Há 12 anos estive pela primeira vez em Salta (Argentina). Foi uma catástrofe. O que era para ser um dos maiores eventos automotivos dos quais eu já teria participado se tornou o pior. Deu tudo errado. Fui para lá de novo há alguns dias, talvez para quebrar "traumas". Deu tudo certo: aula da Rampage.
Falamos da primeira Ram Expedition da história, que reuniu na região de Salta e Jujuy, na Argentina, uma dezena de picapes da marca - algumas Rampage, uma 3500 e uma 1500, além de carros de apoio da Jeep. A ideia era percorrer mais de mil quilômetros em três dias.
Ah, "isso é pouco" e "todo carro aguenta". O que eu ainda não disse é que os carros foram para lá rodando, saindo de Betim (MG), num percurso de cerca de 2.500 quilômetros, e que a expedição não aconteceria só uma vez, mas sim duas ou três vezes, totalizando uns 3 mil km - contando jornalistas e grupos de clientes. E que ainda seria preciso voltar. Ou seja: cerca de 8 mil km em duas semanas.
Nossa imunidade foi posta à prova logo no início: estávamos em um clima desértico. Salta fica quase na divisa da Argentina com o Chile (à esquerda) e com a Bolívia (logo acima).
Deserto, como bem aprendemos na aula de geografia, é hostil: 50°C durante o sol do meio dia e frio intenso à noite. Não chegamos a enfrentar esses extremos, mas foi possível sair de 4°C pra 33°C em um único dia - e em questão de horas.
A Ram fez questão de nos preparar para isso: nos forneceu blusa, protetores labial e solar, e mais alguns acessórios para encarar o clima, os desafios da trilha e eventuais percalços.
Um deles, aliás, era incrível: atravessar uma parte de um deserto de sal para almoçar. "Ah, posso não querer ir?". Até pode... Mas vai ficar sem almoço?
Sábado, o primeiro dia, começou cedo. Saímos do hotel às 7h30 rumo ao deserto de Salinas Grandes, na província de Jujuy, o segundo maior salar das Américas - só atrás do de Uyuni, que fica na Bolívia.
Eram cerca de 250 quilômetros de distância - portanto praticamente 500 km se considerarmos a ida e a volta. Só que o desafio era atravessar uma primeira camada de montanhas que formavam um vale entre elas mesmas e a Cordilheira dos Andes. Subimos para mais de 4.100 metros e depois descemos e estacionamos no deserto, a cerca de 3 mil metros de altitude.
Nesse trecho a Ram já demonstrou valentia, mesmo sobrecarregada pela altitude extrema. Aliás, fato curioso: você sabe o quanto um carro pode perder de potência nessas situações? Falamos sobre isso em outra reportagem.
A Rampage foi bem: com conforto e sem riscos, nossa unidade demonstrou muita garra ao enfrentar com destreza e maestria trechos pesados e que necessitavam de força. A nossa era uma Laramie a diesel, que tem 170 cv e 38,8 kgf.m de torque, câmbio automático de nove marchas e tração 4x4.
No painel, durante todo o primeiro dia de expedição, nenhum apontamento de fadiga ou desgaste de algum componente.
Almoçamos carne de lhama no meio do sal, com uma baita porção de empanadas e o melhor suco de maracujá que tomei na vida.
Voltamos para Salta e, 500 quilômetros depois, estacionamos as Rampage para o que estava por vir no dia seguinte.
Madrugamos novamente. Nosso destino desta vez era Cafayate, também a cerca de 250 quilômetros de distância de Salta, só que agora para o sul. Trocamos a Laramie a diesel por uma a gasolina.
No mapa teórico já vinha a mensagem: atravessaríamos regiões com cânions de tirar o fôlego. E foi exatamente isso o que aconteceu, mais uma vez com zero preocupação com relação às picapes.
Na metade do trecho dessa rota estava um local chamado "Garganta del Diablo" - que como o nome diz, era um estreitamento de erosões que formava um visual deslumbrante e ao mesmo tempo controverso.
Lá de dentro não era possível saber se você estava em uma subida de rochas ou em uma descida, tamanha a confusão causada justamente pela formação dos cânions. Sensação única na vida, que é difícil até de descrever.
E estávamos na metade do caminho.
Depois de algumas horas, chegamos a Cafayate, uma pequena cidadela com diversas vinícolas e até um museu sobre vinhos. Um charme de cidade.
A essa altura, a Rampage já tinha rodado praticamente 800 quilômetros em dois dias - isso sem contar os mais de 2.500 quilômetros da vinda. Zero pneu furado, zero problema e zero desgaste. A única coisa que ela apresentava era a sujeira do caminho - mas sem demonstrar cansaço.
O consumo médio aferido pela reportagem do WM1 foi de 11,5 km/l na picape a diesel e de 10,9 km/l na que bebia gasolina. Para o nível de subidas e de exercícios que a Rampage precisou fazer, sempre com duas pessoas a bordo - e todas as bagagens e equipamentos necessários -, foi excelente.
Acordamos mais uma vez antes das 5h para a volta, na segunda. As picapes já estavam prontas. Saímos de Cafayate e voltamos para Salta, de onde sairia nosso voo para Buenos Aires e, depois, para o Brasil.
Mais 250 quilômetros rodados, atingindo pouco mais de 1.000 quilômetros nos três dias de expedição. E vale lembrar que as picapes ficaram lá - foram deixadas no aeroporto para continuar a trilha pelos dias seguintes, com outros convidados e assim por diante. Sem sossego, como trilheiro gosta.
Voltamos ao Brasil com a sensação de que a experiência foi incrível: boca ressecada, queimaduras de sol e barriga cheia. Mas com a certeza de que a Rampage dá conta do recado.
Fui embora de Salta com outra visão da região. Não era mais aquela cidade que por 12 anos ficou na minha cabeça como sendo pequena e cheia de vacilos. Muito pelo contrário: linda, clássica e super acolhedora, desta vez a região nos proporcionou momentos incríveis e afetuosos.
E tudo ficou mais fácil com a aula de garra e valentia da Rampage, a primeira picape da marca feita no Brasil. Bom consumo, fácil maneabilidade e muita, mas muita técnica.
Espero um dia poder voltar.