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JAC T80 impressiona, mas precisa ir além

No meio de marcas fortes, JAC T80 aposta em excelente espaço e bom custo-benefício. Mas será que só isso basta?

por Marcelo Monegato

Enquanto frango xadrez e rolinho primavera rapidamente caíram no gosto dos brasileiros, as ‘carangas’ chinesas ainda não fazem os nossos motoristas salivarem. Porém, enquanto o cardápio automotivo asiático cresce de maneira acelerada, alguns pratos acabam ganhando destaque. Este é o caso do JAC T80, que chegou custando algo em torno de R$ 140 mil e hoje já passa dos R$ 150 mil em sua versão completa. Então, caso queira conhecer em detalhes esta iguaria chinesa, faça o seguinte: escolha um dos sete lugares e bora rodar!

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O T80 (motor 2.0 Turbo e câmbio automático) é um dos maiores SUVs de marcas chinesas à venda no Brasil. Digo um dos maiores, pois, apesar de você não lembrar – eu mesmo tinha esquecido completamente –, a Lifan comercializa o X80 (R$ 132.777), que é, na realidade, o rival direto deste JAC. Volkswagen Tiguan Allspace, Chevrolet Equinox e Mitsubishi Outlander, e até mesmo o Jeep Compass, entram na briga inevitavelmente por conta de porte e preço.

Logo de cara, o que chama a atenção no T80 é o porte. O bicho é grande, com 4,79 metros de comprimento, 1,90 metro de largura e 1,76 metro de altura. A distância entre os eixos é de 2,75 metros. Para se ter uma ideia, é 5 centímetros maior que o entre-eixos de um Corolla. Resultado disso é um espaço interno excelente para motorista e passageiro do banco dianteiro e a galera (três pessoas) que viaja na segunda fileira. Aliás, espaço é, sem sombra de dúvidas, a principal qualidade deste ‘SUVão’.

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O ‘porém’ fica para a última fileira de assentos. Escamoteados no porta-malas, os dois ‘banquinhos’ parecem ter sido projetados para abrigar apenas crianças. Com mais de 1,60 metro de altura só sendo contorcionista para ficar à vontade lá atrás. Por isso, em caso de viagens longas com ‘crianças encapetadas’, aqui fica uma dica: coloque-as no fundão, assim o passeio será mais calmo. E pode ficar tranquilo, pois assim como para todos os outros ocupantes, na terceira fileira tem cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça.

Ainda falando de espaço, mas agora com relação ao porta-malas, a capacidade de carga do T80 configurado para cinco pessoas é de 620 litros. Realmente muito espaçoso. Com os assentos da terceira fileira montados, a capacidade despenca para 150 litros.

E RODANDO?

Ao volante, o JAC é um carro que não empolga. Suas reações são típicas de um SUV grande que tem como meta levar as pessoas de um ponto A a um ponto B com conforto e segurança, e não da maneira mais rápida possível. O motor é um 2.0 Turbo de quatro cilindros (sem injeção direta de combustível), somente a gasolina, que desenvolve 210 cv de potência máxima a 5.000 rpm e torque de 30,6 kgf.m entre 1.800 e 4.000 rotações. E a transmissão é automatizada de dupla embreagem (DCT) e seis marchas.

O conceito do conjunto mecânico e os números empolgam, mas na prática as coisas são...morosas. E isso por conta do comportamento do câmbio, que tem trocas suaves, mas demora um pouco para entender o que o motorista quer. Aquela redução brusca de marcha para entregar torque e potência para uma ultrapassagem, por exemplo, não é imediata. Em algumas subidas, a caixa oscila as marchas, mostrando indecisão.
Uma sugestão é rodar com a transmissão do T80 na posição ‘S’ (Sport). Particularmente me adaptei melhor, pois o acelerador fica mais sensível e as respostas de motor e câmbio ficam mais rápidas. O consumo de combustível, no entanto, acaba sacrificado. De acordo com a montadora, os números de consumo são de 6 km/l na cidade e 10 km/l na estrada. Eu consegui trabalhar na casa dos 6,5 km/l no perímetro urbano (ar-condicionado ligado e trânsito em São Paulo carregado) e na rodovia superei os 10,6 km/l na rodovia.

Existe a possibilidade de trocas manuais pela manopla, no entanto o JAC não oferece aletas atrás do volante (paddle Shift). Mais uma prova que o compromisso dos engenheiros da marca chinesa não é com a esportividade, e sim com o conforto e a comodidade.
A suspensão é independente nas quatro rodas – McPherson na dianteira e multilink na traseira –, mas o acerto é focado no macio. Absorve bem a buraqueira, mas quando em velocidades mais elevadas é possível sentir o deslocamento da carroceria, rolando um pouco de um lado para o outro. Não transmite a sensação de insegurança ao motorista – longe disso –, mas acaba incomodando um pouco, principalmente em vias com sequências de curvas mais acentuadas. Entendo que o centro de gravidade é alto e que o ‘bichão’ pesa mais de 1.700 kg, mas um pouco mais de rigidez poderia deixar o T80 mais interessante ao volante.

Uma ressalva importante é com relação à falta de ajuste de profundidade da coluna de direção. Em que tenho 1,72 metro de altura consegui encontrar uma posição agradável ao volante, mas pessoas com mais de 1,80 metro podem sentir o volante mais próximo das pernas, em uma posição desconfortável.

CUSTO-BENEFÍCIO OK, MAS...

Uma tradição dos carros chineses no Brasil para ganhar mercado é apostar pesado no custo-benefício. Preço competitivo – normalmente mais baixo que a concorrência – e uma lista de equipamentos de série recheada. O JAC T80 não foge disso. Por iniciais R$ 144.990, o SUV vem equipado com seis airbags (frontais, laterais e de cortina), ISOFIX, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera traseira, câmera 360°, ar-condicionado de duas zonas, bancos dianteiros com aquecimento e também ventilação, ajustes elétricos com função massagem para o assento do motorista, freio de estacionamento eletrônico, controles de tração e estabilidade, auxílio de partida em rampa, freios com ABS (antitravamento), rodas de liga leve de 18 polegadas, controlador e limitador de velocidade.

Os únicos opcionais são teto solar panorâmico e sistema de som Infinity de 280 Watts de potência e 10 alto-falantes, que sai por 6.990. A unidade testada estava com este opcional, ou seja, custa R$ 151.980.
Ponto positivo para a central multimídia com tela de 10 polegadas sensível ao toque e colorida, compatível com Android Auto e Apple CarPlay – confesso, no entanto, que não consegui acessar a função com meu smartphone (não sei se por problemas com a unidade, com meu aparelho celular ou mesmo comigo...rs).

Outro ponto de destaque é o painel de instrumentos todo em LCD. Tela de 12,3 polegadas (colorida) que permite o motorista – com o carro parado – escolher entre três configurações. E dentro destas configurações, o motorista pode escolher quais informações do computador de bordo quer visualizar. Pode ser dados sobre o rádio, de consumo médio ou até mesmo a pressão dos pneus. Tudo feito pelo volante multifuncional.
Não dá para negar que o JAC é completo. No entanto, em um segmento que o status as vezes fala mais alto que o tal custo-benefício, o T80 deveria ter ido além. E a aposta mais certeira seria investir em tecnologias voltadas para segurança e recursos de direção autônoma. Estou falando de um alerta de saída de faixa, de fadiga ou mesmo um simples alerta de veículo no ponto cego do veículo. Também poderia ter um assistente de estacionamento, controle de cruzeiro adaptativo e até mesmo sistema de frenagem de emergência autônoma. Estes equipamentos, sim, poderiam agregar um peso extra ao SUV chinês...

CUSTOS

A JAC oferece seis anos de garantia para o T80. Em termos de custos, o seguro médio cotado no AutoCompara, a média da apólice foi de R$ 4.995, sendo mais em conta no valor de R$ 3.172. Já o valor médio da franquia ficou em altos R$ 13.080, mas a mais baixa sai no valor de R$ 6.820. O perfil é homem, entre 35 e 45 anos, morador de São Paulo.
Com relação às revisões, as seis primeiras – que acontecem a cada 12 meses ou 10.000 km, aquilo que acontecer primeiro – custam R$ 4.094.

VALE A COMPRA?

O T80 chega não podendo criar muitas expectativas. Custando entre R$ 145 mil e R$ 152 mil, seus adversários entregam algo que a JAC, aqui no Brasil, ainda não dispõe: status de marca premium. Tem um excelente espaço interno, oferece opção de sete lugares, lista de equipamentos ok e conjunto mecânico que atende às necessidades, sem arrancar elogios. Mas, para fazer barulho e incomodar mesmo que minimamente, o JAC T80 precisa ir muito além dos modelos de fabricantes consolidadas por aqui. Estou falando de Jeep, Volkswagen, Mitsubishi e Chevrolet, basicamente.
Investir em tecnologias voltadas para equipamentos de segurança e direção autônoma, na minha opinião, pode ser uma estratégia interessante para o grandalhão de olhos puxados ganhar mais destaque. E um ponto extremamente importante: conquistar o cliente pelo pós-venda, com um serviço eficiente e com custo baixo. Mais baixo que dos concorrentes diretos. Agora, respondendo se vale a compra, entendo que não, principalmente pela concorrência ter produtos bons nesta faixa de preço e um serviço pós-venda mais consolidado.

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