Ford EcoSport Titanium perdeu o estepe na tampa do porta-malas e passou a adotar pneus run flat. Motor é 1.5 de três cilindros e o câmbio automático
Sabe aquele ator que teve uma carreira meteórica? Apareceu do nada, fez um sucesso estrondoso, mas quando pensou que era ‘o cara’, despencou e nunca mais conseguiu ser protagonista, tendo assim que se contentar com papéis secundários e conviver com um certo ostracismo. Tipo Macaulay Culkin, protagonista dos primeiros filmes da trilogia ‘Esqueceram de Mim’, tá ligado? Então, na minha opinião, este cara, na indústria automobilística brasileira, é o Ford EcoSport. No passado ditou as regras do jogo, foi premiado, mas hoje não passa de um coadjuvante entre os atores do peso que figuram no disputado e badalado segmento dos Utilitários Esportivos Compactos.
A mais recente tentativa do Eco em retomar o estrelato é algo simples, básico e que realmente não vai lhe garantir, nem de perto, uma indicação ao Oscar: abandonar – na versão Titanium Plus 1.5 AT – o estepe na tampa do porta-malas e adotar os pneus run flat, aqueles que são reforçados e não perdem a pressão em caso de furo, permitindo que o motorista rode por cerca de 80 km a uma velocidade máxima de 80 km/h para que o reparo possa ser feito. Junto vem um kit selante – no lugar do estepe (abolindo nesta configuração) –, que quando aplicado no pneu permite ampliar a autonomia para aproximadamente 200 km.
A retirada do estepe da tampa do porta-malas tem dois pontos, basicamente. Sem ordem de importância, mas o primeiro é uma questão de roubo. Se estepe dentro do bagageiro já é alvo da criminalidade, os pendurados do lado de fora são ainda mais vulneráveis. O segundo ponto é estético. Gosto é gosto.
Fato é que o carro está aí, eu tive a oportunidade de testá-lo por cerca de uma semana e a pergunta que você deve estar fazendo é: “vale a compra?” Então vamos respondendo aos poucos...
O EcoSport Titanium parte de R$ 100.980 (3 anos de grantia) e tem como único opcional a cor, com preços que variam de R$ 700 a R$ 1.450. E por este valor a Ford oferece tudo o que o modelo pode oferecer. O destaque fica por conta da boa lista de equipamentos de série com sete airbags (frontais, laterais, tipo cortina e de joelhos para o motorista), controles de tração e estabilidade, freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), ISOFIX, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré e sistema de monitoramento da pressão dos pneus.
Outro item voltado para segurança muito útil é o alerta de veículo no ponto cego do motorista, conhecido como Blis. Na minha análise é fundamental para carros de porte maior, como o EcoSport, em cidades que tem a faixa de rolagem mais estreita e o tráfego constante de motos pelo corredor, caso de São Paulo.
A ressalva na questão segurança fica por conta de os freios serem a disco somente na dianteira. Atrás, o Eco ainda utiliza tambor. Em um carro de mais de R$ 100 mil e com proporções mais avantajadas, como um SUV compacto, freio a disco nas quatro rodas deveria ser de fábrica...
O Eco também é equipado com Assistência de Emergência, que detecta – em caso de colisão – se os airbags foram inflados e o combustível cortado e, automaticamente, entra em contato com o SAMU a partir do smartphone pareado com a central multimídia, solicitando socorro.
E por falar em conectividade, outro ponto que chama a atenção positivamente no EcoSport é a central de infotainment com tela de LCD de 8 polegadas colorida, sensível ao toque e compatível com Android Auto e Apple CarPlay. E o sistema operacional é o Sync 3, que avalio como um dos mais rápidos e intuitivos à disposição no mercado brasileiro ao lado do Discovery Media presente em alguns veículos da Volkswagen.
Controlador de velocidade (popular piloto automático), comando de voz para funções de áudio, telefone e navegação, ar-condicionado digital e automático, direção elétrica, volante multifuncional, teto solar e bancos revestidos em couro são outros equipamentos que agregam valor ao Ford e fazem seu pacote de itens de série muito interessante em relação aos seus concorrentes diretos.
Este, na minha opinião, é o ponto fraco do EcoSport e que o coloca na posição de coadjuvante. Por ser um projeto antigo, o Ford parou no tempo e não acompanhou o crescimento ‘físico’ dos demais players, especialmente Honda HR-V, Nissan Kicks e Hyundai Creta. Hoje, o consumidor de SUV compacto espera um carro grande e espaçoso, que seja compacto mesmo apenas no nome.
Para os ocupantes dos bancos dianteiros há muito conforto e comodidade, mas para os que vão atrás as coisas ficam um pouco mais complicadas. O Ford tem 4,09 metros de comprimento, sendo apenas 2,52 metros de distância entre os eixos. Como forma de comparação, o HR-V, referência em espaço interno, é 20 centímetros maior e conta com entre-eixos 9 centímetros superior.
Dentro do EcoSport a sensação é de estar dentro de um hatch compacto, como o recém-aposentado Fiesta, que tem 3 centímetros a menos de distância entre-eixos. Para pessoas com estatura mediana como eu (1,72 metro), não há problemas com os joelhos rasparem nos bancos dianteiros e nem a cabeça de encostar no teto. O problema é mais para os grandalhões, com mais de 1,80 metro.
O porta-malas acaba devendo, também. Com capacidade para 356 litros – um pouco mais que um hatch médio (Ford Focus tem 316 litros) –, fica muito distante os adversários. O HR-V, por exemplo, oferece 437 litros. E vale colocar como ponto de atenção a maneira com a tampa é aberta – como uma porta normal e não para cima, como a grande maioria. O comando de abertura está ‘camuflado’ na lanterna traseira direita.
Um ponto positivo do EcoSport é a ergonomia. O Ford é um carro muito fácil de se ‘vestir’, como costumo dizer. Naturalmente, a posição ao volante é mais elevada, como deve ser em um SUV compacto. Mesmo assim, o assento do motorista conta com ajuste de altura. Porém, o que faz do modelo fabricado em Camaçari, na Bahia, ser muito agradável é a coluna de direção com regulagens e altura e profundidade.
Os bancos revestidos em couro ecológico acomodam muito o condutor, mesclando muito bem a esportividade – com abas laterais (conhecidas como bananinhas) um pouco maiores para evitar que as costas fiquem deslizando de um lado para o outro em curvas fechadas, por exemplo. A espuma também utilizada é confortável, sendo macia na medida certa para não provocar um cansaço prematuro ao volante em viagens de longa distância.
O EcoSport Titanium não empolga ao volante, mas não te deixa na mão. Equipado com motor 1.5 12V Flex, aspirado e de apenas três cilindros, o Ford entrega 137 cv de potência máxima a 6.500 rpm e torque de 15,6 kgf.m a 4.500 giros, quando abastecido com etanol – não deixe de conferir todas a informações técnicas do Ford EcoSport Titanium no Catálogo 0km Webmotors. Já a transmissão é automática de seis marchas.
O conjunto trabalha bem no dia a dia, entregando saídas e retomadas ‘ok’. Para extrair um pouco mais de performance, entretanto, é preciso abusar um pouco mais do acelerador e fazer com que o motor trabalhe em rotações mais elevadas. Como disse anteriormente, não vai empolgar ao volante, mas vai efetuar ultrapassagens com segurança e subir ladeiras sem dificuldades.
O problema de uma condução mais intensa, vamos dizer assim, fica por conta do consumo de combustível mais elevado e pelo barulho alto do motor que acaba invadindo a cabine. Importante ressaltar que o EcoSport não ‘treme’ muito em baixas rotações, como é comum em motores de três cilindros.
Aliás, de acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem do INMETRO, o EcoSport crava, na cidade, 7,1 km/l com etanol e 10,3 km/l com gasolina. Na estrada os números pulam para 8,6 km/l com álcool e 12,6 km/l com derivado de petróleo. No que se refere a consumo, o Nissan Kicks, com seu motor 1.6 16V Flex e câmbio automático CVT, é uma das referências, cravando no perímetro urbano 7,7 km/l (etanol) e 11,4 km/l (gasolina), e na rodovia 9,4 km/l (etanol) e 13,7 km/l (gasolina).
Deste casamento motor e câmbio, a transmissão é quem faz o trabalho pesado. Com um escalonamento bem feito, a caixa consegue fazer o propulsor trabalhar bem sob sua regência. As trocas, em uma condução suave, são praticamente imperceptíveis. Já quando a ideia é não chegar atrasado ao compromisso, as transições são mais sentidas. E lembrando que o Eco oferece opção de trocas manuais pelas aletas atrás do volante – que são melhores, sem sombra de dúvidas, que aquele botão no topo da manopla, mas em um SUV compacto familiar, convenhamos, também são pouco utilizadas.
A suspensão é muito bem acertada. Aliás, gosto da regulagem da suspensão dos carros da Ford no geral, com personalidade mais para o firme. Na dianteira é independente tipo McPherson e na traseira, eixo de torção. Por ser um SUV, e consequentemente o centro de gravidade ser alto, o Eco inclina pouco tanto em frenagens fortes quanto em curvas fechadas em velocidades mais altas, transmitindo muita segurança para que está ao volante. Também consegue absorver bem as imperfeições do asfalto, sem causar desconforto, mesmo com os pneus run flat, que acabam deixando o carro mais ‘duro’.
Aliás, para receber estes calçados mais resistentes a pregos e parafusos, a Ford recalibrou amortecedores. Um trabalho muito bem realizado.
Pelas seis primeiras revisões (até 60.000 km), que acontecem a cada 12 meses ou 10.000 km rodados – o que acontecer primeiro –, o programa de revisões com preço fixo da Ford cobra R$ 4.598, um valor elevado. A manutenção de 40.000 km, por exemplo, não sai por menos de R$ 1.135. Como forma de co
mparação, o Hyundai Creta na versão topo de linha Prestige com motor 2.0 e câmbio automático cobra, pelas mesmas seis revisões periódicas, R$ 3.128,49, uma diferença significativa de R$ 1.469,51. E se compararmos com o recém-chegado Volkswagen T-Cross, que tem as três primeiras revisões gratuitas, cobra pelas manutenções até 60.000 km 2.129,89, menos que a metade do Ford.
Em termos de seguro, de acordo com cotações realizadas no Autocompara, o valor médio ficou em R$ 2.430 no perfil homem, 35 anos, morador do centro de São Paulo. O preço está na média dos demais concorrentes. HR-V, por exemplo, ficou com custo de R$ 2.490, no mesmo perfil.
Se você está em busca de um SUV compacto por conta de espaço interno, pois leva os filhos para cima e para baixo e encara uma viagem em família com frequência, a resposta é não. Para suas necessidades há modelos mais interessantes com preços similares.
Agora, se o custo-benefício para você é importante e espaço é secundário, pois eventualmente leva mais de duas pessoas, o Ford é sim uma opção a ser considerada, pois entrega uma lista de itens de série muito interessante e superior a muitos de seus adversários nesta mesma faixa de preço.
As únicas certezas absolutas são que tirar o estepe da tampa do porta-malas e adotar pneus run flat não eliminam o fato de o EcoSport necessitar de um projeto completamente novo para voltar a ser protagonista e voltar a competir de igual para igual com as principais estrelas entre os SUVs compactos vendidos hoje no Brasil.
FORD - ECOSPORT - 2020 |
1.5 TI-VCT FLEX TITANIUM AUTOMÁTICO |
R$ 97890 |
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