Para mim, o Jimny passou de “coisa”, como mencionei no início da matéria, para um carro muito legal, me deixando a clara impressão de que é o ‘city car’ ideal para quem mora em grandes centros brasileiros como São Paulo, onde o asfalto é uma droga (para não falar outra coisa), ser compacto é uma vantagem e não ser cobiçado pelos ladrões um motivo a menos para perder o sono – é preciso ter atenção apenas com o estepe na tampa traseira, um chamariz de vagabundo.
A conversa começou mais ou menos assim: “Monega, é um p#%a carrinho que aguenta desaforo. Foi feito pra isso, p#%%@! Não tem requinte nem nada, o acabamento é simplão, mas certinho, e anda bem. Me divirto. Pra você ter uma ideia, em três meses já tive que fazer a revisão de 10 mil (quilômetros) de tanto que eu tô rodando”. Este foi o resumo que um grande amigo - jovem e talentoso jornalista automotivo da Mooca, Zona Leste de São Paulo - fez sobre seu novo Suzuki Jimny, quando eu, de maneira jocosa, perguntei se estava gostando dessa “coisa”.
Pois é, quem diria que semanas depois desta conversa, cairia no meu colo a missão de testar para o WM1 este jipinho e – contra minha vontade – concordar com cada palavra do moleque (como o chamo), após rodar quase 400 quilômetros...
Para avaliar tudo o que o Jimny oferece, a Suzuki liberou a versão topo de linha 4Sport, que em outubro, em sua linha 2018, ganhou duas mudanças pontuais: ganhou central multimídia com tela sensível ao toque, que antes era opcional, e painel de instrumentos com computador de bordo. A unidade que avaliei, no entanto, ainda era a 2017, portanto sem a central e o painel – sendo assim: “não assisti, não posso opinar” – Pires, Glória.
O Suzuki Jimny parte de R$ 67.490 na configuração 4Work. A versão por mim avaliada, a 4Sport, é a topo de linha e custa R$ 76.690
Pulo para dentro do jipinho e, mesmo antes de afivelar o cinto de segurança, ‘bato’ na chave e a ignição faz um barulho estranho. De maneira silenciosa e com pouquíssimas vibrações, o motor 1.3 16V de quatro cilindros em linha (injeção eletrônica) já trabalhava – e este que vos escreve não havia percebido. Esperava algo mais xucro – barulhento e trêmulo – mesmo para o pequeno propulsor de apenas 85 cv de potência máxima e 11,2 kgf.m de torque.
Apesar de não ter regulagens de altura ou profundidade da coluna de direção, ou sequer ajuste de altura do banco do motorista (pontos negativos), a posição ao volante particularmente me agradou – o mesmo não acontecerá para os grandalhões. Como manda o manual do jipe-raiz e não do jipe-nutella, no Jimny a posição é bastante elevada, um pouco similar à maioria destes novos utilitários esportivos compactos. O inusitado, porém, é que a sensação no Suzuki é que se está bem mais alto, pois a linha de cintura da porta é bem baixa, fazendo com que a ‘janela’ comece quase que na altura da barriga do motora. Coisas de jipe...
Engato primeira marcha e percebo imediatamente um câmbio bem justo e preciso. A alavanca alta treme um pouco, porém menos que alguns veículos de passeio. O pedal da embreagem é longo, mas firme na medida certa, mas não impede de cansar a perna no anda e para dos engarrafamentos paulistanos. Talvez não esteja nos planos da Suzuki, mas um Jimny automático, pensando naqueles ‘aventureiros do asfalto’, poderia ser uma boa pedida – não foram poucos os proprietários do jipinho que me revelaram não ter encarado uma trilha, mesmo que de leve.
A relação é bastante curta, então é preciso se acostumar com o Jimny para não ficar trocando de marcha toda hora. Primeira, segunda e terceira conseguem extrair bem o que de melhor tem este motor da Suzuki. Quarta e quinta são um pouco mais longas, mas estão longe de serem ‘overdrive’, focadas na economia de combustível. Rodar a 120 km/h no Jimny é ver o ponteiro do conta-giros ultrapassar a barreira dos 4.000 rpm. De acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro, o jipinho fabricado no Brasil desde 2012 – atualmente sai da planta de Catalão, em Goiás – crava 10,3 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada.
As acelerações e retomadas, por conta desta personalidade da transmissão, são intensas. Como um legítimo tração traseira, o Jimny até dá aquela levantadinha na dianteira quando soco o pé no acelerador. É um carrinho muito esperto – lembrando que pesa somente 1.090 quilos.
O nível de ruído interno é mediano – está longe de ter o silêncio dos SUVs compactos –, mas também não incomoda ao ponto de ter que levantar o volume da voz para conversar com os demais passageiros. O barulho mais forte vem mesmo do vento e dos pneus, que são de uso misto (rodas de liga leve de 15 polegadas ‘calçadas’ com ATR 205/70 R15), portanto com sulcos maiores para rodar na lama. O Jimny não tem controles de tração ou estabilidade, e os freios – a disco na dianteira e tambor, na traseira – contam com sistema ABS (antitravamento).
A suspensão tem um setup bastante macio e extremamente resistente – eixo rígido. E esta é uma combinação perfeita para rodar em São Paulo. Ao avistar o primeiro buraco na Marginal Pinheiros, desviei e a carroceria oscilou de um lado para o outro, nada que causasse desconforto ou transmitisse falta de segurança. No entanto, na cratera seguinte, uma daquelas que ‘racharia’ ao meio um carro de passeio comum, mirei no meio e fui com fé. Resultado: o Suzuki ‘jantou a vala', como se fosse a coisa mais comum na sua vida. Pensei: “carrinho marrento da ‘zorra’!”
A direção é hidráulica e pouco direta – uma folguinha, aliás, boa para rodar especialmente entradas de terra. O que impressiona é o excelente raio de giro, superior a muitos carros que se dizem urbanoides. Fazer manobras – entrar e sair de vagas apertadas ou fazer aquele retorno em ruas estreitas – é extremamente fácil.
Não é um carro para quem tem filhos, mas um excelente parceiro para casais que gostam de viajar aos finais de semana ou para quem encara solitário os congestionamentos diários
Ajuda muito o fato de o Suzuki ser compacto demais. Tem somente 3,64 metros de comprimento, 1,70 metro de altura e somente 1,60 metro de largura. Isso significa que qualquer espaço é um latifúndio para o Jimny. Não é concorrente e tão pouco tem esta pretensão, mas o Fiat 500, o queridinho daqueles que buscam um carro prático para o dia a dia, é apenas 10 centímetros menor.
O porta-malas tem capacidade para somente 113 litros. Podemos dizer que é um grande porta-luvas. Realmente não cabe nada! A sugestão é comprar um bagageiro de teto para ampliar esta capacidade para algo em torno de 300 litros – equivalente ao porta-malas do novo Volkswagen Polo. O bom é que o banco traseiro bipartido rebate, permitindo transportar objetos maiores.
Com essas medidas de cubo mágico, lógico que o espaço interno acaba prejudicado. O Jimny transporta apenas quatro pessoas. Dois adultos na frente e duas crianças atrás. Dois adultos conseguem ir no banco traseiro – que tem cinto de três pontos e encosto de cabeça para ambos –, mas extremamente apertados. O acesso à parte traseira, no entanto, é ok. As portas são grandes e os bancos dianteiros, quando rebatidos, têm amplitude longitudinal para liberar a passagem. Colocar uma cadeirinha infantil é mil vezes mais fácil que no 500, que em alguns casos sequer consegue permitir que a cadeirinha entre no carro – falo por experiência própria...
Além da direção hidráulica, o Suzuki tem ar-condicionado, travas, vidros e espelhos elétricos. Só. Precisa de mais? Então o Jimny não é para você!
Testar o Jimny e não o levar para dar um rolê na terra é como ir a uma lanchonente gordurenta e avaliar somente a salada. Fui então brincar um pouco com o Suzuki longe do asfalto. Impressionante como a praticidade do jipinho de segunda a sexta se transforma em valentia na terra. A tração 4x2 vira 4x4 apertando um simples botão no console, e esta operação pode ser feita com o pequenino rodando a até 100 km/h. Também tem reduzida, que também é acionada pressionando um outro botão. Nesta configuração, a impressão é que o Jimny pode escalar uma parede com 90° de inclinação. E é apenas um motor 1.3 a gasolina...
Os ângulos de entrada e saída são muito bons – 35° e 45º, respectivamente – e a altura livre do solo é de 200 milímetros. Nada parecia assustar o Jimny. Todas os obstáculos que propus, o Suzuki superou e, com certeza, zoou com a minha cara: “Só isso, Monega? Para de brincar e vamos fazer algo de gente grande, por favor!”
O Jimny é um jipe, não um SUV! Seu concorrente, apesar de ser muito mais caro, é o Troller T4. Por isso, exigir conforto como prioridade do Suzuki é desleal. O acabamento, como o ‘moleque’ cravou, é simples, mas certinho. Tudo está muito bem encaixado e no treme-treme das vias judiadas não há ruído de peças desencaixadas. Os bancos são revestidos com material sintético – não é couro, mas também não é tecido (o que é bom!) – e não há materiais que buscam oferecer requinte. A proposta é ser ‘bruto’ também no visual, e o Jimny é! E eu encarei isso como qualidade, não defeito. Como traços da sua personalidade.
Além da direção hidráulica, o Suzuki tem ar-condicionado, travas, vidros e espelhos elétricos. Só. Precisa de mais? Então o Jimny não é para você!
O Suzuki Jimny parte de R$ 67.490 na configuração 4Work. A versão por mim avaliada, a 4Sport, é a topo de linha e custa R$ 76.690. A garantia é de três anos e o custo das seis primeiras revisões sai por R$ 3.618 – não chega a ser exorbitante, mas está longe de ser ‘barata’. Já o preço do seguro médio, segundo cotação no Autocompara, ficou em R$ 6.240 – a franquia ficou em R$ 5.825.
E não é que o ‘moleque’ tinha razão! Para mim, o Jimny passou de “coisa”, como mencionei no início da matéria, para um carro muito legal, me deixando a clara impressão de que é o ‘city car’ ideal para quem mora em grandes centros brasileiros como São Paulo, onde o asfalto é uma droga (para não falar outra coisa), ser compacto é uma vantagem e não ser cobiçado pelos ladrões um motivo a menos para perder o sono – é preciso ter atenção apenas com o estepe na tampa traseira, um chamariz de vagabundo. Não é um carro para quem tem filhos, mas um excelente parceiro para casais que gostam de viajar aos finais de semana ou para quem encara solitário os congestionamentos diários.
SUZUKI - JIMNY - 2018 |
1.3 4SPORT 4X4 16V GASOLINA 2P MANUAL |
R$ 76690 |
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