (peças revestidas com materiais de qualidade e perfeitamente encaixadas) me senti dentro de um Land Rover. A sobriedade externa se reflete no interior. Os bancos com ajustes elétricos e memória para até três posições ajudam a personalizar o Discovery. Peca, porém, na regulagem manual da coluna de direção (altura e profundidade) – por R$ 270.700, este ‘mimo’ poderia ser elétrico também.
ESTRADA
Com a chave no bolso, aperto o botão start/stop ao lado do painel de instrumentos. De maneira silenciosa, quase que imperceptível, o motor 2.2 16V turbodiesel (quatro cilindros em linha) de 190 cv de potência ‘acorda’. Incrível o excelente trabalho de isolamento acústico da cabine. Aliás, não apenas o ruído é levíssimo, mas o ‘treme-treme’ típico de muitos veículos com propulsor diesel, especialmente picapes médias, simplesmente não existe. O comportamento, ali, parado no estacionamento, é extremamente similar ao de um Discovery Sport com bloco a gasolina.
Colocamos o seletor na posição ‘D’ (Drive) e tocamos rumo ao Rio de Janeiro. Com trocas suaves, a transmissão automática de 9 marchas deixa o motor trabalhando em rotações mais baixas – entre 1.500 rpm e 3.000 rpm -, privilegiando o conforto. A 120 km/h, o ponteiro do conta-giros ‘dorme’ abaixo dos 2.000 giros, o que é excelente, pois é exatamente a partir desta faixa de rotação – mais precisamente a 1.750 rpm – que o torque máximo de 42,8 kgf.m está nas rodas. Em uma ultrapassagem, basta ‘carcar’ o pé direito no acelerador para o câmbio reduzir instantaneamente duas marchas e dar de ‘mão-beijada’ toda força disponível. Apenas por curiosidade, de acordo com a Land Rover, o Discovery Sport vai de 0 a 100 km/h em apenas 8,9 segundos – absolutamente nada mal para um ‘grandalhão’.
Além do ‘D’ está à disposição do motorista a posição ‘S’ (Sport) no seletor, que, em linhas gerais, faz o propulsor trabalhar em rotações mais altas. Pouco utilizei, pois a mudança de comportamento do Discovery não é brutal – não o torna, nem de perto, em um Range Rover Sport SVR. Preferi privilegiar uma tocada mais suave, já que os utilitários esportivos, em 99,9% dos casos, não inspiram uma condução mais ‘apimentada’. Também é possível trocar as marchas de maneira manual pelas ‘borboletas’ (aletas) atrás do volante. Experimentei algumas vezes apenas para sentir seu funcionamento – que é perfeito, diga-se de passagem -, mas só. Acho paddle shift em SUV, especialmente os que focam o conforto, algo realmente descartável.
A 2.400 METROS DE ALTITUDE
Na segunda perna da viagem, já nos arredores do Parque Nacional de Itatiaia, o comboio de aproximadamente 20 carros encara alguns bons quilômetros em estradas de terra levemente acidentadas – nada radical. Segundo a equipe responsável pelo roteiro do test drive, o objetivo era simular o ambiente off-road que o cliente do Discovery Sport deve encarar, não por falta de capacidade do Land Rover, mas sim por um simples ‘cuidado’ com o ‘brinquedo’ da família.
Assim como os demais modelos da marca, o ‘caçula inglês’ é equipado com sistema de tração Terrain Response. Por meio de toques no seletor loco abaixo dos comandos do ar-condicionado é possível escolher entre cinco modelos de condução: normal, grama/neve/cascalho, lama/sulcos, areia e Eco, que maximiza a economia de combustível – lembrando que há também o recurso start-stop para ampliar o nível de consumo. Todos estes modos atuam de maneira diferente na aceleração e distribuição de torque entre as quatro rodas para melhor explorar a tração 4x4. Diante dos desafios nível 'super easy', em que sequer precisamos desafiar os 25 graus de ataque e 31 graus de saída, o Discovery não apresentou qualquer tipo de dificuldade.
A suspensão independente nas quatro rodas também apresentou comportamento exemplar. Na estrada é firme, sem inclinar a carroceria em curvas acentuadas ou em frenagens mais bruscas. Já longe do asfalto, na terra e nas pedras, o sacolejo foi intenso e em nenhum momento sentimos batidas secas dos amortecedores, mostrando que o curso longo é uma decisão mais que acertada.
Entre os recursos eletrônicos disponíveis, destaque para os auxílios de descida e partida em rapa, controles de tração e estabilidade, freios ABS (antitravamento) com EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem) e EBA (assistente de frenagem de emergência), entre outros.
PASSAGEIRO VIP
O Discovery Sport também trata bem os passageiros. Internamente ele transmite a sensação de espaço além do ideal – o que é um elogio. A terceira fileira de bancos, convenhamos, não é para os grandões – deixe para colocar a criançada lá. A segunda fileira, ao contrário, é muito confortável mesmo para quem tem mais de 1,80 metro de altura. São 4,60 metros de comprimento, sendo 2,74 metros de distância entre os eixos e largura generosa de 2,07 metros. A capacidade de carga, com os bancos da última fileira rebatidos, é de belos 981 litros.
Ali no banco da frente do lado direito aproveitei para fuçar na central multimídia com tela de 8 polegadas sensível ao toque e com tecnologia Dual View, que permite que motorista e passageiro vejam coisas diferentes – enquanto o condutor enxerga as coordenadas do navegador, por exemplo, o passageiro pode estar ajustando o sistema de áudio Meridian – são 16 Alto-falantes (825W) e subwoofer - ou mesmo assistendo uma TV.
A lista de equipamentos de série é completa ainda com ar-condicionado de duas zonas, direção com assistência elétrica, volante multifuncional, teto solar panorâmico, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, controlador e limitador de velocidade, airbags frontais, de cortina e joelho para o motorista e bancos traseiros com pontos de fixação Isofix (exceto banco do meio).
CONCLUSÃO
Confortável, discreto, espaçoso, recheado de equipamentos relevantes – nada de perfumaria barata para encantar os olhos e enganar o bolso -, o Discovery Sport Diesel é sim uma boa opção para o racional abonado. E o melhor: a versão topo avaliada é R$ 21.000 mais cara que a mesma configuração (HSE Luxury), só que a gasolina. Valor que, na minha opinião, vale ser investido para ter uma mecânica mais robusta, que proporciona, de acordo com a própria Land Rover, uma autonomia de até 900 km com um tanque de 65 litros.
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