Finalmente tivemos a experiência de andar com a versão original da Yamaha R15, moto que foi apresentada oficialmente em junho de 2023 no Festival Interlagos, na capital paulista, onde pudemos dar umas voltas no autódromo com a versão preparada para competição da pequena esportiva.
Dessa vez fomos convidados para acelerar a versão original da YZF-R15, como você poderá comprar em uma concessionária Yamaha. Também foi em um autódromo, o lugar adequado para motos esportivas. Eu, particularmente, estava muito curioso para ver o comportamento da moto nas ruas, no dia a dia, com garupa, como a maioria deve usar a R15, mas a oportunidade de acelerar com segurança e sem receio de tomar multa por excesso de velocidade foi ótima para conhecer mais dessa motocicleta.
O local escolhido foi o Autódromo Capuava, circuito com 2.700 metros de extensão com 16 curvas e asfalto muito bom, em Indaiatuba, no interior de São Paulo. Com muito sol e calor, vesti o macacão de couro para pilotar e explorar tudo que essa Yamaha R15 original pode oferecer.
Como curiosidade, todas as unidades da R15 disponibilizadas na pré-venda foram vendidas. Nas concessionárias, de acordo com mensagem na página da R15 no site da Yamaha Brasil em 15 de setembro, a moto chegará em janeiro de 2024. Mas a Yamaha trabalha para entregar os pedidos da pré-venda entre novembro e em dezembro.
Aproveitei bem o tempo de pista que tive com três baterias na moto original e a última bateria com a moto preparada para corrida, que será usada na R15 Cup, em 2024, integrando o campeonato brasileiro de motovelocidade.
Mudam a carenagem, o escapamento, as pedaleiras, os flexíveis dos freios dianteiro e traseiro, os pneus Pirelli Supercorsa SC, o semi-guidão, o fluido da suspensão dianteira - é mais espesso - e os freios, com a desativação do ABS. Além disso, tiram tudo que está na moto para andar na rua e levar passageiro - farol, setas, placa etc.
O visual da R3 é diretamente inspirado no das motos maiores da família "R" da Yamaha. O desenho é belíssimo e o acabamento é muito bom. Mas o que vai chamar a atenção das pessoas ao pilotar provavelmente será o motor.
O propulsor de um cilindro, arrefecido a líquido e com 155 cm³ de cilindrada, desenvolve 18,8 cv de potência máxima a 10.000 rpm com pico do torque de 1,5 kgf.m a 8500 rpm. Esse motor não é flex, trabalha somente com gasolina.
Trabalha em giro alto como o da irmã maior Yamaha R3. Mas a R15 tem um recurso interessante: o comando de válvulas variável (VVA), que você já viu na scooter NMax 160. Só que na R15, em vez de entrar em ação em alto giro como na scooter, o dispositivo começa atuar em torno das 3.000 rpm.
Assim, o VVA soma para melhores respostas ao acelerador em baixas e médias rotações, onde motos com pico de potência lá nas 10.000 rpm costumam transmitir a sensação de que está faltando alguma coisa. Na R15 eu não senti falta de força em baixas e médias rotações e o crédito disso é do VVA.
Além disso, a moto tem câmbio de seis marchas com embreagem deslizante e assistida. Se você não sabe o que significa isso, explicamos: a embreagem deslizante evita o travamento da roda traseira em reduções bruscas de marcha – como reduzir de 4ª para 2ª de uma vez – e isso se converte em mais segurança na pilotagem. Já a embreagem assistida tem como objetivo aliviar a força feita no acionamento da manete, dando mais conforto ao condutor.
A moto tem 141 quilos de peso em ordem de marcha. Isso dá uma relação peso-potência de 7,5 kg/cv. Como comparação, a FZ25 tem relação peso-potência de 7 kg/cv (150 quilos para 21,3 cv).
É uma diferença pequena entre as duas, que eu percebi durante a pilotagem. Vale lembrar que a FZ25 tem 0,6 kgf.m a mais de torque e seu motor gira menos, com pico de potência em 8.000 rpm - 500 rpm abaixo do pico de torque da R15. É outro acerto, para outro perfil de motociclista. Mas vale fazer essa observação aqui, pois as pessoas vão querer comparar as duas.
Mas não adianta um bom motor sem um bom conjunto, certo? Nas suspensões, a R15 tem dianteira de 41 mm com 13 cm de curso e a traseira monoamortecida com 9,7 cm de curso. Ambas não têm ajuste, mas a traseira tem link, que torna o comportamento do amortecedor mais gradual e progressivo, entregando estabilidade e conforto durante a pilotagem.
Nesse primeiro contato não senti necessidade de um ajuste mais firme da suspensão traseira, como ocorreu em outras motos que já pilotei e que não têm o ajuste da pré-cara. Isso mostra uma calibragem da suspensão bem feita para atender a diferentes perfis – eu peso cerca de 95 quilos equipado. Como informação, a balança da suspensão traseira é em alumínio, o que ajuda a reduzir o peso total da motocicleta.
No sistema de freio, a R15 tem disco e ABS nas duas rodas. Me chamou atenção a boa calibragem do freio traseiro durante o teste na pista, pois normalmente motos pequenas como a R15 costumam ter um freio traseiro mais suave, e não tão eficiente. Eu gostei: me deu uma sensação boa de controle durante a pilotagem.
A R15 é um projeto que já existe na Ásia e os pneus são da MRF, fabricante indiana de pneus que no Brasil também fornece para a Bajaj nos modelos Dominar 160 e Dominar 200. O mais importante a dizer é que, nesse teste em circuito fechado, e podendo forçar bem na pilotagem, o par de pneus MRF me surpreendeu. As rodas de liga leve aro 17” têm 10 raios, o pneu dianteiro é 100/80 e o pneu traseiro é 140/70, a mesma medida do pneu traseiro da conhecida R3.
Como curiosidade, o pneu dianteiro é de construção diagonal e o traseiro é do tipo radial. Fiquei tentando entender o motivo de usar um pneu de construção superior na roda traseira e não cheguei a uma conclusão. E a Yamaha afirmou que vai fornecer na rede de concessionárias o pneu para reposição normalmente, pode ficar tranquilo.
Vale reforçar uma coisa importante aqui: a R15 não é uma moto adaptada para ser uma esportiva e provavelmente entre os que amam debater sobre motos isso vai virar assunto. Mas, depois de andar na moto original, posso afirmar que é uma genuína esportiva em todos os pontos do seu projeto - e principalmente na experiência de pilotagem que entrega ao motociclista.
Carenagem integral, semi-guidão, chassi perimetral – que a Yamaha chama de Deltabox e tem como principal benefício mais estabilidade na pilotagem -, balança de alumínio, bom acerto de suspensões e freios e ergonomia são dignos de moto esportiva.
O guidão é mais baixo se comparado aos de motos urbanas como a FZ15, e o assento bipartido não é o mais largo e confortável que existe. Eu tenho 1,83 m de altura e não é tão simples me encaixar 100% na moto como um bom piloto de motovelocidade. Mas depois das primeiras voltas consegui me posicionar melhor na moto e curtir mais. Sei, porém, que pessoas com estatura menor que a minha vão ficar ergonomicamente mais à vontade na R15.
A moto é uma esportiva com ergonomia e conforto de esportiva. Durante todo o dia o calor intenso me cansou mais do que a ergonomia ou o conforto do assento. Gostemos ou não, o modelo segue a receita de moto esportiva de forma exemplar. Ponto para a engenharia Yamaha.
Detalhadas as partes que considero importante você saber, vou falar um pouco mais sobre a experiência de pilotar a R15 em um autódromo e falar dos “periféricos” da moto. Os retrovisores não tremem acima de 100 km/h, garantindo boa visibilidade.
O painel digital é bem completo e me chamou atenção a boa visibilidade dos dados. Ele exibe indicador de marcha, shift-light (luz que indica o momento ideal da troca de marcha para melhor desempenho na pilotagem), informa quando o comando de válvulas variável está atuando, média de consumo – que, nessa experiência 100% esportiva, onde não lembro de ter usado nem a quinta das seis marchas disponíveis, chegamos no que deve ser a pior média de todas no painel: em torno dos 27 km/l.
Estimo que, usando a R15 na cidade e pilotando de forma normal, essa média vai melhorar bastante. Vamos descobrir isso somente no momento do teste urbano com a R15, pois a Yamaha não declarou, na apresentação, a média de consumo obtida nos testes – como faz a Honda em todo lançamento. Completando o assunto consumo, o tanque da R15 é de 11 litros, sendo 1,9 litros de reserva.
Andamos na pista com sol forte e céu totalmente azul, então não dá para comentar ainda sobre a eficiência do farol em LED, que é belíssimo. Além do farol, a lanterna também é em LED. Mas as setas são convencionais.
Eu fiquei bem surpreso com o prazer na pilotagem. Claro que andar em um autódromo em um dia de sol torna a experiência mais legal, mas já faço isso há tempo suficiente para não misturar as coisas na minha cabeça.
A R15 te faz sentir a sensação de pilotagem de motos esportivas maiores, mas sem cobrar que você seja um super piloto. A moto te mantém em uma faixa bem segura em caso de algum erro na pilotagem por conta da potência mais moderada, o baixo peso e qualidade dos freios.
Desci da moto no fim do dia achando que era um piloto de MotoGP. E não é toda moto de baixa cilindrada que consegue entregar isso a quem pilota. Sinal de que a R15 entrega o que promete - e com o diferencial de ser acessível, já que seu preço está na casa dos 20 mil reais (R$ 18.999 + frete).
O shift-light pode ser ajustado entre 9.000 rpm e 13.000 rpm, com intervalos de ajuste de 250 rpm. O passo a passo você encontra no manual do proprietário da R15.
Ao ligar o painel, aparece a mensagem “Hi,Buddy” - traduzindo, “Olá, amigo”. Você pode mudar o “buddy” para o seu nome, e o passo a passo também está no manual do proprietário.
O óleo usado é o Yamalube 10W40 semissintético. A gasolina recomendada no manual é a aditivada – lembrando que esse motor não é flex e que, se quiser, você pode usar gasolina comum. A aditivada é apenas o que a fabricante recomenda. O intervalo de manutenção tem a primeira revisão com 1.000 km ou seis meses, e as demais revisões são a cada 5.000 km ou seis meses, o que ocorrer primeiro.
Como fica o posicionamento da R15 no mercado brasileiro? Falando de pacote técnico, a concorrente que entrega algo mais próximo é a Bajaj Dominar 200, uma naked com DNA esportivo que usa motor refrigerado a líquido e entrega 24,5 cv de potência. Custa R$ 19.990 já com frete.
A Dominar 200 é mais potente, mas não tem alguns itens que a R15. Caso do farol em LED, do ABS na roda traseira, do pneu traseiro radial, da balança de alumínio e do comando de válvulas variável. Sem mencionar que a rede da Bajaj ainda é bem reduzida no Brasil no momento.
Como curiosidade, a Bajaj tem, no exterior, uma moto esportiva derivada da Dominar 200. Chama-se Pulsar RS200 e talvez, com o sucesso da R15 no Brasil, a Bajaj possa cogitar incluir esse modelo na linha brasileira.
Vamos acompanhar os novos passos da Yamaha no Brasil. A marca segue focada em aprimorar seus produtos na especificação técnica e a chegada do motor arrefecido a líquido pode abrir caminho para que outras motos recebam um conjunto equivalente (caso da Yamaha MT-15, uma naked que compartilha a mesma base mecânica da R15 e já existe no exterior).
A moto é oferecida em três opções de cor: prata fosco, azul metálico ou preto metálico. Tem três anos de garantia e plano de revisão com preço fixo.
A chegada do modelo sobe o nível técnico da baixa cilindrada no Brasil, mas tem outra motivação igualmente importante: expandir o projeto de formação de pilotos brasileiros de motovelocidade.
Esse projeto começou com a R3 e seu campeonato monomarca que já envia os melhores pilotos para correr na Europa e agora terá um “degrau inicial”, permitindo que a Yamaha possa aplicar tudo que já faz - muito bem, aliás - no projeto da R3 Cup agora com pilotos mais novos – de nove a 15 anos - com uma moto que vai permitir o aprendizado com segurança.
Quando esses primeiros pilotos escolhidos na seletiva passarem da R15 Cup para a R3 Cup, já estarão mais preparados como pilotos profissionais, vão progredir mais rápido com a R3 (com o dobro de potência da R15) e isso deverá, a médio prazo, gerar um maior número de talentos indo competir na Europa. Talvez vejamos, desta forma, algo como ocorreu nos últimos anos no surf brasileiro, onde os brasileiros dominaram o campeonato mundial? Sonhar não custa nada...
Motor: monocilíndrico, a gasolina, OHC, quatro válvulas, refrigerado a líquido, 155 cm³, potência de 18,8 cv a 10.000 rpm e torque de 1,5 kgf.m a 8500 rpm
Transmissão: câmbio de seis marchas com embreagem deslizante e assistida. Secundária por corrente
Suspensões: dianteira com garfos telescópicos de 41 mm sem ajustes e 13 cm de curso, e traseira monochoque com link sem ajustes e curso de 9,7 cm
Freios: a disco nas duas rodas, com ABS
Pneus: MRF sem câmara, nas medidas 100/80 R17 na frente (diagonal) e 140/70 R17 atrás (radial)
Dimensões e peso: 1,99 m de comprimento, 1,32 m de entre-eixos, 72,5 cm de largura, 1,13 m de altura, 17 cm de altura livre do solo, altura do banco de 81,5 cm e 141 quilos em ordem de marcha
Tanque: 11 litros (reserva de 1,9 litros)