Antes de dizer o que é SUV, vamos primeiro lembrar que atualmente há uma série de definições a respeito da palavra "SUV", que representa a categoria de carros mais desejada do mundo há alguns anos.
Em sua definição básica, SUV é a sigla para "Sport Utility Vehicle", ou "Veículo Utilitário Esportivo", ou seja, um carro destinado a carga/trabalho, como as picapes, mas com uma tocada mais esportiva. Normalmente é equipado com tração nas quatro rodas e caracteristicamente de porte avantajado.
Só que, quando literalmente comparado a um veículo utilitário de trabalho, o SUV seria como uma derivação mais refinada e menos rústica - consequentemente menos voltada para o trabalho, sem caçamba e com porta-malas.
Mesmo assim, normalmente eles mantinham a proposta de robustez, com tração nas quatro rodas (de preferência com caixa de marcha reduzida) e suspensão traseira independente.
Só que esse perfil de SUV, como se fosse uma picape fechada, mudou e segue mudando com o passar dos anos. Com isso, muitos deixaram de ser feitos sobre chassis de picapes e começaram a ser baseados em carros convencionais - normalmente montados sobre monoblocos.
Para dar um exemplo, vamos relembrar de dois deles: Chevrolet Blazer e Ford Explorer, lá dos anos 1990. Ambos eram feitos sobre as longarinas de S10 e Ranger, algo comum para um SUV àquela época. Com os anos, houve uma tendência de deixarem de ser produzidos sobre bases de picapes e a "obrigatoriedade" do uso de tração nas quatro rodas deixou de existir.
Isso criou outras alternativas de SUVs, como a do inovador Ford EcoSport, em 2003: ele era um SUV considerado urbano justamente por ser feito sobre a plataforma de um hatch compacto, o Fiesta.
A partir da (grande) ideia que a Ford do Brasil teve, muitos fabricantes quiseram surfar na mesma onda. Todos os rivais criados nesta categoria, de SUVs compactos, foram desenvolvidos justamente para conquistar os clientes do Eco, já que, como falamos, nascia ali a categoria mais promissora em anos.
Renault Duster e Jeep Renegade, além do próprio EcoSport, foram carros dessa categoria que ofereceram proposta próxima à de um "SUV original": robustos, mais altinhos e até com tração 4x4 em determinadas versões.
Já Honda HR-V, Nissan Kicks, VW T-Cross, Hyundai Creta, o novo Chevrolet Tracker e os SUVs da Caoa Chery, além de vários outros concorrentes dessa categoria, nasceram depois para formar essa nova família, que ficou conhecida como "aventureiros urbanos".
Ao mesmo tempo, da mesma forma que nasceu este segmento de SUVs compactos e/ou SUVs urbanos, outros tipos de utilitários esportivos foram desenvolvidos/repensados, em diferentes tamanhos.
Como o mercado de automóveis se padroniza de acordo com o gosto do comprador, houve até marcas que antes não produziam SUVs que resolveram se transformar para seguir essa tendência.
O maior exemplo é a chinesa JAC Motors: quando chegou ao Brasil, em 2011, vendia hatch, sedã e perua. Com a expansão dos SUVs ao longo da última década, resolveu montar uma gama de veículos só com utilitários.
Com essa propagação de SUVs de todos os tamanhos, em diversos segmentos, muitos carros de outras categorias começaram a adotar as principais características dos utilitários para cativar compradores. Mas fique atento: muitos deles podem ser somente crossovers.
Crossover? Sim, quando um carro mescla características de segmentos diferentes, ele é chamado de crossover. Um exemplo é o Honda WR-V, praticamente uma fusão entre Fit (hatch) e HR-V (SUV).
A mesma expressão é utilizada em filmes e seriados: quando personagem X e Y se encontram em determinado episódio, este capítulo também fica conhecido como "crossover."
Detalhe que as peruas foram umas das primeiras a trilhar esse conceito de crossover. A Volvo XC70 Cross Country era um exemplo. E a Fiat Palio Adventure também, com suspensão elevada, pneus de uso misto e apliques jipeiros.
Pode reparar: a Honda e o mercado de forma geral classificam o WR-V como SUV. Tanto pelos ângulos de entrada e saída, que são mais "altinhos" que os de hatch convencional (como o Fit). Quanto também pelo sentido comercial - afinal, no Brasil, qualquer ação tem mais retorno se o carro for diretamente conectado ao universo de utilitários.
Tem mais exemplos: o Citroën C4 Cactus é classificado e vendido como hatch na Europa. Por aqui, pelo preço e nível de equipamentos, a PSA tenta emplacá-lo como SUV.
Nós, do WM1, não estamos dizendo que isso é errado. Até porque cada marca deve classificar seu carro como achar conveniente e correto. Porém, o Cactus é outro carro que une características de SUV e hatch, tornando-se um... crossover.
Mesmo assim, essa definição é bastante relativa e compreende diversas discussões, pois muitos destes novos "SUVs" deixaram de lado várias características de utilitários, e mantiveram somente o porte avantajado.
Devido a essa discussão do que é SUV, do que é crossover e do que é hatch, como dissemos, muitos carros pegaram carona na definição de sport utility para se caracterizar como tal, mesmo não sendo.
O VW Nivus é um bom exemplo: produzido sobre a plataforma do Polo (hatch), mas com porta-malas maior que o do T-Cross (SUV), ele é claramente um crossover vendido com pegada de SUV-cupê.
Por falar nisso, todo SUV-cupê, mesmo que do segmento premium (BMW X6 e X4, Mercedes GLC e GLE Coupé, Audi Q8 e Porsche Cayenne Coupé), por mais que sejam derivados de carros que realmente são utilitários, poderiam ser classificados como crossovers, justamente pela definição que une dois tipos de carroceria: SUV e cupê.
O Renault Kwid é outro exemplo: tem preço e porte de hatch de entrada, mas ângulos de entrada e saída de SUV, sendo dessa maneira classificado por muitas entidades. A Renault aproveita a oportunidade e o chama de "SUV dos compactos".
Seu carro pode ser chamado de SUV? Fato é que o termo "SUV" foi banalizado do conceito original. E hoje passou a representar qualquer veículo que atenda às características determinadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
Na prática, um SUV passou a ser qualquer carro alto (e não necessariamente parrudo) com altura livre do solo que o possibilite de vencer obstáculos mais elevados que outros veículos.
Essa altura é medida debaixo dos eixos das rodas traseiras e dianteiras e abaixo do assoalho que fica entre elas. São os chamados ângulos de ataque, saída e do assoalho.
Para se enquadrar nesse critério, os veículos devem ter, no mínimo, 20 cm de distância do solo no espaço entre os eixos - o vão livre deve ser de 18 cm ou mais. Já o ângulo de ataque (entrada) deve ser maior que 23º; enquanto o de saída deve ser de, no mínimo, 20º.
Para diferenciar SUVs compactos e grandes, o Inmetro faz a diferenciação com base na área de planta do veículo, como em apartamentos: para ser compacto, a área deve ser menor que 8 m²; para ser grande, maior que 8 m².
"O mercado é quem dita as normas. Se quem comprou fala que é, então é”, explica o consultor da ADK Automotive, Paulo Garbossa. Ou seja, mesmo que o veículo não atenda às classificações do Inmetro citadas acima, ele pode ser visto pelos consumidores como utilitário esportivo.
De acordo com Garbossa, qualquer veículo pode receber essa classificação, desde que tenha o que ele chama de "apelo de SUV". Por incrível que pareça, o Kwid atende a todos estes requisitos e é classificado pela Renault - e por diversas entidades automotivas brasileiras - como SUV.
E para você, qual é a sua opinião sobre o assunto? Deixe no campo de comentários!