Durante a procura por um carro usado, muita gente se depara com modelos, geralmente de luxo, vendidos com preços abaixo da média do mercado. Na maioria dos casos, esses anúncios são de veículos blindados.
Mas, afinal, por que os carros blindados usados são mais baratos que os modelos originais?
O maior custo de manutenção é o principal motivo para a desvalorização dos blindados em relação aos carros sem a proteção balística, uma vez que os consumidores terão gastos adicionais. Ai cabe ao interessado colocar na ponta do lápis os gastos que terá e o quanto a menos irá pagar no veículo par entender se o desconto compensa.
O processo de blindagem desmonta praticamente todo o veículo para realizar adaptações para que sejam instaladas as proteções na carroceria e os vidros mais grossos. O resultado é um considerável acréscimo de peso, que acaba acentuando o desgaste dos componentes do carro. Em um sedã médio, por exemplo, o material da blindagem adiciona cerca de 180 kg ao veículo.
Os conjuntos de suspensão e de freios são os mais afetados, pois não são projetados para suportar o peso extra da blindagem. Com isso, a frequência de manutenção e a troca de peças aumenta.
Além disso, há o risco de delaminação dos vidros blindados mais antigos. Isso acontece quando as camadas de policarbonato ou vidro se descolam, processo que provoca bolhas, perda de transparência e comprometimento da capacidade de proteção contra disparos de armas de fogo. E a substituição dos vidros danificados costuma ser bem cara.
Ao considerar que um automóvel tem capacidade de carga de 400 kg (com a soma dos pesos de passageiros, bagagem, combustível e fluidos), em média, o peso da proteção também influencia bastante no consumo e no desempenho. Quanto mais pesado o carro, mais combustível vai consumir para precisar se deslocar.
No entanto, modelos equipados com motores com mais torque, como picapes e SUVs a diesel, por exemplo, não sofrem tanta perda de performance.
Como a segurança é o principal fator para quem busca um veículo blindado, é preciso ter em mente que o veículo não terá o mesmo desempenho, consumo e comportamento dinâmico de um modelo semelhante sem a proteção balística.
Antes de procurar por um blindado usado, é preciso ficar atento à documentação. Com a Lei 14.071/2020, o processo ficou mais simples. Agora, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não exige mais o documento ou autorização para a realização de registro ou licenciamento. Além disso, a legislação excluiu a necessidade de autorização do Exército Brasileiro para a blindagem de veículos.
Entretanto, segue válida a exigência do Certificado de Segurança Veicular (CSV) e da inspeção, feita por órgão ou entidade de metrologia legal, para a emissão do Certificado de Registro de Veículo (CRV).
Esse detalhe é importante, pois a blindagem de muitos carros mais antigos em circulação foi feita por empresas que não estão mais em atividade. Isso pode trazer problemas em eventual necessidade de manutenção, como a troca de um vidro delaminado, por exemplo.
Faça uma inspeção no veículo, com atenção especial para o estado dos vidros, que podem apresentar a chamada delaminação, que é o desprendimento de uma ou mais camadas que compõem a peça, com formação de bolhas de ar. A delaminação não significa necessariamente que o vidro está comprometido, mas o ideal é que um especialista avalie a extensão do dano - capaz de prejudicar a proteção balística e a visibilidade do motorista.
Se um ou mais vidros estiverem em más condições, o indicado é substituí-los. Existem serviços de recuperação por autoclave, com valores mais acessíveis e que utilizam calor e vácuo. Porém, há o risco de a peça trincar e ser condenada. Também verifique se os vidros estão bem encaixados nos trilhos das janelas.
Para receber a blindagem, o veículo precisa ser desmontado por dentro, de forma que a empresa instale a proteção balística sob a lataria. A proteção é feita predominantemente de manta de aramida, mas algumas partes da cabine recebem a aplicação de aço. Portanto, tenha atenção especial com os encaixes dos painéis das portas, painel e outros revestimentos, em busca de folgas e eventuais ruídos.
Verifique também a condição das suspensões, que são mais exigidas por conta do peso extra da blindagem. A proteção acrescenta, em média, entre 120 kg e 200 kg, de acordo com o modelo.
Um teste-drive pode ajudar a descobrir barulhos de peças de acabamento mal encaixadas e se componentes dos freios e da suspensão estão condenados.
As blindadoras, em geral, oferecem de três a cinco anos de garantia para o serviço de proteção balística, portanto, verifique se o blindado que você pretende adquirir ainda tem a cobertura. Além disso, por lei, o veículo usado adquirido de estabelecimento comercial, seja blindado ou não, deve ser vendido com garantia de 90 dias.
Segundo a estimativa da Associação Brasileira dos Blindadores Veiculares (Abrablin), no país há cerca de 265 mil veículos blindados. Em 2020, quase 8 mil carros receberam a proteção balística das empresas associadas à entidade.
No Brasil, a blindagem Nível III-A é praticamente o padrão do mercado (suporta disparos de projéteis de calibres 9mm e .44). Esse é o nível máximo permitido pelo Exército aos civis.