A Volvo V60 é equipada com motor 2.0 Turbo de 254 cv de potência e câmbio manual. Em um segmento cada vez menor, a perua sueca chama a atenção.
Não precisou mais do que alguns segundos para me seduzir. Ali, parada próxima a uma pilastra no estacionamento da Webmotors, a nova Volvo V60 conquistou meu coração com a naturalidade e a segurança de quem tem plena consciência do seu nível de exclusividade. Não é segredo para ninguém. Tenho, sim, uma queda pelas station wagons – e meu rápido romance com a Audi RS6 Avant em 2016 não me deixa mentir. Mas a atração pela ‘senhorita sueca’ foi algo fulminante.
Infelizmente as peruas estão desaparecendo do Brasil, afogadas pelo tsunami de utilitários esportivos compactos que inundam nossas ruas. De acordo com dados da Fenabrave (Federação Nacional das Distribuidoras de Veículos Automotores), as SWs representaram apenas 0,46% dos veículos de passeio emplacados no País em 2018, enquanto os SUVs foram responsáveis por 24,38% - sendo segundo maior segmento, ficando atrás apenas dos hatches pequenos (28,59%).
E essa é apenas uma razão pela qual a V60 é tão especial...
Quando recebi a missão de avaliar a completamente nova station da Volvo, sabia que o emocional poderia falar mais alto. No entanto, meu profissionalismo me intimou a realizar um trabalho focado em responder à pergunta com relação à V60: “vale a compra?”
O preço inicial, convenhamos, é para pouco. Comercializada apenas na versão Momentum T5 2.0 (254 cv), a V60 parte de R$ 209.950. Entre os opcionais estão as rodas de alumínio de 19 polegadas (originais são 18''), que custam R$ 11.200. É possível também equipar a ‘sedutora’ com difusor e saídas de escapamento integradas (R$ 3.500) ou um Kit Exterior (R$ 9.500). Ou seja, completinha, a Volvo pode sair da concessionária por 230.650.
Para matarmos as questões de custos, as seis primeiras revisões (preços fixos) – que acontecem a cada 10.000 km rodados ou 12 meses (aquilo que acontecer primeiro) – custam R$ 11.144. O seguro, por sua vez, apresentou média de R$ 7.500, nada mal.
Sei que gosto não se discute, por isso não vou perder meu tempo aqui em tentar te convencer de que a V60 é linda. Na minha opinião, porém, a Volvo é ‘elegantemente sexy’. Talvez eu possa ter me deixado envolver pelo clima: meia luz de um estacionamento e estar a sós com ela.
Na dianteira, os faróis afilados são em LED e o DRL (iluminação diurna) escancara o martelo de Thor, algo marcante nos atuais modelos da Volvo. No escuro, de longe, todo mundo sabe que se trata de carro da marca escandinava.
A lateral tem uma linha de cintura reta e não alta. Torneada, evidenciado que se preocupa com a aparência e em estar em forma, a V60 traz vincos marcantes nas laterais. E a área envidraçada é boa, mesmo ela sendo baixinha – tem apenas 1,42 metro de altura. E as belas rodas de 18 polegadas são um toque de elegância, como belos brincos Harry Winston nas orelhas de uma mulher.
A traseira, porém, é quem fascina. As lanternas estão nas extremidades, instaladas na coluna – mais uma característica marcante dos carros da Volvo –, e invade o meio da tampa do porta-malas. Tal filosofia cai muito bem nos SUVs da marca, do XC40 ao XC80, e poderia ficar estranha em uma SW, mas simplesmente ficou exato na V60. O difusor com dias saídas de ponteiras duplas agregam esportividade e evidenciam o fato de a Volvo ser realmente larga (1,85 de largura, de espelho a espelho).
Chave no bolso, toco a maçaneta e a porta destrava. Entro e o primeiro ponto que me chama a atenção é a receptividade da V60. Uma mistura de couro caramelo, peças pretas - algumas em black piano - e detalhes em alumínio promovem um ambiente requintado. Nesta combinação de cores, o teto também é preto. Essa station não precisa se utilizar de artifícios psicológicos, como teto claro, para transmitir uma sensação de maior espaço interno. Ela é grande por natureza. Há também outras combinações, como tudo em bege (inclusive o teto); bancos em couro marrom, interior preto e teto bege; e tudo preto (bancos, interior e teto). Essa última, possivelmente, seria a milha escolha. Qual seria a sua?
Tudo está perfeitamente encaixado e em todos os detalhes é possível ver esmero na montagem. Algo que um carro de mais de R$ 200 mil precisa entregar, obrigatoriamente.
Observando os detalhes do interior, não percebo que já estou muito bem acomodado no banco do motorista. O assento tem espuma com densidade adequada e o encosto apresenta abas laterais grandes na base, segurando bem o quadril do motorista. Os ajustes são elétricos. A coluna de direção tem regulagens de altura e profundidade amplos.
E antes ‘apertar’ o cinto de segurança e acelerar, dedico alguns minutos à central multimídia do V60, que é igual à dos outros modelos da marca. Trata-se praticamente de um tablet delimitado nas laterais pelas grandes saídas de ar e na base por uma peça em alumínio que rasga de ponta a ponta o painel central. A tela tem 9 polegadas, é colorida e sensível ao toque. O legal é que por intermédio dela é possível controlar praticamente todas as funções do carro, desde o sistema de som de 170 Watt de potência (10 alto-falantes) até o ar-condicionado de duas zonas. Sim, é compatível com Android Auto e Apple CarPlay. Basta plugar seu smartphone na entrada USB. Com essa tela, presente pela primeira vez com a atual geração do XC90, o visual interno é mais minimalista. O painel de instrumentos tem tela de 12 polegadas, é digital e tem excelente visualização.
Ainda não estamos íntimos, mas me arrisco a chamar a V60 para dar uma volta. Giro o botão no console central e discretamente os quatro cilindros do motor 2.0 turbo de 254 cv de potência começam a trabalhar. Nada de intensidade na primeira acelerada. Cordial, é suave ao sair. Trata-se de uma SW com personalidade afável. Deixa claro que tem como característica o conforto também ao rodar. E a transmissão automática de 8 marchas (conversor de torque) salienta ainda mais este traço polido da station.
Após as 22h, as ruas de São Paulo ainda pulsão, mas permitem um passeio sem qualquer congestionamento. E é neste horário que V60 e eu começamos a nos conhecer melhor. No console central, um dos raros botões permite a escolha do modo de condução: ECO, Comfort e Dynamic, além de um quatro chamado Individual, que permite o motorista ajustar os parâmetros do carro de acordo com suas características ao volante. As ações do motor, câmbio, freio, controles de tração e estabilidade e até o funcionamento do sistema start/stop mudam de acordo com a ‘personalidade’ que o condutor escolhe.
Trocas de marchas suaves e respostas interessantes do propulsor quando o pedal da direita é exigido agradam mesmo no modo Comfort. Pulo direto para o Dynamic em busca de intensidade. E a resposta é imediata e extremamente satisfatória. Os 35,7 kgf.m de torque são mais que suficientes para que a Volvo saia da sua elegância para mostrar que também pode ser temperamental. Esta força aparece total, plena, a partir de 1.500 giros, uma faixa muito baixa que deixa a sueca absolutamente intensa a qualquer força desproporcional no acelerador. Neste momento, os 1.780 kg da sueca parecem ser menos de 1.000 kg tamanha sua agilidade. Incrível como rapidamente ganha velocidade e transmite ao motorista e passageiros completa sensação de segurança, mesmo os controles de tração e estabilidade estando um pouco mais permissivos que o normal. Importante, porém, destacar que não estão completamente desligados e acabam atuando em situações mais extrema.
A esportividade latente na V60 é quebrada momentaneamente pela ausência das borboletas (paddle shift) atrás do volante, algo que não nem mesmo como opcional. Outro ponto que poderia dar ainda mais ímpeto à Volvo é a tração ser integral ou, melhor ainda, traseira. Não que o fato de apenas as rodas dianteiras tracionarem impede a SW de ser divertida, mas definitivamente poderia ser mais.
Aproveitando que a madrugada chegou e agora sim as avenidas estão mais adormecidas, consigo extrair um pouco mais da V60. É então que a suspensão começa a mostrar suas qualidades com um ajuste muito bem equilibrado entre o conforto e a esportividade. A Volvo consegue ser firme o suficiente para impedir que a carroceria role demasiadamente em sequências de curvas mais acentuadas ou tenha o efeito mergulho em frenagens bruscas – lembrando que adota freios ventilados na frente e atrás. No entanto, consegue absorver muito bem as imperfeições do asfalto. E isso se deve a uma filosofia de construção que caiu muito bem com a proposta do carro, utilizando sistema independente nas quatro rodas, sendo McPherson na dianteira e multibraços na traseira.
Já totalmente à vontade, a elegante V60 escancara que não é apenas um rostinho bonito em um corpo escultural esbanjando saúde. Tem conteúdo. E como manda a tradição da marca, muito está relacionado a segurança dos ocupantes. Mas já encontramos tecnologias semiautônomas, também.
A Volvo é equipada com seis airbags (frontais, laterais e de cortina), mas poderia ter avançado neste ponto com bolsa inflável para os joelhos do motorista, pelo menos. Ela traz ainda alerta de colisão frontal e também sistema de frenagem autônoma, que ao identificar que há um risco iminente de colisão e o motorista não reagiu para tentar evitar o acidente, automaticamente a perua atua no pedal. Dependendo da velocidade, o estrago pode ser evitado totalmente ou somente minimizado.
O alerta de saída de faixa também está presente, assim como o sistema que ajuda a V60 se manter na faixa de rolagem atuando diretamente no volante, trazendo o carro para a trajetória correta ao identificar que o condutor já está comendo a faixa e não demonstrou sinais de reação. Sem falar do Blis, tecnologia que alerta para a presença de outros veículos no chamado ponto cego do motorista.
Mas o que realmente impressiona na V60 é algo que já existe em outros carros da marca de origem sueca já a venda no Brasil. A partir da união do leitor de faixas da pista e do ACC (Controle de Cruzeiro Adaptativo), a station roda completamente sozinha, sem que o motorista pise no acelerador ou no freio, ou mesmo trabalhe no volante para fazer curvas. A única necessidade é que seja colocado de tempos em tempos a mão no volante para que seja dito a ela: “se precisar de uma interferência imediata, existe um motorista atento”.
Retorno a São Paulo sem pressa – já no modo ECO para economizar um combustível (V60 faz na cidade 9,3 km/l em média e 12,5 km/l na estrada) – e começo a me questionar mentalmente se vale a pena a compra. E chego à conclusão que sim. Claro que com R$ 230 mil no bolso para comprar um carro o leque de opções é enorme, mas se você quer fugir da personalidade insossa dos SUVs, precisa de espaço, gosta de dirigir e, principalmente, tem paixão por peruas (como eu), a SW da Volvo é perfeitamente suficiente para proporcionar o mais evidente sentimento de satisfação.
VOLVO - V60 - 2018 |
2.0 T4 MOMENTUM GASOLINA 4P AUTOMÁTICO |
R$ 180950 |
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