Bichinho intrigante esse "Golfinho" que a BYD lança oficialmente nesta quarta (28) no Brasil. O Dolphin ("Golfinho", em inglês) tem porte próximo ao de um Chevrolet Onix, propulsão totalmente elétrica e custa R$ 149.800.
Por esse valor, ele briga com a trinca de EVs subcompactos composta por Renault Kwid E-Tech, JAC e-JS1 e Caoa Chery iCar, na faixa dos R$ 150 mil -, muito mais barato que Fiat 500e Renault Zoe, que hoje custam R$ 224.990 e R$ 239.990, respectivamente.
Acima de tudo, é um bom carro. É o veículo que prova que a BYD pode ter um elétrico "popular" - aqui entre aspas, já que EVs ainda são caros e oferecidos como carros de nicho. Vale dizer que, até ontem, a marca só vendia modelos na faixa dos R$ 260 mil e outros ultra caros, já perto dos R$ 500 mil.
Difícil, por vários motivos. O primeiro é a enxuta rede de concessionárias - são apenas 18 lojas em todo o Brasil. O segundo, acreditem, não é nem o preço, mas o posicionamento do carro no mercado - afinal, ainda é raro encontrar quem prefira pagar R$ 150 mil em um hatch elétrico do que em um SUV.
O terceiro motivo é justamente o preço, ainda que o valor do Dolphin seja de fato interessante perto do que existe hoje em dia em termos de custo, porte e proposta de carros elétricos em nosso país.
E, acredite, ele é um ótimo carro, do mesmo nível de Fiat 500e e Renault Zoe, superior ao que podemos encontrar no trio composto por JAC e-JS1, Kwid e iCar.
Feito sobre uma plataforma criada só para carros elétricos, chamada de e-Platform 3.0, o BYD Dolphin tem 4,13 m de comprimento, 1,71 m de largura, 1,57 m de altura e excelentes 2,70 m de entre-eixos - um Chevrolet Onix tem 4,16 m, 1,73 m, 1,47 m e 2,53 m, respectivamente.
O entre-eixos do Dolphin é excepcional justamente pelo formato de construção do carro - como tem motor elétrico dianteiro e bateria posicionada sob o assoalho, foi possível priorizar o espaço para os passageiros. O porta-malas também é bom: tem 345 litros de volume.
E essa é, certamente, a maior vantagem do carro frente aos principais rivais - seja o trio de entrada ou a dupla mais cara que citamos acima.
Há outro lance curioso sobre o Dolphin: ele é integrante de uma família de carros da BYD chamada "Ocean Family" ("Família do Oceano", na tradução literal) - daí o nome Golfinho.
Isso se caracteriza, principalmente, pelo design interior com desenhos curvilíneos que simulam "ondas do mar". Acredite, a cabine é bem legal. O acabamento tem tons claros, materiais macios e escolha de cores que reforçam a proposta mais ecológica.
Há coisas, no entanto, que não se justificam em um carro desse preço, como o quadro de instrumentos "de moto" - uma pequena tela colorida de cinco polegadas presa na coluna de direção, atrás do volante - e a falta de equipamentos como carregador de celular sem fio e itens de condução semiautônomos mais elaborados (tem apenas controle de cruzeiro).
Mas pelo menos o Dolphin traz de série a boa central multimídia de 12,8 polegadas, que é rotativa, assim como nos carros mais caros da marca, console central elevado com vários porta-objetos e entrada USB.
Ar-condicionado, vidros e travas elétricos, volante multifuncional e chave canivete com alarme, claro, são itens de série.
Itens de segurança também estão presentes. O modelo vem com faróis e lanternas em LED, seis airbags, controle de estabilidade e de tração, assistente de partida em rampas, controle dinâmico de rolagem de carroceria, monitoramento da pressão dos pneus, câmera de ré e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.
Diferente do que costumamos ver nos modelos mais caros da BYD, o Dolphin não é empolgante como os outros EVs da empresa - principalmente a dupla Han/Tan.
O carro é comedido e parece ter sido criado para quem roda só na cidade ou pega trechos menores de estrada. E para quem tem grana sobrando e quer um carro elétrico exatamente para isso, parece ser uma opção bem interessante.
O "Golfinho" usa um motor elétrico montado no eixo dianteiro, que entrega 95 cv (são 70 kW) e 18,4 kgf.m de torque e permite que acelere de zero a 100 km/h em 10,9 segundos e chegue a 160 km/h.
A unidade que será oferecida no Brasil é alimentada por uma bateria de 44,9 kWh, com autonomia declarada de 291 quilômetros com uma carga total.
Em nossas mãos, a unidade testada apontava 25% de carga e 100 quilômetros de autonomia, o que apontava eficiência ainda melhor do que a que foi registrada pela empresa no país.
E há mais detalhes: são três modos de condução (Standard, Sport e Eco) e dois níveis de regeneração de frenagem (Standard e High). Isso é legal, mas falta o modo de condução "One Pedal", presente no Yuan Plus e em outros carros da BYD, que permite acelerar e frear apenas com o acelerador.
Em resumo, um carro que atende quem procura modelos elétricos dessa faixa de preço com bom nível de tecnologia e espaço interno, sem abrir mão do bom acabamento e da ótima lista de itens de série. Falta uma coisa ou outra, mas isso não impede a BYD de mostrar que o "Golfinho" pode ser seu carro elétrico "popular".
O carrinho não veio para brincadeira.