Abrindo mão de uma revolução sem causa para apostar suas fichas em uma evolução estratégica bem-feita, a Renault apresenta o Sandero 2020. Com preços que vão de R$ 46.990 a R$ 69.690, acabamento retrabalhado e visual levemente modificado, o hatch tem como principal novidade a adoção de transmissão automática do tipo CVT (continuamente variável) atrelada ao motor 1.6 16V SCe, abandonando de vez (obrigado, Senhor!) a caixa automatizada EasyR, que vinha sendo oferecida somente na configuração Stepway.
Atendendo a um convite da própria Renault, tive a oportunidade de conhecer em primeira mão os novos Sandero, Logan e Stepway no Centro de Design da marca, localizado na Zona Sul de São Paulo. A apresentação ocorreu dia depois das primeiras imagens da versão RS terem vazado na Internet, o que acabou forçando a divulgação oficial de duas imagens do carro.
Logo de cara o que chama a atenção não é exatamente a ‘cara’ do Renault, mas a traseira. Antes discretas, as lanternas ganharam protagonismo, assumindo uma postura mais horizontal e invadindo a tampa do porta-malas. Claramente a inspiração vem de ‘dentro de casa’, do Renault Mégane, ícone da marca na Europa. Aqui no Brasil, porém, a nova traseira do Sandero já foi comparada com a do Fiat Argo.
A dianteira foi apenas lapidada. Para-choque e grade são novos e os faróis agora contam com iluminação diurna em LED em todas as versões. As laterais, por sua vez, continuam vincadas, sem frisos. As caixas de rodas nas configurações automáticas, entretanto, ganharam apliques plásticos relativamente discretos. Também fica nítido o trabalho da engenharia da Renault em deixar o Sandero com uma suspensão mais elevada, próximo ao Stepway.
Internamente as mudanças me agradam mais. O trabalho feito pela equipe de materiais é digno de elogios. Na configuração topo de linha Intense – a única, aliás, que o seleto grupo de jornalistas brasileiros teve acesso – trazia teto revestido em preto. O volante revestido em couro é multifuncional (abriga os comandos do controlador de velocidade, vulgo ‘piloto automático’) e tem novo desenho. Adendo: os ajustes de áudio continuam sendo satélites, instalados na coluna de direção.
Os bancos são revestidos parcialmente em couro sintético e trazem nova espuma, muito agradável, diga-se de passagem. Macia na medida certa. O design também é novo, com apoio das costas maior e abas laterais discretas. Definitivamente o foco é muito mais no conforto que na esportividade, decisão que a Renault, na minha opinião, acerta em cheio, pois a opção topo de linha RS está aí para receber todos equipamentos de performance...
Ao começar a me arrumar para o test-drive pelas ruas de São Paulo, noto que a posição do Sandero 2020 é mais elevada, muito parecida com a do Stepway, o que me agrada de imediato. O assento tem ajuste de altura, mas acabo nem utilizando. A coluna de direção também tem regulagem de altura, mas fica devendo o de profundidade.
O plástico duro continua dominando o interior do Sandero. O piano black aparece em alguns detalhes e o cromado pinta de uma maneira mais pontual. As peças também estão bem encaixadas, mostrando qualidade de montagem do carro, feito na fábrica da Renault em São José dos Pinhais, no Paraná.
Momento, então, de testar a principal novidade do Sandero 2020: a transmissão automática CVT. Como já mencionei, esta caixa está conectada a o já conhecido motor 1.6 16V SCe Flex de quatro cilindros, aspirado, com injeção multiponto de combustível, que gera até 118 cv de potência máxima a 5.500 rpm e torque de 16,0 kgf.m a elevados 4.000 giros. Trata-se do mesmo conjunto (motor/câmbio) presente no Duster e no Captur, mas que nos SUVs da marca, admito, deixa a desejar (e muito). E exatamente por conta disso, coloco a alavanca da transmissão do ‘D’ (Drive) e toco no acelerador já com um pé atrás com relação ao desempenho do Sandero...
No anda e para do congestionamento paulistano, a transmissão CVT cumpre muito bem sua missão, entregando conforto e comodidade. Com sistema que simula a troca de até 6 marchas, o câmbio consegue extrair do motor acelerações suaves e lineares. Características ideais para quem enfrenta trânsito pesado de segunda a sexta ou trabalha com o carro, como os motoristas de aplicativos.
Quando a pista abre e consigo pisar um pouco mais fundo no pedal da direita, o CVT mostra sua face mais desconfortável: joga a rotação para próximo das 6.000 rotações, deixa o ronco do motor invadir a cabine e passa a incômoda sensação de uma primeira marcha eterna. Nessa hora acabo apelando para as trocas manuais na própria alavanca, já que as ‘borboletas’ (Paddle Shift) não são oferecidas nem mesmo como opcionais.
Depois de alguns quilômetros, concluo que o motor 1.6 atrelado ao câmbio CVT é mais interessante no Sandero que nos irmãos Duster e Captur. E isso muito por conta de ser um carro menor e mais leve (1.140 kg), permitindo que as reações – tanto acelerações quanto retomadas – não sejam tão morosas como nos SUVs. No entanto, não vá imaginando que o Sandero 2020 é um azougue em performance. Muito pelo contrário. Para você ter uma ideia, a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em apenas 11 segundos e a velocidade máxima não passa dos 177 km/h, quando abastecido com etanol.
O fato de a suspensão ter ficado mais elevada não deixou o carro mais mole ou duro. O comportamento segue o mesmo – aliás, a filosofia de construção também é a mesma: independente tipo McPherson na dianteira e semi-independente na traseira com eixo semi-rígido. A vantagem mesmo é psicológica, pois tive mais coragem de atacar alguns buracos que com o Sandero mais baixo, admito, tentaria desviar ou sentiria um remorso imenso ao acertar um em cheio.
A principal qualidade do Sandero, na minha modesta opinião, foi preservada: o espaço interno. É um hatch pequeno de dimensões bem interessantes. Tem 4,07 metros de comprimento, sendo 2,59 metros de distância entre os eixos. Já o porta-malas tem capacidade para 320 litros – número muito próximo a de hatches médios.
Outra evolução bacana do Sandero é com relação à central multimídia MIDIA NAV. Ela, que já estava bastante obsoleta em relação à concorrência, passou por uma importante atualização e agora é compatível com Android Auto e Apple CarPlay. Tal recurso, além do sistema que faz uma leitura do modo de condução do motorista, já coloca o equipamento em pé de igualdade com centrais oferecidas por outros concorrentes.
A direção é eletro-hidráulica e entrega o conforto necessário para não cansar no dia a dia. E o ar-condiconado é automático e de uma zona apenas. Os vidros são elétricos nas quatro portas – como manda o manual do ‘novo carro basicão’ do brasileiro...rs
Em termos de segurança o Sandero 2020 também passou por evoluções importantes. Agora, assim como o Kwid, passa a contar com quatro airbagas de série. Além do duplo frontal, obrigatório por lei, o hatch passa a contar com os laterais. Também tem ISOFIX para fixação da cadeirinha infantil e encosto de cabeça para todos os ocupantes. O tropeço fica por conta de o passageiro que viaja na posição central do banco traseiro não ter cinto de segurança de três pontos, como todos os outros ocupantes.
Os freios são a disco apenas na dianteira (tambor, na traseira) e contam com ABS (distribuição eletrônica da força de frenagem). Já o controle de estabilidade está presente somente nas configurações com transmissão automática CVT. Nas demais não é oferecida sequer como opcional. A exceção fica por conta da versão RS.
Fechando os itens de segurança, o Sandero 2020 passa a oferecer sensor de estacionamento traseiro a partir da configuração intermediária Zen e sensor + câmera de ré na opção topo de linha Intense.