Não é pelo fato de hoje eu ser um jornalista automotivo “40+” e talvez estar mais rabugento, mas os exageros estéticos das versões com apenas o visual esportivo nunca me convenceram. Eu sempre gostei muito mais da discrição nos detalhes para sugerir algo mais arrojado. Exatamente como a Chevrolet fez com a nova Montana RS.
A versão topo de linha da picape custa R$ 151.890 – R$ 3.000 a mais que a configuração Premier –, e sua proposta é bem clara: entregar um design diferente, sem, no entanto, qualquer ganho de performance em relação às demais opções. Ser uma legítima, autêntica e assumida picape esportivada, com um foco muito mais no lazer do que propriamente no trabalho pesado.
Para muitos, e eu tendo a concordar em partes, a nova Montana tem um desenho externo que remete à filosofia estética da Fiat Toro, picape intermediária referência no segmento e que nada de braçada em vendas – é a segunda caminhonete mais vendida do Brasil, atrás apenas da Fiat Strada, que também é o carro mais vendido do país. Isso, especialmente, pelos faróis dianteiros em dois andares, com as luzes de rodagem diurnas (DRL) bem afiladas na parte superior.
A verdade, porém, é que a Montana tem sua personalidade, e na versão RS a Chevrolet conseguiu aplicar a esportividade de maneira sutil, sem cair no erro dos exageros – como algumas marcas fazem.
A frente traz apenas a grade frontal com trama diferente da vista nas demais versões, pintada em preto brilhante e com o “RS” vermelho encravado na parte superior esquerda.
Nas laterais, os espelhos retrovisores externos também são em preto brilhante – assim como as barras do rack de teto –, e acabam se destacando no branco Summit da carroceria. As rodas de liga leve de 17 polegadas são escurecidas e diamantadas, mas devo admitir que gosto muito mais do desenho das rodas da versão Premier.
Já na traseira a aplicação do “menos é mais” novamente agrada, com a logo “RS” tatuada do lado direito da barra preta que rasga a parte superior da tampa da caçamba unindo as lanternas. O nome “Montana” e a palavra “Turbo”, em referência ao motor, são escuros.
Só isso! Nada de frisos marcantes, adesivos enormes e borrachões no rodapé das portas, ou plásticos imensos nas caixas de rodas em busca daquele “size impression” completamente desnecessário.
Os pontos são tão discretos que, ao receber a foto do carro pelo WhatsApp, enviada pelo motorista que acabava de deixaá-lo no estacionamento da Webmotors, eu tive que ampliar a imagem para ver se realmente se tratava da Montana RS ou de alguma outra versão da picape – também ampliei a imagem porque a vista já não é a mesma de dez anos atrás.
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O interior da Montana esportivada é sem exageros. Os bancos têm revestimento parcial em material sintético em um tom chumbo, algumas partes têm acabamento em tecido cinza. As costuras são duplas e vermelhas. O resultado ficou muito bonito.
As portas trazem bastante plástico, mas onde tocamos sempre há um material levemente emborrachado e mais agradável ao tato. O emborrachado também está no painel central. Gostei de a Chevrolet ter usado com equilíbrio o preto brilhante, e ter eliminado os cromados.
A crítica vai para a cor do teto, que é claro como nas demais versões. Se a proposta era esportividade, eu acho que ficaria melhor um revestimento preto. Algo que poderia mudar já no próximo ano/modelo...
O painel de instrumentos, no entanto, me incomodou. Vivemos um momento de telas 100% configuráveis, e a Montana RS ainda aposta em um cluster com dois mostradores analógicos tradicionais (velocímetro e conta-giros), e uma tela de TFT no centro. Algo precisa ser feito neste sentido, em busca de mais modernidade.
A Montana RS é equipada com o já conhecido motor 1.2 turbo de três cilindros, flex e com injeção multiponto. É exatamente o mesmo propulsor de todas as outras configurações da picape, sem qualquer tipo de ajuste para entregar mais performance. Poderia? Sim! Gostaríamos? Com certeza! Mas essa não é a proposta da Chevrolet.
Os 133 cv de potência máxima com etanol e 132 cv com gasolina, sempre a 5.500 rpm, são mais que suficientes para dar fôlego à Montana. O torque também é ideal (21,4 kgf.m com etanol e 19,4 kgf.m com gasolina), e aparece totalmente aos 2.000 rpm, o que é muito bom para acelerações fortes e retomadas intensas, mesmo com a caçamba carregada.
O câmbio automático de seis marchas (conversor de torque) está em sintonia com o motor. Somente em alguns momentos, especialmente em marchas mais baixas, a central segura um pouco a mudança, deixando a rotação um pouco mais elevada. Já as trocas são suaves.
O vacilo está em ainda apostar em um botão na manopla para as trocas manuais (ou seria "dedais"?), e não a adoção das aletas atrás do volante. Além de mais prático, os shift-paddles agregam esportividade à tocada.
Nas acelerações mais fortes, a cabine é invadida por um “ronquinho” característico dos motores três cilindros. Chega até a dar um charme, pensando na proposta da Montana RS.
No dia a dia, a picape é confortável. Se a ideia é entregar visual esportivo e conforto similar ao de um SUV, a Chevrolet mandou bem. A direção elétrica é suave e direta na medida certa, e o acerto da suspensão traz uma rigidez agradável. Nada de batidas secas em buracos profundos ou lombadas altas, nem oscilações desconfortáveis da carroceria em curvas mais acentuadas ou frenagens fortes.
O banco do motorista tem ajuste manual de altura, mas naturalmente a Montana já oferece uma posição mais elevada ao volante. E, com regulagens de altura e profundidade da coluna de direção, é muito fácil encontrar uma postura agradável para dirigir.
De acordo com a Chevrolet, a nova Montana RS faz 7,7 km/l (etanol) e 9,3 km/l (gasolina). No entanto, conseguimos, com gasolina, uma interessante média de 9,8 km/l – rodando a maior parte do tempo com a caçamba vazia. O número é bom, mas poderia ser melhor com um Start-Stop, especialmente para quem usa a picape para o transporte de cargas diariamente.
Comparando com os SUVs, que são as referências em espaço interno ao lado dos sedãs, podemos dizer que o interior da Montana RS está mais próximo ao de um Volkswagen Nivus do que propriamente ao de um utilitário esportivo compacto como os concorrentes do Chevrolet Tracker.
Para quem viaja nos bancos da frente, os problemas não existem. Aliás, o motorista tem todos os comandos da central multimídia e do ar-condicionado, por exemplo, levemente inclinados para ele.
Mas para quem está no banco traseiro, caso tenha mais de 1,80 metro de altura, talvez os joelhos sofram um pouco. Mas nada que cause um grande desconforto. A inclinação do encosto também incomoda em longos trechos - mas apenas aí.
Eu rodei com duas crianças no banco traseiro, uma delas com cadeirinha, e o espaço foi mais suficiente – apesar de o mais novo insistir em ficar passando o pé no encosto do banco dianteiro, o que me deixava relativamente incomodado (quem tem filhos sabe do que estou falando...).
Só para mencionar, a Montana RS, assim como as demais opções da picape, tem 4,71 m de comprimento, 2,80 m de distância entre os eixos, 1,80 m de largura e 1,66 m de altura. Já o ângulo de entrada (ataque) é de 20,7°, o de saída é de 25°, e a altura livre em relação ao solo é de 19,2 cm.
A Montana RS tem um nível de conectividade adequado. Além do wi-fi nativo, a central multimídia com sistema myLink permite conexão com Android Auto e Apple CarPlay sem a necessidade de cabo. A tela colorida e sensível ao toque tem apenas oito polegadas, e poderia ser maior. Mas seu funcionamento é excelente. Todas as funções são fáceis de encontrar e o processamento de tudo acontece de maneira muito rápida.
A capacidade de carga da nova Chevrolet Montana RS 2024 é de 600 quilos – é o menor número em relação às concorrentes Fiat Toro Endurance (750 quilos), Renault Oroch Outsider (650 quilos) e até mesmo que a Fiat Strada Ultra (650 quilos).
Já sua capacidade volumétrica é de 874 litros - ligeiramente menor que a da Toro (937 litros), porém maior que a da Oroch (683 litros) e que a da Strada (844 litros).
Vale destacar o sistema de abertura da tampa da caçamba, que tem amortecimento e deixa o processo muito prático para todas as pessoas, além de evitar acidentes. O sistema auxilia também no fechamento.
Ponto positivo também para os acessórios para a caçamba. São vários, e cada um ajuda de uma maneira. Tem desde capota marítima elétrica até bandeja com divisórias para transportar objetos menores (a unidade avaliada estava equipada com uma dessa), passando por extensores, bolsa selada e até caixa organizadora.
A nova Chevrolet Montana 2024 vem com todos os equipamentos disponíveis para a picape. Muitos já mencionamos aqui, mas vamos relembrar com uma lista dos principais:
As seis primeiras revisões da Montana RS custarão R$ 4.924 – lembrando que acontecem a cada 10 mil quilômetros ou 12 meses (aquilo que acontecer primeiro).
Já o valor médio do seguro é de R$ 3.580, de acordo com a plataforma 100% digital Autocompara - sendo que o valor mais em conta foi de R$ 1.960 e a mais cara, de R$ 4.350.
A Chevrolet acertou na repaginação da Montana. A picape que nasceu pequena hoje está mais bombada, e bebeu na fonte dos SUVs para entregar não apenas capacidade de carga, mas especialmente conforto e comodidade.
É uma boa opção de compra, caso você esteja precisando de uma picape para ajudar no lazer, mas que eventualmente pode pegar pesado no trabalho. É agradável ao volante, tem os principais equipamentos de série e exibe um visual com esportividade visual na medida certa.