– Quando a alemã BMW ressuscitou a marca britânica Mini, em 2001, a ideia era colocar no mercado um carro bem construído, mais barato para produzir e que tivesse outro tipo de cliente. E o apelo retrô do carrinho rapidamente conseguiu muitos adeptos. Desde então, a Mini ganhou vida própria e cresceu. E não só mercadologicamente. Para atingir um tipo de consumidor que precisa de mais espaço e praticidade, resolveu ampliar a sua linha de veículos. Foi assim que, em 2008, surgiu a configuração Clubman. Na prática, é uma versão station do Cooper, mas que mantém o desenho do hatch. Ou seja, traz o charme do inglês para um público muito maior e diversificado.
A ideia da BMW não foi exatamente nova. Em 1961, a antiga Mini criou o Traveller, versão estendida do Minor, o hatch da época. E, para homenagear os 50 anos do pioneiro, foi lançada no Salão de Genebra deste ano uma edição limitada do Clubman, chamada de Hampton – em homenagem a um tradicional bairro londrino. O modelo especial chegou ao Brasil em maio deste ano, com vendas limitadas a 100 unidades. As mudanças em relação à versão comum são puramente estéticas. O Clubman Hampton adiciona pintura metálica, faróis com lentes escurecidas e rodas pretas de 17 polegadas. O interior é revestido por couro com costuras vermelhas e há diversos logos comemorativos espalhados pela carroceria.
No resto, o desenho é o mesmo do carro que foi lançado em 2008 e, na verdade, parece uma versão alongada do Cooper. Da frente até a coluna central é tudo igual. A partir daí, aparecem as peculiaridades do carro. A carroceria mais comprida acaba criando uma grande área envidraçada na lateral – o que melhora drasticamente a visibilidade. Do lado do passageiro ainda se esconde uma terceira porta – bem antes do aparecimento do Hyundai Veloster –, que abre no sentido contrário ao convencional e ajuda no acesso aos bancos traseiros. Na traseira, outro destaque da perua. O porta-malas tem duas portas com amortecedores e carrega 260 litros – bem mais que os 160 do Cooper hatch.
Para conseguir melhorar o aproveitamento de espaço no interior do carro, a Mini precisou mexer na estrutura do seu automóvel. A plataforma é a mesma, mas o veículo ganhou 40 cm de comprimento, 8 cm de distância entre-eixos e 2 cm de altura. Tudo para conseguir levar quatro pessoas com conforto. “É exatamente aí que está o grande argumento de vendas do Clubman. Ele conquista pela sua grande praticidade. É o tipo de cliente que queria um carro esportivo, mas que tivesse mais espaço que o hatch”, aponta Valdomiro Nassif, diretor da concessionária Caltabiano no Rio de Janeiro.
De resto, a Mini usou a mecânica que já tinha sido bem-sucedida nos seus outros veículos. Na versão S – única vendida atualmente no Brasil para o Clubman –, o motor é o moderno 1.6 desenvolvido na parceria entre BMW e PSA Peugeot Citroën. Com turbocompressor e injeção direta de combustível, ele rende 184 cv de potência a 5.500 rotações e 24,4 kgfm de torque entre 1.600 e 5 mil giros. Tudo gerenciado por uma transmissão automática de seis velocidades com opção de trocas manuais tanto na alavanca, como na coluna de direção.
Tanto o Clubman S quanto o Clubman S Hampton são vendidos pelos mesmos R$ 129.950. Neste valor já estão inclusos ar-condicionado digital, rádio/CD/MP3/Bluetooth, airbags frontais, laterais e de cabeça, ABS e teto solar duplo. Além do inequívoco charme “old fashion” do Mini. Em versão – literalmente – ampliada.
Ponto a ponto
Desempenho – Qualquer eventual apelo familiar do Clubman S é logo esquecido quando se pisa no acelerador. Desde as 1.600 rotações o torque de 24,4 kgfm está disponível em sua totalidade – e continua pleno até 5 mil giros –, o que ajuda a levar o automóvel inglês à velocidades altas com extrema facilidade. Portanto, as retomadas e acelerações são bem vigorosas, jogando o corpo do motorista contra o banco. Os primeiros 100 km/h são cumpridos em 7,7 segundos. A transmissão é automática de seis velocidades e traz trocas precisas e bem rápidas. A velocidade máxima de 222 km/h é instigante e rara para um carro desta classe. Nota 9.
Estabilidade – Os 8 cm extras de distância entre-eixos em relação ao hatch não fazem muita diferença na dirigibilidade. Ou seja, o compacto inglês tem um comportamento dinâmico dos melhores. A suspensão desta versão S Hampton é dura, o que transforma a pequena perua em uma devoradora de curvas. A carroceria pouco rola e o carro torce o mínimo nas mudanças de direção. O fato de ter praticamente a totalidade dos seus pouco mais de 1.300 kg situada sobre os eixos – sem ter muito balanço – ajuda o carro a manter uma trajetória bem correta. Nota 9.
Interatividade – Os pequenos vidros traseiros não permitem uma grande retrovisão. Ao menos, as grandes janelas laterais compensam nas mudanças de faixas. O mostrador que fica atrás do volante reúne o velocímetro digital, conta-giros analógico e computador de bordo. Acaba sendo muita informação para pouco espaço. A tela central – montada no exagerado velocímetro – traz o sistema de entretenimento do carro, com controle relativamente simples. Para um carro que beira os R$ 130 mil, faltam ajustes elétricos, principalmente nos bancos. O porta-malas com duas portas abertas por amortecedores é bem interessante. Nota 7.
Consumo – O Mini Clubman S Hampton fez a média de 8,3 km/l de gasolina em um trajeto quase inteiro na cidade. O Inmetro não tem medições de consumo do veículo. Nota 7.
Tecnologia – O motor 1,6L turbo feito pela BMW em parceria com a PSA Peugeot Citroën é bem moderno e oferece boa dose de força. A plataforma é a mesma de 2001, quando o Mini Cooper foi lançado, mas tem soluções boas, como a suspensão traseira independente do tipo Multilink. A lista de equipamentos é completa e inclui sistema de som com uma vistosa tela no interior, ar-condicionado digital e seis airbags. Nota 8.
Conforto – Talvez seja o item em que o Clubman mais se diferencia do Cooper. Na perua, há espaço atrás para dois adultos viajarem sem maiores problemas – há apenas dois cintos de segurança, portanto, o carro não foi feito para cinco ocupantes. Assim como no Cooper S, a suspensão dura sacrifica parte do conforto a bordo, com pancadas secas sendo passadas à cabine ao superar algumas imperfeições no piso. Nota 8.
Habitabilidade – A introdução da terceira porta no estilo “suicida” do lado do passageiro ajuda bastante no acesso aos bancos traseiros. Do lado do motorista, a tarefa é bem mais complicada. O ganho de comprimento da carroceria permitiu um considerável aumento no compartimento de bagagem: de 160 para 260 litros – 930 litros com o assento traseiro rebaixado. Na cabine, não há muitos porta-trecos. Nota 8.
Acabamento – O acabamento da linha Mini segue praticamente um padrão. Design caprichado e acabamento bem correto. Há bastante couro espalhado pela cabine, inclusive no painel, e plásticos de boa qualidade. Os encaixes são bem precisos e mostram qualidade na montagem, mas há grande profusão de plásticos rígidos. Nota 8.
Design – Mesmo com a estendida carroceria, as linhas retrô fazem bem ao Mini Clubman. Não é um desenho tão harmônico quanto o hatch ou o conversível, mas agrada. A configuração Hampton adiciona itens interessantes, como rodas pretas e logos espalhadas pela carroceria. Nota 8.
Custo/benefício – Não existem concorrentes diretos para o Mini Clubman. A station wagon que mais se aproxima em preço é a Volkswagen Passat Variant, mas a proposta é completamente diferente. Em comparação com o Cooper S, a perua inglesa custa apenas R$ 1 mil a mais. É uma boa escolha caso exista a necessidade de levar mais bagagem ou mais gente com conforto. Mesmo assim, é um valor elevado para um carro de pequenas proporções. Nota 6.
Total – O Mini Clubman S Hampton somou 78 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir: estilo à moda antiga
O desenho do Mini Cooper é chamativo por onde passa. A configuração Clubman não tem a mesma boa recepção, mas ainda sim tem um design interessante. O problema está nas proporções, um tanto estranhas quando comparadas com o mais conhecido hatch. Felizmente para a marca inglesa, o desempenho dinâmico dos dois é bem mais similar.
Nesta versão S, o motor 1,6L turbo desenvolve 184 cv e 24,4 kgfm de torque. Isso significa arrancadas fulminantes e retomadas em grande velocidade. Acima das 1.600 rotações, quando o torque já está totalmente disponível, o propulsor “enche” e entrega bastante força. Tudo ajudado pela boa transmissão automática de seis velocidades. O lado negativo fica por conta das alavancas que controlam as trocas manuais. Em vez ir com o tradicional, ou seja, a da direita aumenta e a da esquerda reduz as marchas, a Mini resolveu inventar. Ambas fazem a mesma coisa: empurrando as trocas são para cima e puxando para baixo. Nada intuitivo.
Em movimento, o Clubman também se assemelha muito ao Cooper. A suspensão bem rígida faz bem o trabalho e mantém o carro sempre na trajetória correta. Uma sequência de curvas alternadas é praticamente o habitat natural do Mini. É rara uma situação onde o motorista perde o controle da pequena perua. Caso isso aconteça, o controle de estabilidade logo entra em ação e acerta o carro para a direção certa.
Portanto, mesmo com dimensões maiores que às do hatch, o Mini Clubman S é um carro dinamicamente bem resolvido, com comportamento bastante esportivo. O grande diferencial, então, está na praticidade de seu interior. A terceira porta no estilo “suicida” – que abre no sentido contrário ao normal – facilita bastante o acesso aos bancos traseiros. Lá, dois adultos conseguem viajar sem grandes apertos. Não chega a ser uma limousine, mas em comparação com os pequeninos bancos traseiros do Cooper, é um grande avanço.
O resto do interior é marcado pelo charme. O aspecto retrô está espalhado por quase toda a cabine, o que significa que em muitos momentos, a funcionalidade é refém do design. Caso dos comandos dos vidros elétricos, posicionados no console central. O velocímetro imenso no meio do painel também também é pouco útil, mas serve para agregar ainda mais apelo retrô ao carro. Mas é em detalhes como os amortecedores de dupla ação nas portas do porta-malas e a alavanca do câmbio automático com formato de capacete, que o Mini Clubman consegue conquistar. E, diferentemente do resto da linha da marca, agrada mais do que apenas duas pessoas a bordo.
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