Quando você viu aqui no WM1 no começo desta semana que a Stellantis havia divulgado os preços do Peugeot 208 1.0 (R$ 72.990 na versão Like, de entrada; e R$ 79.990 na Style), deve ter suposto que a estratégia do conglomerado era arrebatadora: fazer do hatch da fabricante francesa o modelo 1.0 mais atraente e competitivo (e por que não o mais vendido?) do mercado brasileiro.
Se você pensou desse jeito, acertou. A ideia é ousada. A Stellantis, de forma sucinta, vai usar o amplo conhecimento da Fiat tem vendas diretas - para locadoras e empresas frotistas, como faz com Toro e Strada -, para fazer o Peugeot 208 1.0 decolar no Brasil. Para isso, equipou o carro com o motor Firefly 1.0 de três cilindros do Argo e criou duas novas versões de entrada. Vamos conhecê-las?
Resumidamente, podemos dizer que a Stellantis "adaptou" o motor Firefly 1.0 de três cilindros do Fiat Argo no Peugeot 208 - embora seja preciso apontar que o conjunto foi novamente recalibrado para que o hatch da marca francesa conseguisse atender às normas de emissões do Proconve L7 -, e combinou esse propulsor a uma caixa de câmbio manual de cinco marchas.
No 208, o propulsor rende 75 cv e 10,7 kgf.m de torque com etanol (e 71 cv e 10 kgf.m com gasolina). Dados de consumo do Inmetro também garantem que o hatch é capaz de fazer 10,4 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada com etanol e 14,7 km/l e 16,3 km/l, respectivamente, com gasolina - selo A no programa de etiquetagem. Ou seja, além de seguro, recheado e bonito, o carro também é econômico.
O apelo é forte: a marca quer oferecer a partir de agora, portanto, o 1.0 mais completo e competitivo da categoria - que hoje conta também com Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Fiat Argo e Volkswagen Gol e Polo (até porque Fiat Mobi e Renault Kwid são subcompactos, portanto menores que o Peugeot 208). Vamos dissecar as duas novas versões:
Vem de série com quatro airbags, alarme, travas e vidros elétricos e controle de tração e estabilidade entre os itens de segurança, além de também oferecer central multimídia colorida com tela de 10,3 polegadas com espelhamento via CarPlay e Android Auto sem fio, DRL com o formato de "dente de sabre" em LED, retrovisores com ajuste elétrico e entradas USB no console na parte de conveniência.
É de fato a versão mais atraente dessa faixa de preço, já que oferece itens nunca antes ofertados em modelos dessa categoria. De série, tem tudo que o Like já carrega e ainda vem com grade dianteira pintada de preto, faróis e lanternas full LED, retrovisores pintados de preto, aerofólio e rodas aro 16" que também são escurecidas para combinar com a grade e os retrovisores - isso só na parte estética.
Por dentro, tem teto solar panorâmico - item exclusivo do 208 na categoria -, carregador de celular por indução, câmera de ré com sistema de visão 180º feito por projetores, badges da versão na coluna C e sensor de estacionamento traseiro. Segundo a Peugeot, nenhum carro nessa faixa de preço e no segmento de hatches oferece rodas aro 16", carregador de celular wireless e o teto panorâmico.
Outra defesa da Stellantis é que o Peugeot 208 1.0 tem agora a maior central multimídia do segmento. Com 10,3 polegadas, o equipamento tem conectividade sem fio com CarPlay e Android Auto, design moderno sem botões e entradas USB posicionadas fora da região da tela para um melhor efeito estético.
A estratégia não acaba por aí. De acordo com a Peugeot, o 208 1.0 Firefly terá ainda o plano de revisão mais "competitivo" do segmento. São três níveis (um básico, um intermediário e um completo), sendo que no mais barato as revisões de 10 mil km, 20 mil km e 30 mil km custam, respectivamente, R$ 229, R$ 460 e R$ 430 - e o valor somado, de R$ 1.119, pode ser diluído no financiamento e custar R$ 35/mês.
Tudo muito interessante e muito bacana, mas nós do WM1 precisamos ponderar, caro leitor, que esses valores (arredondados) de R$ 73 mil e R$ 80 mil não devem durar muito tempo, até porque fazem parte da estratégia de lançamento do produto. Mesmo assim, acreditamos que o hatch irá vender muito bem (até porque isso a Stellantis sabe fazer), porque o carrinho ficou muito bom.
O Peugeot 208 1.0 é muito equilibrado. Com suspensões bem ajustadas - embora tenhamos rodado com o hatch só dentro de uma pista -, o carro demonstrou estar bem acertado para o que o consumidor brasileiro busca. Tem bom fôlego em retomadas, recebeu um belo ajuste na caixa de transmissão e me surpreendeu durante as duas voltas que demos no Autódromo da Fazenda Capoava, em Indaiatuba (SP).
Óbvio que o carro tem pormenores, até porque, vale lembrar, falamos de um hatch de entrada equipado com um motor 1.0 de 75 cv e 10,7 kgf.m de torque, como comentamos mais acima. Por conta disso, falta fôlego em subidas - e nesse caso precisei apelar à segunda marcha, mesmo em velocidades acima de 50 km/h, para fazer o carrinho embalar -, já que o torque máximo aparece somente a 3.250 rpm.
Esse tipo de situação (do torque aparecer por completo em rotações mais elevadas) poderá ser resolvida com a adoção de uma turbina. Questionada sobre isso, a Peugeot preferiu se esquivar e dizer que, por ora, os planos do 208 Firefly estão concentrados nas versões de entrada. Vale lembrar que o hatch seguirá também com versões equipadas com motor 1.6 nas configurações Like, Active e Allure.
Gostei muito da oferta de equipamentos. Com roda aro 16", teto panorâmico, central multimídia com tela grandona e carregador de celular sem fio, o carro se equipara às melhores ofertas do segmento e até se nivela a modelos maiores e mais caros. Faltam, claro, itens de condução semiautônoma e o cluster digital das versões de topo do próprio 208, mas esses itens de fato o encareceriam demais.
Nossa aposta: o Peugeot 1.0 vai vender muito bem. Não sabemos ainda se para pessoa física (embora eu ache que sim, já que por R$ 80 mil hoje em dia você não encontra um carro 0 km tão bem equipado, seguro e econômico), mas certamente para frotistas, locadoras e clientes que são pessoa jurídica de modo geral. O Peugeot 208 1.0 é um dos maiores acertos da marca francesa nos últimos anos.