Lifan X60: Custo-beneficio apenas não basta

Conjunto mecânico e acabamento necessitam de (boas) melhorias


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Assim como as japonesas e sul-coreanas aprenderam, as marcas chinesas um dia aprenderão a construir carros ao gosto do consumidor brasileiro. Tenho convicção disso. Reconheço que ainda estão (bem) distantes, mas uma evolução em relação aos primeiros modelos que por aqui chegaram é nítida – quem não se lembra daquela coisa horrível que era o Effa100? Um exemplo de que as coisas estão paulatinamente caminhando é o novo Lifan X60, modelo de uma montadora chinesa mais vendido por aqui e que tive a missão de avaliar.

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Feio não é, mas está longe de ser arrebatador – aliás, qual carro chinês tem o poder da sedução? Nenhum! A nova grade frontal com barras horizontais ao melhor estilo Buick conseguiu dar certo frescor ao SUV, que mexeu pouquíssimo nos faróis e no para-choque. A traseira também recebeu um tapa ‘semi-imperceptível’, com uma leve alteração no grafismo das lanternas. Ponto positivo para as belas rodas de liga leve de 18 polegadas (pneus 225/60 R18) oferecidas na configuração VIP, que custa R$ 63.990 – 5 anos de garantia.

Se a beleza não impressiona, o porte, sim. O Lifan entrega um bom espaço interno com seus 4,32 metros de comprimento, sendo 2,60 metros de distância entre os eixos – chega a ser 8 centímetros maior que o Ford EcoSport, por exemplo. Ponto positivo também para o espaço do porta-malas, com 405 litros – somente 32 litros menor que o do Honda HR-V, referência do segmento neste item. E por dentro, o X60 consegue transmitir esta sensação, muito por conta da grande área envidraçada.

A primeira decepção mais forte do Lifan, que é montado no Uruguai, é o acabamento. É nítido que as peças utilizam materiais de qualidade inferior aos dos concorrentes. Os plásticos, por exemplo, transmitem sensação de serem frágeis – especialmente os em tom cinza no volante e no painel das portas. Os encaixes também poderiam ser mais precisos e o design dos comandos mais modernos – os botões que controlam o ar-condicionado, por exemplo, lembram de veículos de segmentos de entrada.

 A posição de dirigir é ok. Alta. Típica de um SUV. No entanto, leva-se um tempo para se acomodar por conta da falta de um ajuste de profundidade da coluna de direção. O volante é multifuncional e tem empunhadura agradável. Já o painel de instrumentos tem velocímetro digital e conta-giros analógico. Nada de especial, mas ficou devendo um computador de bordo com leitura de consumo de combustível, por exemplo.

RODANDO

Aprendi a nunca esperar muito de um SUV. Poucos desta categoria, aliás, conseguem atingir o emocional do motorista pelo prazer que entrega. São racionais. Foram pensados para isso. E neste ponto, o X60 é igual à grande maioria: insosso.

Seu motor 1.8 16V de quatro cilindros a gasolina é baseado no velho propulsor do Toyota Corolla, entregando 128 cv de potência e 6.000 rpm. Seu torque máximo de 16,8 kgf.m entregues a medianas 4.200 rotações é pouco para quem pesa 1.330 quilos.

Mas esta certa ‘saúde debilitada’ não é culpa apenas do propulsor – que poderia ser mais moderno -, mas também do escalonamento das marchas do câmbio manual de cinco velocidades, que teve, com o novo X60, a 1ª e a 5ª encurtadas. Não foram poucas as vezes que em subidas mais íngremes fui obrigado a chamar uma ‘primeirinha’ para conseguir chegar até o topo.

Os engates melhoraram um pouco, mas ainda estão longe de serem precisos. É preciso um refinamento. Os ruídos tiveram leve redução, mas ainda incomodam um pouco. E pensando neste comportamento absolutamente comum, não dá para deixar de pensar na necessidade de a Lifan trazer, assim que possível, uma opção de câmbio automático. Neste segmento, este tipo de transmissão é fundamental por um único motivo: vendas!

O nível de barulho interno suavizou – da primeira geração era realmente um dos pontos que deveria ser melhorado com urgência. E isso se deve não apenas ao melhor isolamento, mas ao retrabalho da suspensão, que está mais silenciosa. Poderia, no entanto, ser um pouco mais firme para abrandar a inclinação da carroceria nas curvas e frenagens.

RECHEADO

É uma prática comum das marcas chinesas desde que aportaram por aqui: rechear de equipamentos seus modelos a preços atraentes. O Lifan não foge disso e, aliás, cumpre com louvor esta tarefa. Por R$ 63.990 o X60 entrega bancos revestidos em couro, teto solar, central multimídia com tela de 7 polegadas sensível ao toque e com navegação por GPS, conexão Bluetooth, entradas USB e SD card, vidros e travas elétricas, direção hidráulica, ar-condicionado, sensor de estacionamento traseiro e câmera de ré. Em termos de segurança estão disponíveis airbag duplo frontal, freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), e Isofix (sistema de fixação de cadeirinha para crianças).

CONCLUSÃO

O Lifan X60 evoluiu. É um SUV melhor do que era. No entanto, é preciso ir além para se equiparar aos concorrentes – apelar para um custo-benefício extremamente agressivo não pode ser a única arma de convencimento. O acabamento interno, por exemplo, precisa de materiais que transmitam maior sensação de qualidade (entenda durabilidade) e requinte. Já o conjunto mecânico tem que adotar um motor mais moderno (bicombustível, por exemplo) e uma transmissão manual melhor calibrada – câmbio automático, pensando em vendas neste segmento, é fundamental.

Com essas melhorias, quem sabe, o pé atrás que o brasileiro tem com os carros chineses comecem a mudar.

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