Pergunte a qualquer dono de um Renault Sandero ou Duster: ele certamente irá destacar a robustez e a racionalidade extremas do carro. Mas, convenhamos: tirando o (saudoso...) Sandero R.S., não dá para chamar esses dois aí de empolgantes ao volante. A boa notícia é que a marca do losango quer virar a página, e uma prova disso é o lançamento do Kardian.
O inédito SUV compacto, feito para brigar com Fiat Pulse e Volkswagen Nivus, estreia com a enorme responsabilidade de iniciar uma nova fase da Renault no Brasil. Uma nova era com produtos ainda feitos para mercados emergentes, porém mais emocionais que os racionais automóveis de origem Dacia.
Quer saber em detalhes como o Kardian se saiu nesse teste? Então confira nas próximas linhas.
O Kardian é o primeiro Renault brasileiro feito sob as diretrizes da identidade mais recente da marca francesa. Confesso que achei o carro meio sem sal quando vi as primeiras fotos.
Mas garanto a você que é mais bonito ao vivo do que nas fotos. Tem um desenho com bastante personalidade, mas sem ser polêmico. Mesmo nessa combinação das fotos, com a carroceria pintada em laranja Energie e teto preto, não fica chamativo em excesso.
Na versão topo de linha Première Edition, as rodas de liga leve são calçadas com pneus de medida 205/55 R17. Aliás, são as mesmas peças diamantadas vistas na configuração intermediária Techno, mas com um acabamento um pouco mais escurecido. Uma diferença bem sutil.
A Renault aproveitou o novo SUV para lançar ainda uma solução simples e muito funcional de aproveitamento de espaço. É que as barras longitudinais no teto, além de terem função decorativa, podem ser reinstaladas na transversal, servindo de suporte para até 80 quilos de carga. Dá para instalar um suporte de bicicletas. Ou até um bagageiro.
O Kardian é um SUV compacto de entrada. Aquele carro feito sob medida para quem está pensando em trocar um hatch compacto por um automóvel altinho. Por isso mesmo, é menor que o Duster: tem 4,12 m de comprimento, 1,75 m de largura, 1,54 m de altura e 2,60 m de entre-eixos.
Traduzindo esses números para o mundo real, o novo SUV da Renault tem quase o mesmo tamanho que o Renault Stepway (que continua em linha) e que o Fiat Pulse, embora seja menor que o Volkswagen Nivus. Já o vão livre para o solo, de 21 cm, é superior ao visto em alguns utilitários esportivos de maior porte.
Levando em consideração que é um SUV com porte de hatch compacto, o Renault Kardian tem bom espaço para os passageiros na cabine, e permite levar quatro adultos com conforto.
Mas a nota 10 vai, mesmo, para o porta-malas: são 358 litros de capacidade no padrão de medição VDA, que simula com mais exatidão o uso real. Mesmo sem saber as medidas exatas, o compartimento de bagagens é visivelmente grande. Como no Stepway.
Outro ponto que merece aplausos no Kardian é a posição de dirigir. Esqueça os comandos distantes das mãos vistos em modelos como o Stepway e o Duster. Com console central alto e comandos bem posicionados, o SUV da Renault segue o estilo cockpit. Não chega a envolver o motorista, como no Peugeot 208. Mas foi uma belíssima surpresa.
O volante multifuncional concentra os comandos do controlador adaptativo de velocidade e do painel, que tem tela digital e layout configurável. Já os controles da multimídia estão no comando satélite na coluna de direção. Uma solução bem funcional e típica dos Renault. Mas que parece antiquada no contexto do Kardian.
Os bancos, com abas laterais pronunciadas, são bem confortáveis. Na versão Première Edition, têm forração mista em couro e tecido, e detalhes em laranja, independentemente da escolha de cor da carroceria. Falando assim, parece chamativo demais, mas até que são discretos. E por falar em revestimentos, a cabine do Kardian também merece uma boa nota pelo acabamento.
Apesar da presença maciça dos plásticos rígidos (como em qualquer compacto), o Kardian está um patamar acima dos outros Renault brasileiros em cores e texturas. Para completar, a marca francesa aplicou nessa versão de topo uma iluminação de LED decorativa e com tonalidade personalizável. Um luxo, principalmente considerando os outros carros do segmento.
O Renault Kardian Première Edition é bem equipado para um SUV compacto, e tem equipamentos de série inéditos para um utilitário esportivo de entrada. Veja os principais itens:
O Kardian é o primeiro modelo da Renault no Brasil equipado com o novo motor 1.0 turbo de três cilindros. Da mesma família do 1.3 turbo usado no Duster e na Oroch (com o qual compartilha 70% dos componentes), tem injeção direta de combustível e desenvolve, com etanol, 125 cv de potência e 22,4 kgf.m de torque.
Esse propulsor permite ao SUV acelerar de zero a 100 km/h em 9,9 segundos. Uma boa marca para um carro sem pretensões esportivas. Já o consumo é um ponto forte: com gasolina, roda até 13,9 km/l (estrada) e 13,1 km/l (cidade).
O escolha de câmbio para o Kardian causou polêmica entre o público antes mesmo do lançamento: a única opção disponível para o modelo é uma caixa automatizada, de seis marchas e dupla embreagem banhada a óleo.
Em sua defesa, a marca francesa destaca que o câmbio é bem diferente da infame Powershift da Ford, que queimou o filme das caixas de dupla embreagem por aqui. Além de usar a mesma tecnologia das transmissões presentes há alguns anos nos Renault europeus.
Falando em manutenção do câmbio, a única exigência no plano de revisões é a troca do lubrificante, a cada 90 mil quilômetros.
Mesmo bastante animado com o que eu vi antes de apertar o botão de partida, o Kardian me surpreendeu ainda mais na rodagem. Percorri cerca de 80 quilômetros, tanto como motorista quanto como passageiro, nas estradas da Serra Gaúcha.
Eu nem preciso lembrar você (mais uma vez) de que o Sandero R.S. era uma carro mais empolgante. Mas, entre os Renault "normais" lançados nos últimos anos, esse é, de longe, o automóvel que mais entrega prazer ao dirigir.
O motor é esperto e rende bem desde as rotações mais baixas. Dentro daquilo que se espera de um motor 1.0 turbo com injeção direta de combustível, claro. Já o câmbio agrada bastante pelo bom funcionamento.
Apesar do atraso de resposta na arrancada, a caixa de dupla embreagem é muito eficiente. Faz trocas de marcha com suavidade (você vê o conta-giros variando, mas não sente os trancos) e contribui para manter o motor sempre "aceso".
Nesta versão Première Edition, o Kardian tem ainda um seletor de modos de condução. São três opções de acerto (Eco, Sport e o personalizável My Sense), que alteram as respostas do câmbio, a sensibilidade do acelerador e o nível de assistência da direção elétrica.
Apesar de a sensibilidade maior ou menor do acelerador ser notada já na saída, é rodando em velocidades mais altas que você percebe mais claramente a diferença entre os modos de condução. Eu mesmo dirigiri a maior parte do tempo no modo Sport.
É que a direção fica mais pesada e combina muito bem com o acerto firme da suspensão. Essa rigidez maior que a vista em modelos como o Sandero e o Duster não me incomodou, mesmo pisos irregulares. E ainda contribui para que o Kardian seja um SUV bom de curva.
Mesmo que você não queira pisar fundo, o Kardian ainda agrada bastante, com o seu isolamento acústico bem eficiente. E na hora de manobrar, o sistema de câmeras Multiview (exclusivo da versão Première Edition) também ajuda bastante.
Não é um equipamento com visão 360°, como em outros SUVs compactos, já que não dá para selecionar todas os ângulos de uma só vez. Mas funciona de maneira parecida, permitindo visualizar obstáculos na dianteira e nas laterais do veículo.
O Kardian chega ao mercado brasileiro em três versões: Evolution (R$ 112.790), Techno (R$ 122.990) e Première Edition (R$ 132.790). Todas equipadas com o mesmo conjunto mecânico composto pelo motor 1.0 turbo de 125 cv e o câmbio automatizado de seis marchas com dupla embreagem banhada a óleo.
O Kardian Première Edition é um carro bem completo e bom de guiar, além de ter um preço competitivo. Estes atributos mostram que a Renault não está de brincadeira ao lançar esse novo SUV compacto.
Certamente é um carro que vai dar trabalho para Fiat Pulse e companhia nesse degrau de entrada do segmento de utilitários esportivos. Ainda mais considerando a boa fama da Renault, consolidada pelos produtos da era Dacia. Antes tarde do que nunca: os franceses perceberam que não dá pra ser feliz pensando apenas com a razão.