“Muito bom, mas poderia ser ainda melhor”. Essa é a frase mais direta e honesta para resumir o Hyundai Creta N Line Night Edition, uma série limitada a somente 900 unidades numeradas que aposta em um design cheio de elementos escurecidos, interessante lista de equipamentos, e um motor 2.0 de quatro cilindros aspirado de 167 cv para cobrar R$ 183.390.
A avaliação de um Creta deve sempre começar pelo seu design. Não existe outro caminho. E isso simplesmente pelo fato de seu visual ser polêmico. E não se trata de uma questão de ser bonito ou feio, porque beleza é relativa, mas sim de agradar logo de cara ou não.
Quando lançado, em 2021, o novo Creta foi alvo de duras críticas. A ousadia dos traços provocou estranheza. Mas aos poucos parece que as pessoas foram se acostumando a ponto de a edição limitada N Line Night Edition arrancar um sorriso de canto de boca, e até mesmo elogios, de algumas pessoas.
Com a carroceria em um belo Cinza Silk, todos os elementos escurecidos do Hyundai se destacam de maneira interessante. A começar pela grade frontal toda em preto brilhante com o "N Line" tatuado em seu canto superior direito.
Os faróis em LED com detalhes em black piano chamam a atenção para um dos pontos mais criticados do Creta, o conjunto óptico traseiro. Ousadia por parte da Hyundai, devemos admitir. Poderiam ter colocado uma máscara negra, por exemplo. Mas não, exaltaram o “olhar” e achamos, sinceramente, que ficou legal – não deixe de comentar o que você achou do design!
Com desenho exclusivo, as rodas de liga leve de 18 polegadas também são em preto brilhante, assim como teto, spoiler traseiro, capas dos espelhos retrovisores externos e difusor traseiro, que exibe escape com ponteira dupla.
Convenhamos que não se trata de um trabalho inédito ou completamente diferente do que outras marcas já criaram com peças escurecidas, como é o caso da Chevrolet e suas versões Midnight, mas é preciso concordar que todas as modificações feitas deixaram o Creta interessante.
Com a chave no bolso, chegamos perto do Creta e os espelhos retrovisores externos abrem. Tocamos na maçaneta já apertando o botão nela embutido, e as portas destravam. Em menos de 30 segundos "sacamos" que a proposta do interior segue a receita universal da esportividade que mais lembra uma receita de bolo de vó (ou seja, todo mundo conhece, sabe fazer e funciona):
Bancos, volante e coifa da manopla de câmbio são revestidos de couro preto com costuras vermelhas, o teto tem tecido preto e o “N” em alusão à série especial “N Line” está esculpido na manopla e nos encostos dos bancos dianteiros.
Durante a avaliação, o Creta N Line Night Edition apresentou um comportamento igual ao da versão topo de linha Ultimate. E isso por uma razão simples: as duas configurações utilizam o mesmo motor 2.0 flex de quatro cilindros, aspirado, que rende até 167 cv (etanol)/157 cv (gasolina) de potência a 6.200 rpm, e 20,6 kgf.m (e)/19,2 kgf.m (g) de torque a 4.700 giros. A transmissão é sempre automática de seis marchas. E apenas completando os números de desempenho declarados pela fábrica, a aceleração de zero a 100 km/h acontece em 9,3 segundos e a velocidade máxima é de 190 km/h.
Trata-se de um carro que entrega uma boa performance, alcançando seu ápice sempre em rotações mais elevadas. Mas em nenhum momento o Creta N Line Night Edition faz a gente prender a respiração por alguns momentos por conta do desempenho. A esportividade pode ganhar um pouco mais de tempero quando usamos as grandes aletas atrás do volante.
Outra forma que o Creta N Line Night Edition oferece para levemente apimentar a condução, mesmo que com pimenta biquinho (pouco ardida), é com o Drive Mode, que tem quatro configurações pré-estabelecidas: normal, eco, smart e sport. Todas alteram, basicamente, a forma como o desempenho do N Line é entregue.
Na sport, por exemplo, o SUV trabalha com rotações mais elevadas, a direção elétrica progressiva fica mais pesada e as respostas ao acelerador são mais imediatas. Já na eco, por exemplo, tudo fica mais suave. As trocas de marchas acontecem em rotações mais baixas, o volante fica mais leve e as reações ao pedal da direita são mais lentas - tudo em busca de uma maior economia de combustível.
Uma economia que, aliás, não é das melhores. Este motor 2.0 litros de quatro cilindros da Hyundai tem um consumo mais elevado em comparação ao de alguns concorrentes diretos, que usam propulsores turbinados. Mesmo rodando boa parte do período de testes na cidade com a função eco acionada, ar-condicionado desligado, e o sistema start-stop ligado (o dispositivo desliga e liga o motor automaticamente no anda e para dos engarrafamentos e nos semáforos), não conseguimos um consumo superior a 8,2 km/l (etanol).
Ainda assim, este número é melhor que o anunciado oficialmente pela marca, que é de 7,7 km/l na cidade, quando abastecido com combustível derivado da cana-de-açúcar. Na estrada, o consumo melhora para 8,9 km/l. Já com gasolina, os dados da Hyundai são 10,9 km/h no perímetro urbano e 12,5 km/l, no rodoviário.
O câmbio automático de seis marchas com conversor de torque tenta extrair o melhor do carro de acordo com o modo de condução selecionado. Os engates são bem suaves, e seu funcionamento é muito silencioso.
Diante da concorrência, o Creta topo de linha acaba adotando uma filosofia diferente a partir da adoção de um motor 2.0 aspirado. A maioria já opta por motores turbo para, principalmente, gerar maior torque em baixas rotações e um consumo de combustível ligeiramente mais eficiente. O Volkswagen T-Cross Highline, por exemplo, usa um 1.4 turbo de quatro cilindros que gera 25,5 kgf.m de torque e 150 cv de potência. Já o Honda HR-V Advance vai de 1.5 turbo com 24,5 kgf.m de torque e até 177 cv.
Pensando em esportividade, talvez um motor turbo fosse mais interessante para o Creta N Line Night Edition. Quem sabe o 1.6 turbo do Tucson, que fornece 177 cv e 27 kgf.m?
O conforto, definitivamente, é um dos pontos altos do Creta. Apesar de sugerir alguma esportividade, sua receita é baseada na comodidade de motoristas e passageiros. O revestimento acústico é bom, impedindo que ruídos do motor, dos pneus no asfalto ou do vento entrem na cabine. Os plásticos estão por todos os lados, mas as texturas diferentes conseguem transmitir boa impressão. Destaque para as peças bem encaixadas, o que mostra qualidade na montagem do carro.
O ajuste da suspensão também agrada pelo equilíbrio, sendo macia na medida certa – longe de ser rígida ou molenga demais. Amortecedores e molas trabalham muito bem impedindo a oscilação da carroceria e transmitindo segurança em mudanças rápidas de direção, e ainda absorvem bem as crateras (comuns) nas ruas e avenidas paulistanas, evitando batidas secas.
Os bancos revestidos de couro recebem bem o corpo de quem está dirigindo, com bom espaço para as coxas e para acomodar as costas. Apesar da proposta esportiva, os assentos não têm uma pegada de competição, como em outros modelos. Sendo assim, as abas laterais são mais abertas, permitindo que motoristas de tamanho PP ao XXG sintam-se confortáveis.
Para quem viaja no banco traseiro, as comodidades são o excelente acesso (nada de aperto) e o amplo espaço para pernas, ombros e cabeça. Lembrando que o Creta tem 4,30 m de comprimento, sendo 2,61 m de distância entre os eixos, 1,79 m de largura e 1,63 m de altura. Essas medidas fazem do Hyundai o SUV compacto mais SUV médio da categoria. Ah, e só para não deixar passar, o porta-malas leva ideais 422 litros.
A versão topo de linha do Creta é dotada de boas tecnologias voltadas tanto para assistência à condução do motorista como para a comodidade e segurança de todos. O painel de instrumentos mistura leitores analógicos com uma tela configurável de sete polegadas, que traz todas as informações necessárias sobre o carro – e que muda de cor de acordo com o modo de condução selecionado.
A versão Night Edition é equipada com o sistema de monitoramento de pontos cegos a partir de câmeras posicionadas nas laterais do carro, que projetam uma imagem no centro do painel sobre o que está acontecendo ao lado do veículo quando é acionada a seta para a esquerda ou para a direita. Um recurso interessante, mas ao qual é preciso se acostumar – ainda preferimos “bater o olho” no espelho retrovisor antes de mudar de faixa...
A central multimídia também é bem completa, com tela de 10,25 polegadas colorida e sensível ao toque, e que traz inúmeras funcionalidades, como navegação por GPS. Bastante intuitiva, ela tem uma falha grave, na nossa análise: o pareamento com Android Auto ou Apple CarPlay somente via cabo. Além de ser um SUV que flerta com os R$ 190 mil, atualmente é uma comodidade enorme entrar no carro com o smartphone no bolso da calça ou dentro da mochila e o sistema já se conectar, botando para tocar a música que você estava escutando e permitindo que seja selecionado o trajeto pelo Waze ou Google Maps com total agilidade.
O sistema de som é da marca Bose (muito bom), e há também carregador de celular por indução (wireless charger), um belo teto solar panorâmico que pode ser aberto por comando de voz, acendimento automático dos faróis, câmera 360 (mão na roda para fazer manobras em locais apertados), controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão frontal com frenagem de emergência para carros, ciclistas e pedestres, assistentes de permanência e centralização em faixa, farol alto adaptativo, freio de estacionamento eletrônico com função Auto Hold, Isofix, e seis airbags (frontais, laterais e de cortina).
O Hyundai Creta N Line Night Edition é a versão topo de linha do SUV médio da Hyundai - está posicionado acima da Ultimate. Por isso, seu preço inicial é de R$ 183.390, e o único opcional é a cor, que pode custar R$ 2.400 se o futuro proprietário escolher o tom Branco Atlas com teto preto, ou R$ 3.300 se for o Cinza Silk com teto preto, igual a avaliada pelo WM1. Sendo assim, o preço pode chegar a R$ 186.690.
O valor está na faixa dos concorrentes diretos. O Honda HR-V Advance com motor 1.5 Turbo (versão de entrada), por exemplo, custa R$ 185.700, e o Volkswagen T-Cross Highline 250 TSI, que parte de R$ 165.990, pode chegar, completinho, a R$ 180.490.
Quanto às revisões, as seis primeiras (até 60.000 km) custam R$ 4.556,55. O valor não é o mais barato, mas também não é o mais caro em relação aos demais SUVs compactos. A Chevrolet, por exemplo, cobra R$ 4.568 pelas seis primeiras revisões do Tracker. Já as revisões do Honda HR-V ficam em R$ 6.093,44, e as do Volkswagen T-Cross Highline não saem por menos de R$ 3.211,05.
A resposta para a pergunta acima é “sim”! Além de ser uma série limitada a 900 unidades, ou seja, algo com certa exclusividade, o Creta N Line Night Edition é espaçoso, confortável e especificamente nessa configuração muito bem equipado, com vários itens de tecnologia que agregam valor. Bonito ou feio é uma questão de gosto, mas com certeza esses apliques pretos fazem o SUV da marca sul-coreana chamar a atenção.
No entanto, o SUV "poderia ser ainda melhor", como dissemos lá no início desta avaliação. E isso essencialmente pelo fato de o motor 2.0 não entregar a esportividade que este Hyundai merecia ter. Apesar de sabermos que um veículo com a insígnia “N Line” se compromete apenas em oferecer um visual mais arrojado – e isso ele entrega, definitivamente –, um comportamento mais “apimentado” e marcante poderia ser um grande diferencial, fazendo do Creta N Line Night Edition um carro não apenas exclusivo, mas muito desejado também.