O comercial para a TV do Renault Fluence GT sempre me pareceu exagerado. Nele, o ator americano Paul Walker, da série de filmes Velozes e Furiosos, encara de frente um Fórmula 1 e sai vencedor do embate. Talvez a marca quisesse lembrar o espectador de que sabe fazer esportivos (é o atual motor tricampeão da Fórmula 1) ou, talvez, fosse pedantismo demais para um sedã, que nasceu comportado e nunca se vangloriou pela potência.
Para esclarecer a dúvida, o WebMotors rodou por uma semana com a versão, que é a mais recheada e cara do modelo (R$ 82.090). Por fora, o Fluence GT é discreto nos adereços. Na dianteira, um spoiler embaixo do para-choque. Na lateral, saias da cor da carroceria. E, na traseira, um pequeno aerofólio acima da tampa do porta-malas e um extrator de ar na cor preta na parte de baixo. O “kit esportivo” é completado pelas rodas 205/55 R17 com desenho exclusivo feito para a versão.
Dificilmente alguém consegue reparar, em um primeiro olhar, que se trata do primeiro modelo à venda no país da divisão Renault Sport, responsável pelos carros esportivos da fabricantes vendidos na Europa. O segundo modelo, o
Megane RS, deverá desembarcar por aqui apenas em 2014.
A discrição continua no lado de dentro do Fluence GT. Porém, houve atenção aos detalhes para lembrar o comprador de que este é um GT. Os bancos dianteiros trazem abas pronunciadas para segurar os ocupantes, são forrados em couro, com bordas costuradas em vermelho e com o símbolo GT gravado nos apoios de cabeça. Assim que se abre a porta do sedã é possível ver a soleira com a inscrição Renault Sport. Os pedais também são esportivos, em alumínio e o quadro de instrumentos central é digital, como no
Megane RS vendido no velho continente. O destaque vai para o grande marcador de rotações por minuto.
Como um esportivo, o acabamento não é o ponto alto deste Fluence. Há exagero nas peças, com plásticos rugosos e até algumas rebarbas. Mas nada que chegue a tirar o charme do seu interior. O espaço está na média da categoria, transporta até quatro adultos sem problemas (entre-eixos de 2,70 m). Já o porta-malas acomoda até 530 litros, um dos maiores entre os rivais.
O sobrenome de peso exigiu um tratamento cuidadoso com a parte mecânica do Fluence. Por isso, nada de fazer apenas algumas adaptações estéticas. A Renault mexeu também na alma do sedã. O motor escolhido foi o mesmo 2,0L 16Vdo Megane GT europeu, ou, se preferir, do Duster vendido por aqui acrescido de turbo “twin scroll” e com alterações em pistões, bielas, virabrequim e brozinas, que foram reforçados.
Por conta da turboalimentação o propulsor gira apenas a gasolina (no Duster ele é flex). A boa notícia é que a potencia máxima subiu de 142 cv para 180 cv. Já o torque máximo passou de 20,9 kgfm para 30,6 kgfm. Estes números dão ao Fluence GT o título de modelo com o maior torque de sua categoria à venda no país. À frente do Peugeot THP (24,5 kgfm) e do VW Jetta TSi (28,5 kgfm).
O resultado é disposição de sobra para arrancadas e ultrapassagens. O câmbio manual de seis marchas tem relação curta para as primeiras enquanto a última é longa, feita para economizar combustível. Já a suspensão privilegia o aumento da aderência em detrimento ao conforto, típico dos carros de competição. O Fluence GT instiga uma tocada mais esportiva. É divertido manejá-lo em uma estrada sinuosa.
O Renault GT é vendido sem opcionais. Por R$ 82.090, a versão topo de linha da marca no país vem equipada com seis air bags, controles de estabilidade (ESP) e de tração (ASR), freios a disco nas quatro rodas com ABS, distribuição eletrônica de frenagem (EBD) e auxílio de frenagem de urgência.
Com relação à tecnologia, o destaque fica pela tela de cinco polegadas integrada ao painel com GPS. Porém, o equipamento não é touch screen. É preciso usar um estranho controle remoto para manejá-lo. Não é nada prático (imagina se um dia o controle for perdido?). Ar-condicionado bizone, CD player com Bluetooth, teto solar elétrico, direção elétrica multifunção, acendimento automático dos faróis de xênon, com regulagem de altura e lavadores, também fazem parte do pacote.
Ou seja, mesmo que você não procure por um esportivo ou não tenha ficado impressionado com os números de desempenho, o Fluence GT vale a compra pelo ótimo pacote de equipamentos aliado a uma mecânica digna da divisão Renault Sport. É diversão na certa, mesmo que bater um Fórmula 1 na pista seja um exagero.