Tem que respeitar. Afinal, foram 27 anos como carro mais vendido do País! O Volkswagen Gol é um daqueles carros que merecem ter um capítulo exclusivo na história da indústria automobilística brasileira. E agora, após amargar alguns anos de ostracismo, esquecido por parte de seus consumidores que hoje atacam de Chevrolet Onix, Ford Ka e Hyundai HB20, tenta voltar a ser protagonista apostando em algo que todos os que acabei de citar já oferecem: câmbio automático ‘de verdade’, partindo de R$ 54.580.
Isso mesmo, o Gol 2019 agora passa a ser oferecido com transmissão automática de seis marchas (com conversor de torque), aposentando de vez – felizmente – aquela caixa automatizada de embreagem única, lenta e muito desconfortável, chamada I-Motion. Antes tarde do que nunca! #RIP.Imotion
Para casar com este câmbio, a Volks apostou no motor 1.6 MSI (de quatro cilindros, bicombustível, 16 válvulas, injeção multiponto e comando duplo de válvula – variação na admissão). Apesar de não tão antigo como o de 1.6 8V, que continua sendo oferecido para na configuração com câmbio manual de cinco marchas, este bloco já é conhecido, equipando alguns modelos da marca, como os moderninhos Polo e Virtus, entre outros.
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Em números, são 120 cv de potência e 16,8 kgf.m de torque. E como um típico 16V, este MSI gosta mesmo é de trabalhar em médias e altas rotações. Prova disso é a força, o torque, que fica 100% à disposição somente a 4.000 rpm. A potência, por sua vez, surge plena a 5.750 giros. De acordo com a própria fabricante, a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 10,1 segundos (nada mal diante dos adversários) e a velocidade máxima é de 185 km/h – sempre com etanol no tanque de combustível.
No dia a dia, porém, o que posso dizer é que o Gol automático é um carro mais focado no conforto e na tentativa de ser o mais eficiente possível – entenda, o mais econômico possível. A transmissão trabalha de maneira suave, buscando realizar as mudanças de marchas em rotações mais baixas. As acelerações não são tão vigorosas, mas como trabalha melhor em rotações pra lá de 4.000, as retomadas são mais intensas.
Tanto que o Gol ‘automático real’, segundo a VW, faz, na cidade, 7,7 km/l com etanol e 11,1 km/l com gasolina. Já na estrada, os números oficiais são de 9,6 km/l (e) e 13,6 km/l (g). No entanto, nos testes que fiz durante a avaliação utilizando o leitor do computador de bordo do próprio veículos, no perímetro urbano, com álcool, batemos acima dos 8,3 km/l e na estrada conseguimos beliscar os 14 km/l. É preciso salientar que neste ponto, a transmissão tem muita responsabilidade, já que a 6ª marcha funciona como um excelente Overdrive e mesmo rodando a 120 km/h, o motor trabalha beliscando os 2.500 giros, apenas.
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A parte ‘emoção’ do veterano está na possibilidade de executar as mudanças de marcha por meio de aletas atrás do volante, algo que rivais de peso como Onix e Ka não oferecem – Chevrolet e Ford trabalham com a possibilidade de trocas manuais por meio de um botão do lado esquerdo da manopla, algo extremamente desconfortável. O Gol também tem opção de mudanças de marchas pela alavanca, jogando a alavanca para o lado direito – empurrando a manopla as marchas sobem e puxando, descem (ao contrário do que acontece com os carros de competição).
A suspensão (independente tipo McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira) manteve a mesma filosofia Volkswagen de ser: firme na medida certa, com capacidade para absorver as imperfeições do asfalto e de não deixar a carroceria inclinar demais em curvas fortes e frenagens bruscas. Aliás, o Gol trabalha com freios a disco na frente e tambor, atrás – nada de diferente em relação à concorrência. Sistema ABS (antitravamento das rodas) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem) são itens de série e estão lá! Os controles de tração e estabilidade, por sua vez, não são oferecidos sequer como opcionais – tecnologias que já estão presentes na configuração topo de linha do Ka.
O Gol automático é vendido em versão única e parte de R$ 54.890. Por este valor, o Volkswagen traz direção hidráulica – mais pesada que a com assistência elétrica, utilizada pela grande maioria de seus adversários –, ar-condicionado, airbag duplo frontal (como determina a lei) e vidros elétricos para as portas dianteiras. No entanto, por R$ 3.000 é possível adquirir o pacote Urban Completo, que agrega itens de tecnologia, conforto e estética. Entre eles estão: rodas de liga leve de 15 polegadas, alarme, chave canivete com controle remoto, retrovisores e maçanetas pintados na cor do veículo, grade dianteira pintada em preto ninja, retrovisores externos com ajustes elétricos e função ‘tilt down’ (ao engatar a marcha ré, o espelho retrovisor do lado direito rebate para mostrar a guia) e setas integradas, sensor de estacionamento traseiros, vidros traseiros elétricos também nas portas traseiras, abertura elétrica da tampa traseira com controle remoto, para-sol com espelho iluminado, faróis de dupla parábola, faróis de neblina, lanternas traseiras escurecidas, luzes de leitura dianteiras e traseiras, alças de segurança no teto e coluna de direção com ajuste de altura e distância. Ufa...
Deste pacote, meu destaque fica para dois itens realmente que fazem a diferença no dia a dia: o sensor de estacionamento traseiro e, principalmente, a coluna de direção com ajustes de altura e profundidade. Este tipo de regulagem é importantíssima para ‘vestir’ bem o carro. Porém, não posso deixar passar, o incômodo ajuste de altura do banco do motorista, que, na verdade, funciona inclinando o assento. Pouco preciso, prático de mexer e que não surte um bom efeito.
Voltando aos ‘mimos’, o Gol também pode ser equipado com central multimídia Compostition Touch, que tem tela de 5 polegadas sensível ao toque e sistema compatível com Android Auto e Apple Car Play. Este item sai por R$ 2.000 e por R$ 100 a mais – isso mesmo, somente R$ 100 a mais –, o comprador pode levar a Discovery Media, que é tão eficiente quando a Composition, mas vem com função de navegação por GPS e tela maior (6,5 polegadas).
O Gol tem garantia de fábrica de três anos e as seis primeiras revisões - cada uma acontece a cada 12 meses ou 10.000 km, o que acontecer primeiro - é de R$ 2.964,73. Além dos valores dos opcionais que mencionei acima, a pintura metálica sai por R$ 1.520.
O Gol é um projeto antigo. E o espaço, na época, não foi contemplado – e continua não sendo. Ele tem apenas 3,89 metros de comprimento, sendo 2,46 de distância entre os eixos. O Onix, por exemplo, tem 6 centímetros a mais – algo que parece pouco, mas que pode fazer a dirença de você viajar ou não 300 km/h com o joelho de uma pessoal no banco traseiro ficar cutucando suas costas o tempo todo. Já o porta-malas tem capacidade para 285 litros, um tamanho até que razoável em comparação aos demais, mas longe do ideal para você que pensa em fazer do Gol o carro para viajar com a família...
O Gol é um senhor que ainda dá um caldo entre seus concorrentes. É uma boa opção, principalmente por estes segmento de hatches de entrada estar tudo meio que em pé de igualdade em termos de performance, equipamentos e até mesmo preço. Não acho o Volks a melhor compra do segmento, mesmo com a chegada da transmissão automática, e também acho que não voltará, pelo menos neste primeiro momento, ao reinado novamente de carro mais vendido do País. Continuará sendo apenas mais um.
No entanto, o que o Gol realmente precisa – e merece pelo nome ainda muito forte que tem e por sua trajetória de sucesso – é um projeto novo. É se reinventar e voltar a viver de qualidades que tem no presente, e não daquilo que foi um dia. E a Volks, com certeza, sabe disso!