Como diz o velho ditado futebolístico, "treino é treino, jogo é jogo". O mesmo vale para os carros. A experiência de acelerar um automóvel - nesse caso, a Ranger 2024 - em uma pista de testes não invalida o uso cotidiano em ruas, avenidas e estradas de terra. Mas são experiências diferentes.
Depois de experimentar a nova Ford Ranger no Campo de Provas da Ford em Tatuí (SP), chegou a hora de botar a bruta para um teste de rodagem real. E não foi em um local qualquer.
A convite da Ford, o WM1/Webmotors integrou um grupo de jornalistas da América do Sul que foi até Mendoza, na Argentina, testar a nova geração da picape na versão Limited - a mais completa das duas disponíveis no lançamento (confira aqui as versões e preços da Ranger 2024).
Aos pés da Cordilheira dos Andes, a capital da província argentina de mesmo nome tem uma arquitetura que mistura prédios altos e envidraçados com construções de pegada europeia - e também aquela pitada colonial típica das cidades mais antigas da América Latina.
Mais conhecida pelas vinícolas e pela produção de azeites, a região de Mendoza oferece também autoestradas bem asfaltadas, pistas sinuosas e trechos de cascalho, que combinadas ao clima de deserto e às paisagens de perder o fôlego fazem com que o passeio seja muito interessante até para quem está mais interessado em dirigir do que em comer e beber.
Mas antes de falar do test-drive, vale fazer um comentário sobre a fauna automotiva local, já que o caminho entre o Aeroporto El Plumerillo e o hotel - um percurso de cerca de 30 minutos - certamente impressiona aqueles que não estão acostumados às ruas do país vizinho.
Apesar da presença maciça de carros brasileiros atuais, boa parte da frota ainda é composta por clássicos locais dos anos 1970 e 1980, embora nos mais variados estados de decomposição.
Nos três dias em que estive por lá, não consegui ver os exóticos (para nós) Ford Falcon ou Fiat 125 intactos. Isso sem contar as frequentes e guerreiras Ford F-100. Todas acabadas e/ou sobrecarregadas.
O dia seguinte começou cedo. Já estava de pé antes das 7h e, depois do providencial café com leite e medialunas (um croissant metido a besta, doce e menos folhado), partimos para a apresentação técnica e, por volta das 10h, saímos para o test-drive.
Fazia 5° C lá fora, mas o ar-condicionado automático de duas zonas mantinha a cabine da Ranger Limited em confortáveis 22°C. O roteiro previa um passeio do hotel até o Embalse Potrerillos, um enorme lago artificial criado no início dos anos 2000 e que oferece um visual de perder o fôlego.
Um rolê de cerca de 50 quilômetros no trajeto mais curto. Mas o percurso definido pela Ford era bem mais longo, e chegaríamos ao destino final depois de rodar mais de 150 quilômetros.
Bem a tempo do horário do almoço!
Saímos de Mendoza pela Ruta Nacional 40, uma autoestrada de duas faixas e trânsito intenso. Estava como passageiro nesse primeiro trecho, então aproveitei para explorar a cabine e as funcionalidades da picape.
Com o interior inspirado na da F-150, a Ranger 2024 oferece um padrão de acabamento e usabilidade que normalmente não se vê nas picapes médias. Além dos materiais macios ao toque no painel e nas portas, o modelo da Ford oferece vários porta-objetos, dois práticos porta-copos no console central e dois porta-luvas.
A multimídia, com tela de 12 polegadas nessa versão Limited, é a avançada SYNC 4, que é feita sob medida para os mais antenados em tecnologia e espelha celulares Android e Apple sem o uso de cabos. Para completar, a cabine inclui ainda um carregador de smartphone por indução.
Mesmo longe dos comandos da picape, é possível comprovar um dos resultados do belo casamento entre o motor 3.0 V6 turbodiesel e o câmbio automático de dez marchas da Ranger Limited: o silêncio a bordo.
É que a transmissão faz com que o motor trabalhe em silêncio a maior parte do tempo, girando abaixo de 2.000 rpm. O isolamento acústico também faz muito bem o seu papel.
Sem exagero: o ruído de vento só é notado acima de 120 km/h, e é mais fácil ouvir o propulsor dos carros passando (mesmo os novinhos, não só um barulhento Fiat Duna com o escape estourado) ao lado da picape do que o ronco do seis cilindros a diesel.
Alguns quilômetros à frente, a Ruta Nacional 40 deu lugar à Ruta Provincial 86. Uma estradinha de pista simples, mas com asfalto de qualidade e menos trânsito. O que permitiu pisar um pouco mais fundo no acelerador.
A Ranger Limited agrada pela boa reserva de força e potência do motor V6, além das respostas ágeis do câmbio. Além de mim, mais três pessoas viajavam na picape. Mas era como se fôssemos formigas no lombo de um elefante.
A picape nem notou a presença dos passageiros e certamente suportaria muito mais demonstrando o mesmo fôlego. Nas ultrapassagens, o câmbio reduzia várias marchas de uma vez e jogava rapidamente a rotação do V6 lá para cima. A mesma competência foi vista ao aliviar o pé, quando a transmissão pula várias marchas para garantir que o V6 turbodiesel siga rodando de modo suave.
Conforme íamos nos afastando de Mendoza, a paisagem começava a ficar mais desértica. Já era próximo do meio-dia, mas o céu nublado não contribuía para esquentar o dia e fazia menos de 10° C do lado de fora.
Foi aí que deixamos para trás a Ruta Provincial 86 e acessamos a 84. Uma via que, apesar do nome, tem um bom trecho que se parece mais com a estradinha de acesso para uma fazenda. O asfalto some e dá lugar a uma pista de terra batida com cascalho e MUITA poeira.
Em meio a uma paisagem montanhosa - e no meio do nada - pudemos testar a vedação da cabine. Apesar do poeirão que exigia vidros fechados e acionamento constante do lavador do para-brisa (que também despeja um jato de água para limpar a câmera frontal), a cabine permaneceu como se ainda estivéssemos no asfalto.
Nesse off-road leve, a Ranger se saiu tão bem quanto no asfalto. Mesmo sem ser uma F-150, a suspensão tem acerto macio e a traseira não pula como um cabrito, mesmo com a caçamba descarregada.
A direção também surpreende. Com assistência elétrica, é leve, precisa e, ao mesmo tempo, não transmite as vibrações da pista para o motorista.
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Só depois de um bom tempo percebi que o comando da tração estava na opção 4A. Novidade desta Ranger 2024, permite que a picape rode com a tração 4x4 também no asfalto, já que a eletrônica se encarrega de distribuir automaticamente a força entre os eixos. Mesmo assim, a picape rodou com competência e sem sustos.
Aliás, essa nova geração tem seis modos de condução (Normal, Eco, Escorregadio, Rebocar/Transportar, Lama/Terra e Areia), que a configuram automaticamente para as situações de uso e solo desejadas.
Um detalhe que eu esqueci de contar para vocês é que boa parte do passeio foi feito em comboio. Algo que não é muito bacana para quem gosta de dirigir rapidamente. Mas fundamental, já que passamos por vários locais sem sinal de celular.
Em determinado ponto do passeio, na Ruta 84, acabei me distanciando do restante do comboio. Estar perdido em terras estrangeiras não é algo muito confortável, e tivemos a experiência - fora do roteiro original - de enfrentar alguns trechos do trânsito urbano de Luján de Cuyo, uma cidade de quase 120 mil habilitantes nos arredores de Mendoza.
Por mais parecida com carro de passeio que a Ranger 2024 tenha ficado, ainda é preciso lembrar que estamos no comando de uma picape média. São 5,37 m de comprimento, 1,91 m de largura, 1,89 m de altura e entre-eixos de 3,27 m.
Dimensões um pouco maiores que as da geração passada. Embora mais adequada para as cidades do que a grandalhona F-150, ela ainda é menos prática no uso urbano que uma Maverick.
Por sorte (ou seria competência?) eu e meus companheiros de viagem encontramos o caminho de volta e fomos premiados com a beleza da Ruta Provincial 82.
Uma estrada de pista simples, mas que faz o motorista soltar vários palavrões ao volante. É que ela é cheia de empolgantes curvas apertadas que são tão perfeitas para quem gosta de guiar quanto para quem curte a beleza da paisagem local.
Cenário perfeito para testar a dinâmica da Ranger 2024. Mesmo com o pé no fundo do acelerador, o ronco do motor se mantinha baixo, enquanto o acerto de suspensão e direção transmitiam uma impressão bem próxima à de um SUV monobloco, e não de uma picape média com chassi de vigas.
Na hora que você se cansar de contornar as curvas "manualmente", a Ranger Limited oferece no pacote mais completo um belíssimo pacote tecnológico, com itens como controlador adaptativo de velocidade de cruzeiro, alerta de tráfego cruzado na traseira, monitor de pontos cegos, câmera 360°, assistente de permanência e centralização em faixa e (ufa!), assistente de manobras evasivas e de cruzamento.
Depois de uma jornada de quase três horas foi bacana sair da picape como se tivesse feito um passeio de poucos minutos. Mérito dos bancos confortáveis e da ótima posição de pilotagem. O espaço da cabine, aliás, é outro ponto forte dessa nova geração.
Vou destacar ainda o quadro de instrumentos digital de 12,4 polegadas - um opcional presente na picape testada - que deveria ser item de série em toda a linha. Vindo da F-150, oferece uma excelente visualização das informações de condução.
A Ford Ranger, que já era uma (boa) referência na geração anterior, ficou ainda mais refinada e tecnológica. Diferentemente de alguns carros que decepcionam no uso cotidiano, a picape da Ford confirmou a boa impressão dos testes em circuito fechado.
Terminado o test-drive, chegou a hora de aproveitar os saborosos pratos da culinária local e alguns belos vinhos. Afinal, não é só a Ranger que precisa de combustível depois de uma jornada rodoviária.
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