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Teste: Mercedes C300 Estate #SalvemAsPeruas

Única station wagon comercializada pela Mercedes no Brasil custa R$ 278.900 e conquista pelo bom desempenho

por Marcelo Monegato

Como um cara racional, centrado, tido como tradicionalista se transforma, de uma hora para a outra, em uma figura praticamente única, cheia de personalidade, no trânsito de São Paulo? Simples! Entra em uma concessionária premium, diz não aos sedãs, resiste bravamente aos argumentos sedutores dos SUVs (utilitários esportivos) e sai de lá ‘pilotando’ uma perua, uma bela station wagon, como a Mercedes-Benz C300 Estate, que tive a oportunidade – ou melhor, o prazer – de avaliar pelas ruas de São Paulo.

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A C300 Estate é a única SW vendida pela marca alemã no Brasil. Infelizmente, pois a Mercedes produz algumas das stations mais ‘cabeçudas’, como a mais rápida do mundo: E63 S AMG Estate, que vai de 0 a 100 km/h em somente 3,5 segundos. Mas vamos com o que tem para hoje...

A wagon alemã é equipada com motor 2.0 de quatro cilindros, com turbo compressor, com injeção direta de combustível (apenas gasolina). E o que impressiona é a agilidade desta grandalhona de 4,70 metros de comprimento e 1.595 quilos. As acelerações são realmente intensas e as retomadas extremamente vigorosas, graças a um torque de 37,7 kgf.m já a partir de 1.300 giros – e que permanece ‘full’ até 4.000 rotações. Para não parecer que estou exagerando, a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 6,1 segundos – o Volkswagen Golf GTI demora 7 segundos. Com 245 cv de potência máxima a 5.500 rpm, a velocidade máxima é de 250 km/h (limitada eletronicamente).

Fato: o motor é muito bom, mesclando performance e eficiência – o consumo de combustível é de 9,4 km/l na cidade e 13,4 km/l na estrada, de acordo com dados da fabricante. No entanto, o responsável por extrair elogios do bloco é a transmissão automática de 9 marchas 9G-Tronic, com conversor de torque – nada de CVT (relação continuamente variável) ou dupla embreagem. Passeando com a família, as trocas de marchas acontecem de maneira extremamente suave e, sim, imperceptíveis. Porém, quando a ideia é se divertir um pouco, e o acelerador passa mais tempo ‘esmagado’ contra o assoalho, as mudanças começam a ser mais perceptíveis e em giros mais elevados.

Existe a possibilidade de trocas manuais pelas aletas atrás do volante – conhecidas tecnicamente como Paddle Shift e popularmente chamada de ‘Borboletas’. E mesmo sendo uma perua, carro teoricamente para a família, a C300 Estate instiga a chamar as marchas na ponta dos dedos. Especialmente quando recorremos ao Dynamic Select – recurso eletrônico que permite escolher entre cinco personalidades da perua: ECO, Comfort, Sport, Sport+ e Individual – e optamos pela Sport+, que acaba deixando todas as reações mais intensas. Faz da Mercedes uma pequena ferida aberta.

Para não ficar dúvidas, o Dynamic Select – que pode ser dedilhado por meio de um botão do lado esquerdo do touchpad – atua eletronicamente em alguns componentes do carro, como resposta do acelerador, momento da troca de marcha, entre outros. A ECO, por exemplo, busca entregar uma condução eficiência, focada na economia de combustível. Para isso troca as marchas em giros mais baixos e as respostas do acelerador são tardias. Na Sport+ tudo se inverte. Na individual, por fiz, o motorista pode escolher como cada componente afetado deve se comportar – de forma esportiva, confortável ou econômica.

Outra característica que arrebata corações aficionados por dirigir é a filosofia de construção e o ajuste refinado da suspensão da Estate. Independente nas quatro rodas, tem quatro braços na dianteira e cinco na traseira. Macia para gerar conforto e absorver os buracos do asfalto, transmitindo poucas oscilações para a cabine de maneira silenciosa, ela consegue ser firme na medida para evitar inclinações da carroceria em curvas mais fortes e frenagens mais bruscas. Em mudanças de direção, a carroceria da C300 não rola. Admito: a cada curva eu abusava um pouco mais da perua. E ela instigava: “só isso, Monega?”
Ah! Toda essa diversão ao volante tem como tempero especial a tração traseira. Tesão!

A eletrônica se faz presente. Controles de tração e estabilidade são itens de segurança e estão lá para corrigir erros e abusos, e salvar vidas. Mas a SW é tão equilibrada, tão previsível de suas reações, que mesmo quando eu estava com o capetinha no ombro enquanto me divertia em rodovias com trechos sinuosos que os recursos eletrônicos atuaram muito pouco, mostrando uma face permissiva, que me deixou várias vezes flertar com o limite – talvez com o meu limite, não o da station wagon.

ESPAÇO E COMODIDADE

Perua não deve em nada em espaço para os utilitários esportivos, aliás, na minha opinião são mais interessantes e racionais – não se seduza pelo porte dos SUVs nas ruas. A Estate tem 4,70 metros de comprimento, sendo 2,84 metros de distância entre os eixos. No entanto, o que mais chama a atenção é mesmo a capacidade do porta-malas. São 490 litros. Com os bancos traseiros rebatidos – e isso é feito de maneira extremamente prática apertando apenas dois botões próximos à tampa do bagageiro – o espaço cresce para incríveis 1.510 litros.

A grandalhona também impressiona pela capacidade de tratar bem que a utiliza. O motorista tem regulagens elétricas do banco e da coluna de direção (altura e profundidade). Os bancos, ao contrário das stations wagons focadas 100% em performance, têm abas mais abertas, privilegiando o conforto e não propriamente a ‘pegada’ para travar as costas do ‘piloto’. Destaque também para a excelente empunhadura do volante multifuncional.

Como o seletor do câmbio fica na coluna de direção como uma aleta do indicador de direção (vulgo seta), o console central traz o touchpad, recurso que a Mercedes oferece para acessar a central multimídia, que não tem tela sensível ao toque. Apesar de um pouco estranho no começa, a usabilidade do touch se torna intuitiva com o passar do tempo. A gente acaba se acostumando, na realidade – mas, reforço: seria melhor se a tela respondesse aos comandos do dedo na tela...

E a central é muito boa. Tem função de navegação por GPS, exibe todas as informações do veículo e é compatível com Android Auto e Apple CarPlay. Me chama a atenção a rapidez com que as ações solicitadas são executadas. É um sistema que tem evoluído consideravelmente.

Entre os itens de série, destaque para o teto solar, ISOFIX para fixação da cadeirinha infantil, câmera de ré, bancos revestidos em couro, acabamento em piano black e alumínio escovado, controlador e limitador de velocidade, acionamento elétrico da tampa do porta-malas, entre outros. Não há opcionais.

CUSTOS

O ponto fraco da C300 Estate está nas cifras. O modelo custa R$ 278.900. Caro? Sim! E por este valor é possível encontrar concorrentes interessantes, claro, entre os SUVs. Aí estou falando de Volvo XC60, Audi Q5 e Jeep Grand Cherokee. Entre as peruas, a única rival em solo brasileiro é a Audi A4 Avant. A manutenção tem preços fixos. As três primeiras têm valor (somado) de R$ 4.400.

VALE A COMPRA?

Para quem tem bala na agulha e no ranking de fatores que motivam a compra de um carro estejam ‘espaço’ e ‘prazer ao volante’, a resposta é ‘sim’, a C300 Estate é uma excelente opção, pois entrega tudo o que promete. Agora, se dirigir não é algo prazeroso para o futuro proprietário, pois encara um carro como um simples meio de transporte, minha sugestão é ir de SUV mesmo para não se decepcionar com o tempo.


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