Uma mudança de geração em uma picape como a Strada sempre desperta desconfianças em quem usa o modelo para o trabalho. É aquela suspeita de que o veículo de carga ficou muito "Nutella" e abandonou a serventia para a labuta. Para acalmar esses coraçõezinhos, o alento está na versão Freedom cabine simples do comercial leve mais vendido do país.
Isso porque o modelo em questão da Fiat mostrou duas evoluções bem claras: continua "raiz", com a versatilidade para transporte de qualquer tipo de volume pela cidade, só que com desempenho melhor e rodar mais suave e econômico; e mantém a construção sólida, porém com melhor torção da carroceria e comportamento dinâmico.
A única estranheza que o usuário "raiz" da Strada pode ter nesta segunda geração é a posição de dirigir. Está muito alta (alta mesmo) e o corpo do motorista fica mais verticalizado. A percepção é de que o banco poderia ser uns 5 cm mais baixo que, assim mesmo, deixaria o condutor em uma posição elevada de direção.
Mas isso é um detalhe, com o qual o motorista vai se acostumar com o tempo. Até porque a boa ergonomia da Strada se manteve. O volante tem boa pegada e recebe ajuste de altura, enquanto o comando dos vidros elétricos e travas continuam bem intuitivos.
Até porque o que o motorista da Strada tradicional quer saber é como anda essa picape nova. "Pô, o motor era 1.4 e agora é 1.3, deve ser fraco!". Vai na fé: não só o 1.3 Firefly de quatro cilindros é mais forte que o velho Fire (são 109/101 cv), como roda melhor, de forma mais suave e econômica, algo muito importante para quem usa o veículo no dia a dia para o trabalho.
Com a caçamba vazia, a Strada cabine simples impressiona logo nas primeiras arrancadas. O motor entrega agilidade impressionante, estimulada ainda mais pelo câmbio manual de cinco marchas com as primeiras relações curtas. Para se ter ideia, o velocímetro nem chegou a 50 km/h e o carro já pede a quinta.
Desconfiei que tamanha disposição seria diferente com a caçamba carregada. Aproveitei a picape para transportar algumas tralhas que só telespectadores de "Acumuladores Compulsivos" entenderão. Tudo para ver como se comporta a nova Strada com uns 400 kg nas costas.
E, acredite: dá conta do recado. Continua a trabalhar bem em baixas rotações e mostra sua versatilidade para fazer transporte de carga, especialmente no ambiente urbano. Mesmo nos trechos de subida, basta reduzir uma marcha que a bicha encara a ladeira com valentia. E ainda podia levar mais - a capacidade de carga da versão cabine simples é de 720 kg.
Isso tudo sem abandonar a robustez que caracterizou a linha ao longo de mais de duas décadas. Se a velha Strada é um tratorzinho que aguenta o trabalho pesado, a nova continua trabalhadora fiel, porém com um quê a mais de requinte no rodar.
O motor não é tão áspero e o comportamento dinâmico da nova Strada foi bem apurado. Ainda é uma picape que, com a caçamba vazia, quica bem na buraqueira, mas a calibragem dos amortecedores está mais refinada.
Além disso, independente dos controles de estabilidade e tração obrigatórios por lei para projetos novos desde este ano, o modelo da Fiat aponta melhor nas curvas e a carroceria oscila bem menos.
A dose de sofisticação só se esvai mesmo em velocidades mais altas, por exemplo na rodovia. A 80 km/h, a direção com assistência elétrica ainda merece melhor precisão. E o motor pede uma "sexta marcha". Lembra que eu disse que as relações eram muito curtas? Pois é, essa quinta se ressente disso, o motor berra bastante e roda a 3.000 giros. Para piorar, o isolamento acústico deixa a desejar.
O bom é que a robustez de sempre está menos sedenta. A nova Strada cabine simples Freedom 1.3 faz médias de 12,8 km/l na cidade e de 14,2 km/l, na estrada, com gasolina. Com etanol, os números ficam em respectivos 9 km/l e 9,8 km/l. Esses dados são do Inmetro, mas na avaliação do WM1, a média ficou em 13,3 km/l na cidade com gasolina e caçamba vazia - carregada, baixou para 12,6 km/l.
Inegavelmente, a nova Strada está mais confortável. Só não dá para chamar de Cabine Plus, como o marketing da Fiat quer. Essa configuração cabine simples proporciona o que se tem na maioria das picapes compactas.
Espaço é justo para as pernas, mas não é possível levar muita coisa lá dentro, pois não tem o mesmo ambiente das antigas cabines estendidas. Mal dá para colocar uma mochila atrás dos bancos.
Sendo pragmático, se você é solteiro ou casado sem filhos (sem cachorros, gatos ou calopsitas também), e precisa mesclar trabalho e lazer com a picape, essa Strada Freedom, que custa R$ 73.990 com cabine menor, pode te atender.
Afinal, a caçamba vem com capota marítima e é possível levar malas ali numa boa, assim como bicicletas. E nesta nova geração, a Fiat ficou com pena do usuário que precisa abrir e fechar a tampa traseira o tempo todo. Ela está mais fácil de manusear graças a um novo sistema de amortecimento. Não ficou tão mais leve, mas pelo menos não te obriga a fazer musculação compulsória como antes.
Agora, se você precisa de espaço no habitáculo, terá de apelar para a cabine dupla. A capacidade de carga nem cai tanto (650 kg), mas o volume da caçamba baixa de 1.354 litros para 844 litros. Ah, e custa R$ 7.200 a mais - caso o desejo seja se manter na opção Freedom. Até porque essa configuração intermediária da nova Strada se revela com ótimo custo/benefício.
Além dos já citados ESP, direção elétrica, ajuste de altura do volante e capota marítima, a Strada Freedom sai de fábrica com assistente à partida em rampas, monitoramento da pressão dos pneus, ar-condicionado, trio elétrico, computador de bordo, chave com telecomando, luzes diurnas, faróis de neblina, rodas de liga leve aro 15" e som com entrada USB e Bluetooth.
O modelo avaliado vinha com o Pack Tech. O kit de opcionais inclui central multimídia Uconnect com tela de 7", tweeters, USB, comandos no volante, além dos sempre bem vindos câmera e sensor de ré. Custa R$ 2.990.
O modelo só é equipado com as bolsas frontais obrigatórias por lei. Mas tem outro pacote de opcionais, chamado Pack Safety, que por R$ 2 mil oferece airbags laterais e o aviso de não afivelamento do cinto de segurança.
Outro item comprado à parte é o protetor de cárter (R$ 200). Ainda tem aquela penca de acessórios de concessionária da Mopar, entre eles o bacana extensor de caçamba, que permite você levar até uma moto na Strada.
No acabamento interno, a Strada cabine simples poderia ser mais Nutella, pois o apego às tradições ainda se impõe no plástico duro que domina boa parte do revestimento. Porém, em relação à antiga, o material aparenta mais qualidade e notadamente há mais cuidado em fechamentos e encaixes.
Para quem quer partir para uma picape renovada, mais confortável e eficiente, que dá conta do trabalho e ainda permite uma escapada no fim de semana, a nova Strada Freedom é uma ótima opção.
Agora, para quem pensa mais no custo imediato - ou é apegado às tradições -, tem a Endurance com o velho motor 1.4 Fire de 88/85 cv, menos equipada e mais barata: R$ 65.990. Porém, se for pôr na ponta do lápis o custo operacional...
Vamos lá, confira comigo. Primeiro, relembro o consumo, quesito onde o Firefly é mais eficiente.
E na manutenção, a versão avaliada tem um custo total de seis revisões com preço fixo obrigatórias mais em conta.
Ou seja: o modelo com motor mais moderno vale a pena no médio prazo. E ainda te dá mais diversão ao volante.
FIAT - STRADA - 2021 |
1.3 FIREFLY FLEX FREEDOM CS MANUAL |
R$ 83114 |
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