– Carros de marcas de luxo como a Mercedes-Benz precisam, acima de tudo, provocar o desejo – ou mesmo a inveja – de quem olha. E nessa fogueira de vaidades, poucos causam tanta comoção como os conversíveis. Em parte, pela pequena oferta de modelos sem capota à venda no Brasil. Além de serem poucos, quase sempre têm preços estratosféricos. Além, é claro, do prazer de dirigir com o vento batendo no rosto. E é exatamente nesse parâmetro que o novo SLK se encaixa. Com um desenho chamativo e o indefectível teto rígido retrátil, o roadster alemão conquista mais pelo charme do que propriamente por um desempenho alucinante ou um custo/benefício interessante.
Esportividade e preço não chegam a ser pontos fracos da nova geração do SLK mas, como em todo conversível, o modelo foca no prazer de dirigir ao ar livre e no glamour para conquistar mais vendas. Nesse ponto, o modelo da marca alemã também remete à tradição, já que a sua primeira geração, de 1996, foi a responsável pela bem-sucedida reintrodução no mercado de um carro com capota rígida retrátil – nos anos 30, o Peugeot 402 Éclipse já tinha um teto de metal escamoteável. Agora, na terceira geração, à venda no Brasil desde setembro, a Mercedes manteve a plataforma, mas renovou o visual e apurou a mecânica. Tudo devidamente apresentado no Salão de Genebra, em março deste ano.
Na parte estética, a fabricante alemã seguiu o que havia feito na segunda geração do SLK: usou o modelo topo de linha da marca como base. A inspiração na geração passada foi na SLR McLaren. Desta vez, foi na SLS AMG. A principal semelhança está nas proporções. Assim como a nova “asa de gaivota”, o roadster tem uma frente imensa, cabine montada no limite do eixo traseiro e um terceiro volume bem curto. No geral, se resume em um visual imponente e bem bonito – essencial para um carro que apela mais para a emoção do que para a razão.
A troca de geração trouxe também uma mecânica mais refinada. Foram modificações que visaram melhorar a dinâmica do veículo. A Mercedes garante que esta SLK tem 70% de peças novas. A carroceria ficou mais comprida e ligeiramente mais alta, além de ganhar 33 mm de largura. A distância entre-eixos, no entanto, manteve os 2,43 metros. A rigidez torcional foi melhorada graças a aplicações de materiais mais resistentes na estrutura.
A SLK é vendida com duas motorizações. A 200 CGI, que traz um motor 1.8 turbo que desenvolve 184 cv de potência a 5.250 rpm e 27,5 kgfm entre 1.800 e 4.600 rotações, e a 350 CGI, com um V6 de 306 cv. Ambos os propulsores são conectados a uma transmissão automática de sete velocidades. A versão de entrada é vendida por R$ 202.900 e já vem com itens como airbags frontais, laterais e de cabeça, bancos com ajuste elétrico, apoios de cabeça com sistema anti-ricochete, ABS com EBD e BAS, rádio/CD/MP3/Bluetooth e faróis bixenôn. A SLK 350 é bem mais esportiva, tem alguns equipamentos a mais e custa R$ 252.900. A concorrência de cupês conversíveis se resume ao BMW Z4, que agora também tem a capota rígida retrátil.
Os dados de vendas mostram que o bom momento está do lado da estrela de três pontas. Em menos de três meses de Brasil, já conseguiu quase 400 unidades emplacadas contra pouco mais de 320 exemplares do Z4 em 10 meses deste ano. É o tal fator novidade dando a vantagem para a Mercedes.
Ponto a ponto
Desempenho – O destaque do motor 1,8L turbo não é nem a potência de 184 cv, mas sim o farto torque de 27,5 kgfm disponível entre 1.800 e 4.600 rpm. Na prática, isso significa que mesmo tendo quase 1.500 kg, o roadster da Mercedes se mostra ágil e de respostas rápidas. A aceleração até os 100 km/h é feita em 7 segundos. O ponto negativo é o câmbio automático de sete marchas, que demora muito a trocar as marchas. Mesmo no modo manual, ele não colabora em uma esportividade mais exacerbada. Nota 8.
Estabilidade – É um dos grandes destaques do SLK. O chassi muito bem construído faz o roadster ser muito bom de curva. Mesmo com o teto aberto, o que reduz a resistência torcional, o carroceria entorta muito pouco nas mudanças de direção. A suspensão rígida também faz com que a carroceria quase não aderne nas curvas. Assim, é difícil chegar no limite dinâmico da Mercedes. Nota 10.
Interatividade – Com a capota aberta a visibilidade do carro é perfeita. Mesmo com ela fechada, a retrovisão ainda é boa. O volante tem controles do rádio e do computador de bordo, mas é muito pesado e prejudica as manobras. Outro ponto negativo são as alavancas atrás do volante. A Mercedes concentra todas no lado esquerdo – cruise control, seta e faróis – o que deixa o seu uso um tanto confuso. O funcionamento do sistema de som também não é dos mais fáceis, com excesso de comandos. Nota 7.
Consumo – A Mercedes-Benz SLK 200 CGI conseguiu a boa média de 9,2 km/l de gasolina em um circuito primariamente urbano. O InMetro não tem medições do modelo. Nota 8.
Tecnologia – O motor 1,8L com turbocompressor é bem moderno e desenvolve boa potência e torque. A plataforma é basicamente a mesma da geração antiga, lançada em 2005, mas com aperfeicoamentos para melhorar a dirigibilidade. A lista de equipamentos é interessante, mas um carro de mais de R$ 200 mil poderia ter alguns mimos a mais, como o GPS presente na SLK 350. Nota 9.
Conforto – O interior é justo para dois ocupantes. Não há espaço de sobra, mas o que tem é suficiente para não deixar ninguém apertado. Entranto, acaba faltando lugar para objetos pessoais, como bolsa, carteira ou celular. A única opção decente é no apoio de braços do console central. Mas, mesmo ali, o espaço é limitado. Os bancos têm bom apoio lateral e contam com ajuste lombar. A suspensão é firme e deixa um certo desconforto na hora de encarar algum buraco ou desnível. O isolamento acústico, tanto com a capota fechada quanto aberta, é excelente e permite uma conversa em níveis normais. Nota 7.
Habitabilidade – Achar lugar para transportar objetos no interior do SLK é uma tarefa ingrata. Uma pasta de executivo, então, nem pensar. Não é, definitivamente, um carro para se ir trabalhar. No porta-malas, são 335 litros com a capota fechada e 225 com ela abaixada. O suficiente para levar a bagagem de duas pessoas numa viagem curta. Ou seja: o SLK está em acordo com sua vocação natural para o lazer. Nota 7.
Acabamento – É dos melhores. Os materias não são os mais nobres possíveis, mas a mistura de couro e alumínio no interior é de ótimo gosto e muito bem feita. Tudo no interior do roadster denota cuidado e capricho na fabricação. Os bancos são confortáveis e todos os encaixes são precisos. Nota 9.
Design – É o grande diferenciador de um roadster. E na nova geração, a Mercedes conseguiu caprichar no desenho. O SLK tem um frente imponente, com um imenso capô e uma traseira curta – lembra até o carro do Peter Perfeito, do desenho animado “A Corrida Maluca”. Com a capota abaixada, dirigir um SLK significa ser alvo de muitos olhares. Nota 10.
Custo/benefício – Como não poderia deixar de ser, o grande rival do SLK é da BMW. A nova geração da Z4 ganhou o teto rígido retrátil e parte de R$ 218 mil com um motor de 204 cv. Mesmo que R$ 202.900 seja muito dinheiro para dar em um carro que leva apenas duas pessoas, o apelo do SLK é divertir e fazer a viagem ser ainda mais curtida. Principalmente quando os cabelos estão ao vento. Nota 7.
Total – O Mercedes-Benz SLK 200 somou 82 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir: carro de passeio
É difícil resistir à tentação de abaixar a capota assim que se entra em um roadster. Tanto que o visual nervoso do exterior quase é esquecido em um primeiro momento. Exatamente andando como um conversível o SLK mostra o seu valor.Ainda mais que, por mais que o visual explicite o contrário, o desempenho é apenas correto. O motor 1,8L turbo rende 184 cv e move os quase 1.500 kg do modelo alemão sem grande sobras. Por outro lado, o torque de 27,5 kgfm está presente em uma longa faixa de rotação. Isso significa que o carro tem sempre fôlego para acelerar. Entretanto, tudo é amenizado pela transmissão de sete velocidades. Ela é muito lenta nas trocas e acaba anestesiando uma eventual esportividade.
Ao menos, o resto do comportamento dinâmico é excelente. A mudança de geração trouxe melhoras que deixaram o carro mais acertado nas curvas. Nos trajetos sinuosos, o roadster praticamente cola no chão, sem rolagem da carroceria. Assim, é muito difícil chegar ao ponto em que os sistemas de segurança ativos trabalham. A sensação de segurança está sempre presente. A suspensão dura, no entanto, cobra a conta no conforto ao rodar. A rigidez acaba incomodando nas lunares ruas brasileiras.
O interior mostra um carro feito para quem gosta de pilotar. Os bancos são envolventes e a posição de dirigir é baixa, o que deixa o motorista com as pernas quase na horizontal. O espaço é apenas suficiente para dois ocupantes e é dificíl achar onde pôr objetos pessoais. Apenas um nicho tem tamanho decente, dentro do apoio de braços. Outro ponto negativo é a posição dos comandos. A Mercedes concentra as alavancas de controle do lado esquerdo da coluna de direção. Ou seja, estão ali a seta, o limpador de para-brisa, farol alto, cruise control e ajuste elétrico do volante. Não é difícil tentar indicar a direção pretendida e acionar o cruise control.
O acabamento é o característico dos veículos da Mercedes e beira a perfeição. Os encaixes são precisos e a combinação de couro com o alumínio escovado dá um charme para o veículo alemão. Com a capota abaixada, dá até para quem está de fora apreciar a bela cabine do SLK. Mas o lugar mais nobre está dentro do veículo, quando o teto está aberto. Nesse momento, o câmbio indeciso, a suspensão dura e as irritantes alavancas atrás do volante importam menos. O que vale é apreciar a experiência de ter o céu como teto.
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