Este não é um texto comum. Muito menos texto com enfoque jornalístico, embora haja fragmentos de notícia a seguir. Reportaremos nessa matéria informações sobre a chegada do McLaren 750S ao país - e nossas impressões na pista com o superesportivo, acelerado no último dia 06/03/2024.
Assim sendo, por uma única vez nestes meus 16 anos de carreira na área automotiva, não me peça qualquer lampejo de imparcialidade ou até razão. Vou descrever o que vi, vivi e senti, sem medo de despejar qualquer tipo de vislumbre ou frase emocional. O dia 06/03/2024 será eterno na minha vida.
Vamos ao carro, de forma resumida: recém-chegado ao Brasil, importado pela UK Motors - a mesma empresa responsável por trazer carros da Aston Martin - o McLaren 750S é sucessor do 720S e, desde a virada do ano, pode ocupar sua garagem por algo próximo a R$ 4 milhões na versão cupê e R$ 4,2 milhões na variante conversível (Spider).
Os preços não são exatos porque os carros são quase que inteiramente personalizáveis e porque a taxa de câmbio pode variar um dia após o outro. Hoje, o carro que aceleramos custa R$ 4 milhões.
O "carro" em questão é o cupê com esse desenho maravilhoso que você pode ver nas imagens. Na cor laranja e do jeito que está montada, essa unidade pertence à UK Motors, empresa formada pela união dos controladores do Grupo Eurobike e da Stuttgart Porsche. A loja fica no Itaim, em São Paulo.
Agora, anote aí os dados: motor V8 4.0 biturbo, 750 cv, 81,9 kgf.m de torque e câmbio automatizado de sete marchas, com tração traseira e distribuição de peso considerada "perfeita", nas palavras da McLaren.
Vale notar que o motor é central-traseiro - e que, portanto, o trabalho para manter a distribuição de peso em 50/50 foi obra refinada de uma equipe de engenharia.
Agora saca só os números oficiais: zero a 100 km/h em 2,8 segundos; zero a 200 km/h em 7,2 segundos e velocidade máxima de 332 km/h.
A métrica é tão alta que o número mais importante no site da UK Motors não é nem o zero a 100 km/h, e sim o zero a 200 km/h.
Entre rivais - e aqui falamos principalmente de Ferrari 296 GTB e Lamborghini Huracán Performante -, o McLaren 750S é o mais rápido. E certamente, também, um dos mais viscerais.
Visualmente, traz muito da atual filosofia de design dos demais carros da marca. É cheio de vincos com muita personalidade e de entradas de ar estrategicamente encaixadas para resfriar as zonas que ficam mais quentes - como os sistemas de freio presos nas rodas.
Um filete de LED em cada peça de farol e lanterna resume os sinais que o superesportivo precisa dar a quem - normalmente - está atrás.
As belíssimas rodas são de 19 polegadas na frente e de 20 polegadas atrás, sendo que os pneus têm as seguintes dimensões: dianteiros 245/32 R19 e traseiros 305/30 R20.
Por dentro, simplicidade é o segredo: um volante com manettinos próximos resume absolutamente tudo o que o motorista precisa ter à mão. Também há comandos para o ar-condicionado e uma tela multimídia pequena para os padrões automotivos atuais, com foco no que o carro é capaz de fazer - portanto sem qualquer feature como CarPlay, Android Auto nem nada do tipo.
Tem até um modo próprio para drift que ajusta a intensidade do quanto o carro pode - ou deve - escorregar de traseira. Animal, né?
As portas se levantam - assim como em todo McLaren, elas se abrem ao estilo "tesoura".
Entro no carro, o que já não é fácil pela altura do assento, do próprio 750S e até pelo meu tamanho (tenho 1,80 m e peso 93 quilos). Quem é maior que eu certamente vai precisar fazer alongamento.
Ajusto banco, retrovisores e posição do volante. Victor é o instrutor e está ao meu lado. Piso no freio e aperto o botão de partida - que fica próximo aos seletores do câmbio, na coluna central do painel.
Nada acontece.
Victor me orienta: "Pisa mais forte no freio. Aqui o negócio é raiz".
O McLaren 750S não tem qualquer tipo de hibridização ou equipamento voltado à sustentabilidade. Seu foco é entregar potência, diversão e exclusividade ao comprador.
Piso no freio com força e o motor liga atrás de mim. Um pouco de razão toma conta: não é o ronco mais lindo que já ouvi, até porque já pude sentir de perto Lexus LFA, Porsche Carrera GT e Ferrari 812 Superfast - possivelmente os três roncos mais incríveis que já presenciei.
Mas o ronco do McLaren 750S é insano também. É áspero, alto e grave, como um legítimo V8. Acerto o câmbio e saio rumo à pista do Circuito das Américas, em Elias Fausto (SP).
São três voltas, sendo que a primeira é de reconhecimento e a última de resfriamento - portanto é na segunda que o "bicho pega".
Três voltas absurdas. Os dez minutos mais incríveis da carreira desse humilde escriba.
Agora vem o deslumbre: essa máquina foi, de longe, o veículo mais insano que já tive a oportunidade de guiar em toda minha vida. Foi também a mais potente, com seus 750 cv, e a mais equilibrada.
Equilibrada no seguinte sentido: foi o carro que mais fez curva, freou com mais precisão e reacelerou com voracidade que já pude tocar. Já dirigi carro mais rápido e até carro com mais torque. Mas não tão preciso quanto esse McLaren.
Assim como quando falamos sobre jogadores de futebol, para quem gosta, o McLaren 750S não é e nem será o carro mais forte, mais caro e/ou mais rápido disponível no mercado. Não, não é o Pelé.
Mas é, sem dúvida, um dos melhores e mais equilibrados nos aspectos que oferece dentro do que se propõe a fazer.
Tocar esse V8 em uma pista só para você é uma oportunidade única que precisa ser aproveitada - e que foi exatamente o que eu fiz.
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