Vivemos em um cenário quase apocalíptico, onde é praticamente impossível cruzar a cidade sem gastar pelo menos uma hora. A não ser que você esteja em uma motocicleta ágil, preferencialmente leve e compacta, para fluir como água entre os congestionamentos que quase parecem estacionamentos de carros, caminhões e ônibus em plenas ruas e avenidas.
Para qualquer pessoa que tem orçamento baixo e quer parar de gastar horas de vida para ir e vir ao trabalho no ainda precário sistema de transporte público, as motos de baixa cilindrada como a Honda Bros 160 podem ser a solução.
Estamos em 2023 e, nesse ano, a menor e mais acessível moto trail da Honda do Brasil até esse momento é a Bros, que completou 20 anos. A estreia da Bros foi em 2003. Desde então, teve motores 125, 150 e, desde 2014, usa o motor 160.
A moto também ganhou freio a disco traseiro e, em 2018, o sistema de freio combinado (CBS). Na linha 2022, veio a mais recente atualização - com novas carenagens e protetores nas bengalas da suspensão dianteira. Muitas destas evoluções vieram da Honda CG.
Segundo dados da Fenabrave, em 2022 foram emplacadas 142.513 unidades da Bros 160, contra 26.454 unidades da Yamaha XTZ 150 Crosser – somando as duas versões do modelo. Dividindo os totais, temos vendas de aproximadamente cinco Bros para cada Crosser. Sim, é muita moto. E a Bros caminha para a marca de 3 milhões de unidades vendidas desde 2003.
A unidade avaliada já é modelo 2024. É idêntica aos modelos 2022 e 2023, com mudanças apenas em cores, grafismos e no banco, que agora também é colorido. Quem anda de moto há décadas deve lembrar que houve uma época em que as motos trail eram bem mais coloridas, e isso incluía os assentos.
Mas o que a Bros 160 tem? A trail da Honda é uma moto focada em ser simples, mas bem funcional. Tem farol com lâmpada halógena de 35 Watts, que faz bom trabalho no ver e ser visto na pilotagem noturna - mérito do globo óptico, pois normalmente motos com essas lâmpadas não iluminam bem.
O painel é simples, mas todo digital e com velocímetro grande, hodômetros total e parcial, relógio e indicador de nível de combustível. O mínimo necessário.
O motor é o conhecido monocilíndrico refrigerado a ar, de 162,7 cm³. É flex, então usa gasolina, etanol ou qualquer mistura dos dois combustíveis. Com gasolina, a potência máxima é de 14,5 cv e o torque fica em 1,46 kgf.m. Para uma motocicleta com peso seco declarado de 122 quilos – estimados 130,6 quilos em ordem de marcha – é uma relação peso-potência de 9 kg/cv.
O câmbio tem cinco marchas, com secundária por corrente. Aqui, nada de embreagem deslizante ou assistida, nem nada - nem precisava: como é um motor pequeno, o acionamento da manete é bem leve. Pode andar o dia todo que não vai te incomodar o punho. Os engates são precisos como em toda moto Honda.
A ciclística da Pros proporciona conforto independentemente de quantos buracos surjam no seu caminho – como em quase toda moto trail. Tem aro de 19 polegadas na frente e de 17 polegadas atrás. A escolha do aro 19 em vez de um aro 21 e 18 na traseira tem lógica: oferece bom equilíbrio entre agilidade nas mudanças de direção, algum conforto e melhor comportamento em terrenos irregulares.
A Bros usa rodas raiadas com pneus Pirelli MT60, com câmara de ar. Como em toda trail, os pneus são mistos e têm boa aderência em quaisquer terrenos. Isso se converte em mais segurança para o motociclista.
Nas suspensões, a moto tem garfos telescópicos convencionas na frente, sem ajustes e com 18 cm de curso. Atrás, é monochoque sem ajustes e fixado direto na balança, sem link.
O acerto da suspensão traseira na Bros 160 trouxe bom equilíbrio em diferentes usos: oferece firmeza necessária para andar com garupa entre os carros na cidade, com boa sensação de controle, e sem comprometer o bom comportamento da moto quando acaba o asfalto e passamos por pisos bem irregulares.
Os freios são a disco nas duas rodas, com sistema de ação combinada, o CBS. Para quem não sabe, explicamos como funciona: ao acionar somente o pedal do freio traseiro, parte dessa força vai para o freio dianteiro, proporcionalmente até chegar em 100% do uso do freio traseiro e até 30% do freio dianteiro.
Mas para que serve isso? Para garantir que, em caso de frenagem errada o CBS ajuda a corrigir a frenagem acionando proporcionalmente o freio dianteiro mesmo sem o uso da manete e garantindo mais estabilidade na frenagem e consequentemente mais segurança para o motociclista.
Normalmente isso acontece quando o condutor só usa o freio traseiro, por medo de capotar a moto se usar apenas o freio dianteiro. Vale ressaltar que o freio CBS não evita o travamento das rodas como o sistema antitravamento, o ABS.
Por isso, o CBS divide opiniões. Existem relatos de proprietários de motos com freio CBS que desativam o sistema assistido deixando a moto sem assistência nenhuma. Mas penso que, se o condutor da moto entender como o sistema trabalha e se adaptar a isso na sua pilotagem, é possível rodar normalmente na cidade e na estrada com o CBS. Eu andei bastante com a Bros, recalibrei meus hábitos e me acostumei com o comportamento do CBS nas frenagens.
Além do CBS, outro ponto que também divide opiniões na Bros são os flexíveis de freio que passam sobre o painel. Na prática não atrapalha em nada a pilotagem, pois não cobrem em nenhum momento a visualização do painel
A Honda afirma que os flexíveis precisam passar por cima para ter maior curso e permitir que mesmo em situações onde se está usando mais do curso da suspensão dianteira – provavelmente no fora de estrada – haverá interferência na eficiência do freio dianteiro.
Se isso traz mais segurança, vejo como positivo. Mas o fato é que o sistema de freios da Bros é bem calibrado. Tanto o dianteiro como o traseiro têm bom tato e, quando dosados com mais intensidade, garantem boas frenagens. Me passaram confiança para andar da forma que eu quisesse, sem sustos.
Os pneus Pirelli MT60, por sua vez, fazem bem seu papel. É difícil travar a roda da Bros em uma frenagem, a não ser que eu deliberadamente force para provocar isso. Mas pilotando na congestionada São Paulo e na estrada mesmo sendo fechado por outros veículos não travei as rodas. Isso significa para mim que a moto passa segurança.
Na cidade, a agilidade da moto surpreende. É leve e estreita o suficiente para passar entre os carros mesmo em espaços reduzidos. O motor responde bem às retomadas e quem se distrair colecionará umas multas por excesso de velocidade, pois na aceleração ela chega até 80 km/h com certa rapidez e, num segundo momento, com mais espaço, atinge em torno de 105 km/h. Mais que o dobro do limite normal dentro das cidades.
Indo para a estrada, a moto chega no limite de 120 km/h - mas precisa pegar algum embalo. Se aproveitar as descidas, é possível chegar no limite de velocidade máxima em quinta marcha, de 133 km/h.
É bom evitar a rodagem próxima a veículos grandes. Como é leve, a Bros é vulnerável a ventos e rajadas, o que pode assustar o piloto. Não sobra motor para ultrapassar qualquer veículo a qualquer hora, então é preciso adotar uma pilotagem defensiva para ter a segurança necessária.Quando acaba o asfalto e começa o piso irregular, a Bros também vai bem. Sobe, desce, passa em areia, lama e segue como se nada tivesse acontecido. Mais uma vez é importante entender como funcionam os freios com CBS para extrair o melhor deles nesse uso.
Diferentemente da CG 160, a Bros 160 não tem botão lampejador do farol alto no punho esquerdo. Além disso, os botões da buzina e da seta são invertidos na Bros, em comparação aos de outras motos. Isso gera alguma confusão nos primeiros quilômetros - você buzina quando quer ligar a seta e vice-versa. mas logo se acostuma.
O banco em dois níveis não é muito alto, mas notei que tem menos espuma quando comparado ao da CG 160. Graças ao uso da roda dianteira maior e do curso mais longo nas suspensões, a Bros acaba proporcionando uma experiência de pilotagem mais confortável a quem a escolhe.
Nesse período de teste, exploramos os limites da moto na estrada, na cidade e no fora de estrada. A média de consumo com gasolina foi de 34,2 km/l – com o tanque de 12 litros, a autonomia supera bons 400 quilômetros de autonomia. Quem andar mais tranquilo certamente chegará nos 40 km/l.
No site da Honda, o preço público sugerido da Bros 160 é R$ 18.686 com frete não incluso. Mas consultei uma concessionária Honda na capital paulista e o valor, com frete, chegava a R$ 20.514. Hoje, se eu tivesse que escolher entre CG 160 e Bros 160, escolheria a Bros.
A trail tem freio traseiro melhor, roda dianteira maior, pneus mistos e suspensões de longo curso, que permitem rodar muito sem se incomodar com a buraqueira das ruas. A pilotagem é muito fácil, tranquila e a Bros pode ser a primeira moto de quem quer entrar no mundo das motos por oferecer um conjunto simples, mas muito funcional e que com baixo custo de manutenção.
A Bros cumpre o que promete: te leva do ponto "A" ao ponto "B" com algum conforto, ignorando a maioria dos buracos e cobrando pouco em troca. Oferece uma pilotagem prazerosa e tranquila, com a opção extra de ir para mais perto da natureza sem precisar de nenhuma adaptação ou mudança no projeto original.
Quem quer uma moto mais completa pode subir um degrau e pegar uma XRE 190. O modelo tem a mesma base mecânica da Bros 160, mas com motor mais potente, freio ABS na roda dianteira, painel mais completo e visual mais requintado. Mas, pelo que vemos, para a maioria dos compradores menos ainda é mais - e a Bros é uma prova disso.
Preço: R$ 18.686 (sem frete)
Motor: monocilíndrico, flex, comando simples no cabeçote, duas válvulas, refrigerado a ar, 162,7 cm³, potência de 14,5 cv a 8.500 rpm (gasolina) e 14,7 cv a 8500 rpm (etanol), e torque de 1,4 kgf.m a 5.500 rpm (gasolina) 1,6 kgf.m a 5500 rpm (etanol)
Transmissão: câmbio de cinco marchas com secundária por corrente
Suspensões: dianteira com garfo telescópico sem ajustes e 18 cm de curso, e traseira monochoque sem link, sem ajustes com curso de 15 cm
Freios: a disco nas duas rodas, com CBS
Pneus: Pirelli MT60 diagonal com câmara, nas medidas 90/90 R19 na frente e 110/90 R17 atrás
Dimensões e peso: 2,07 m de comprimento, 1,36 m de entre-eixos, 81 cm de largura, 1,15 m de altura, 24,7 cm de altura livre do solo, altura do banco de 83,6 cm e 122 quilos de peso seco.
Tanque: 12 litros (reserva de 2,9 litros)