Dirigir o Yaris é ter a sensação de déjà vu, ou seja, de ter passado por tal experiência anteriormente. Isso porque o mais novo modelo da Toyota, lançado nesta semana, não proporciona novidades. Traz conjunto mecânico derivados de Etios e Corolla, resgata design um tanto ultrapassado e carrega interior comum a todos os modelos da marca. Então, o carro é ruim? Não, ele é racional.
Guiamos a variante hatch na versão topo de linha XLS, tabelada em R$ 77.590. Ela carrega sob o capô motor 1.5 16V de 105 cv, com gasolina, e 110 cv, quando abastecido de etanol. Este motor trabalha em conjunto com câmbio automático CVT (de relações contínuas) que simula sete velocidades.
O que há de novo aqui é a interação do propulsor do Etios com a transmissão do Corolla. É nítida a performance desenvolta deste conjunto em relação ao par formado por este mesmo propulsor 1.5 com a caixa automática de quatro marchas oferecido pelo Etios. Os escalonamentos são naturalmente feitos em rotações menores, na casa de 1.500 rpm, uma vez que o sistema CVT trabalha com maior quantidade de transições.
Na prática, por outro lado, pouco muda. O ruído emitido pelo trem-de-força é alto e o consumo de combustível não impressiona. Obteve nota “B” do Inmetro, com desempenho de 12,6 e 8,8 km/l na cidade, além de 13,8 e 10 km/l na estrada, levando em consideração a ordem gasolina e etanol.
Também não há fato novo em termos de desempenho. O conjunto é competente em subidas e não demora muito em retomadas. Mas é preciso sempre lembrar a natureza da dupla motor e câmbio. Foram feitos para entregar linearidade e conforto. Frustra-se quem acha que o modelo poderia entregar ao menos resquícios de esportividade.
O ponto positivo é que existe a possibilidade de efetuar trocas do câmbio de maneira manual por meio de aletas localizadas atrás do volante. Elas não estão ali para divertir, mas para deixar o carro deslanchar quando o sistema CVT não se toca e prende o motor em rotações altas.
Aliás, falando em rpm elevado, o pico de potência ocorre em 5.600 giros. Já o torque máximo de 14,3/14,9 kgf.m, por sua vez, é entregue em 4.000 rotações. Este perfil só aumenta a impressão de falta de fôlego que o câmbio CVT tende a transmitir, mas a quantidade de torque não é das piores.
Tão empolgante quanto o desempenho do carro é o acabamento interno. A pergunta que fica novamente é: “Ele é ruim?”. Não, tem diversidade de materiais bem encaixados, mas o desenho é conservador, deixa claro para os ocupantes que o Yaris é um japa.
O painel tem plástico rígido de boa qualidade, mas uma costura em volta do console central. Há muitas peças em preto brilhante e cinza fosco para dar tom de requinte, mas o desenho como um todo não remete à sofisticação – se mudassem o design do volantão, já teríamos um enorme ganho.
Ganho esse que foi obtido na central multimídia. A estética da tela de 7 polegadas agrega modernidade ao interior, há GPS nativo, câmera de ré, além de pareamento com Android Auto e Apple CarPlay. O ponto negativo é que a única entrada USB fica longe do visor, disponível na parte interna do descansa-braços.
Por fora, também o Yaris também não arranca suspiros. A carroceria é gordinha - pode remeter ao Nissan Tiida, para muitos -, há exagero de elementos na parte frontal, enquanto a traseira diferencia-se pelos detalhes em preto brilhante entre as lanternas e na coluna C.
Já um quesito sem ressalvas é espaço. O hatch tem 4,14 metros de comprimento (é 28 cm menor que o Yaris Sedan), sendo que 2,55 m separam os eixos. Na prática, isso significa que há bastante espaço para as pernas. Outro destaque é que o piso é plano, permitindo com que o ocupante do meio viaje de maneira confortável, uma vez que a largura de 1,73 m também é satisfatória. O porta-malas tem 310 litros.
Mas e a gama de equipamentos, também merece elogios? Merece, sim. É preciso ressaltar que todas as configurações vêm de série com volante multifuncional, vidros e travas elétricos, controle de estabilidade, tração e assistente de subida em rampa, faróis com regulagem elétrica e acendimento automático, além de rodas de liga leve de 15 polegadas e faróis de neblina.
A versão testada XLS representa ainda um fato histórico: agora temos um Toyota com teto solar! Ela dispõe ainda de sensor de chuva, maçanetas cromadas, faróis projetores com lâmpadas halógenas, lanternas em LED, sete airbags, ar condicionado digital, computador de bordo com tela de TFT, bancos, manopla do câmbio e volante com revestimento em couro e partida sem a chave.
Ausências sentidas ficam por conta de ajuste de profundidade do volante, além de sistema start-stop, a fim de que o consumo de combustível fosse mais eficiente.
Mas, no fim das contas, o Toyota Yaris Hatch XLS aparece como opção a ser considerada para quem quer comprar um dois-volumes na casa de R$ 75 mil a R$ 80 mil. Ele apresenta-se como a opção menos emotiva e mais racional do segmento, ao lado do Honda Fit.
Enquanto Volkswagen Polo, Fiat Argo e Ford New Fiesta oferecem conjunto mecânico mais esportivo e gostoso de dirigir, o Yaris bate no peito e mostra que é um verdadeiro Toyota. Tem motor e câmbio que não dão dor de cabeça e equipamentos suficientes para justificar o preço pedido pela versão completa que nem oferece opcionais.