A Volkswagen Saveiro mudou no final de agosto e ganhou uma nova versão topo de linha, a Extreme, justamente a que foi convocada para o teste de hoje aqui no WM1.
Apenas para relembrar, agora a picape é vendida em três versões - Robust, Trendline e Extreme - sendo que a de entrada, Robust, pode ter cabine simples ou dupla; a Trendline só tem cabine simples; e a Extreme, só cabine dupla.
Rodei por uma semana com a Extreme, cheguei a fazer mudança e até peguei estrada. Meu veredito? É uma picape mais "raiz", como se diz na linguagem moderna: feita para quem gosta de dirigir e trocar de marcha. E tem como maior vantagem, frente à rival compacta da Fiat, o preço inferior.
"Raiz" no bom e no mau sentido.
O lado bom: ela é prazerosa de se dirigir, principalmente para quem realmente gosta - ou, digamos, ainda tem paciência - de trocar marcha.
Dinâmica bem acertada, motor com (muito) fôlego e câmbio curto e preciso. É um conjunto gostoso de ser tocado.
A suspensão bate um pouco e poderia receber melhor os impactos do nosso asfalto, mas também não joga contra e, vale dizer, ficou ligeiramente melhor se comparada à da última Saveiro, antes da mudança, que tinha 1 cm a menos de altura na parte dianteira.
O lado ruim: são pontos que jogam contra não ter câmbio automático e ainda ser feita sobre a mesma plataforma desde 2009 - a PQ24, a mesma de Fox, Gol e Voyage.
Primeiro porque a Strada ganhou transmissão automática há mais de ano e isso certamente é um diferencial a ser considerado hoje em dia, em um mundo que vende cada vez menos carros manuais.
Segundo porque a Saveiro, hoje, é a remanescente dessa plataforma que existe desde 2003, quando o Fox foi lançado no Brasil.
São 20 anos de história... E acho que isso já explica por que a Saveiro (ainda) não tem equipamentos modernos como assistentes de condução e, acredite, a opção de oferecer quatro portas, como a rival.
Isso também acarreta na escolha de conjunto mecânico utilizado pelo carro.
A Saveiro até hoje usa o motor 1.6 da família EA211 de 16 válvulas, que rende 116 cv e 16,1 kgf.m de torque. E não deve receber, ao menos nesta geração, algum tipo de conjunto turbinado.
Resultado? Apesar de ser esperta - muito por conta, também, do baixo peso, de 1.135 quilos -, o consumo também deixa a desejar: 7,8 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada, com etanol; e 11,3 km/l e 12,6 km/l, respectivamente, na estrada.
A história se repete quando vamos para a parte de dentro.
A começar pela estrutura da picape, que só tem duas portas - o que joga contra quando lembramos que a Fiat Strada tem quatro portas desde 2020 e que, mesmo na antiga geração, a Fiat havia criado uma solução de porta traseira suicida para facilitar o embarque dos passageiros. Lembra disso?
Entre comigo na Saveiro pelo álbum de fotos que você vê acima e repare no acabamento. É mediano. É ótimo para um carro de 2013, mas não é tão bom para um modelo 2024, como é o caso.
Não estou dizendo que a Strada dá um banho na Saveiro nesse aspecto, mas fica até complicado de se comparar, não apenas pela qualidade dos materiais, mas também por soluções de engenharia da inovadora Fiat Strada, que são praticamente inimagináveis de se ver na Saveiro.
Quer um exemplo simples? O formato do painel da Fiat, feito para receber a central multimídia bem maior da Strada, que tem CarPlay e Android Auto sem fio e ainda oferece botões mais anatômicos na parte superior.
Agora veja como é o painel da Saveiro quando comparado ao da Strada: a multimídia, pequena, foi encaixada onde antigamente eram instalados sistemas de áudio conhecidos como "double din".
Note ainda que as peças, de modo geral, são mais retilíneas e "adaptadas" - algo comum em carros que passam por diversas reestilizações antes de trocar de geração.
Não temos como deixar de falar sobre a caçamba. São 580 litros, volume até considerável para quem procura um modelo para transporte de carga, mas que... Mais uma vez, por conta da idade do projeto, fica para trás na comparação com a principal concorrente.
A Fiat Strada CD (cabine dupla) leva 844 litros.
A Saveiro com cabine simples tem 924 litros de capacidade. A Strada CS? Acredite, 1.354 litros. Reflexo de um projeto mais novo e pensado estrategicamente pela engenharia do Grupo Stellantis.
Mas no que a Saveiro ganha da Strada atualmente? No preço.
A Saveiro cobra R$ 95.770 na versão Robust CS e R$ 109.710 na Robust CD; R$ 101.490 na Trendline CS e R$ 114.580 na Extreme CD, que testamos.
A Strada, por sua vez, começa em R$ 100.990 na configuração de entrada, Endurance, com cabine simples; sobe para R$ 106.990 na Freedom com cabine estendida e R$ 112.990 na Freedom de cabine dupla; R$ 114.990 na Volcano CD e R$ 120.990 na Volcano CD automática; e termina em R$ 132.990 nas variantes Ultra e Ranch, topo de gama com câmbio automático e motor turbo.
Resumo: a Saveiro já aparenta a idade e perde para a Strada em diversos aspectos, mas ainda dá um caldo para quem curte um carro manual e gostoso de dirigir.
E como essa reportagem não é um comparativo, vamos ressaltar os pontos positivos da picapinha da Volks - ela é esperta, divertida e veterana.
Para quem prefere um modelo mais "raiz", levando em consideração o lado bom que isso possa ter, justamente o ponto de ser "veterano" -, é ela ainda é uma ótima pedida.