Imagine comprar um carro elétrico e não ter como carregá-lo em casa. Agora imagine rodar como Uber e demais aplicativos de carona com esse modelo 100% movido por energia elétrica. Foi exatamente isso que fez o youtuber Thiago Garcia, do canal "Meu Carro Elétrico", com quem nossa equipe conversou há alguns dias.
Garcia é dono de um JAC iEV40 vermelho - apelidado de "Chapolin Colorado" - e utiliza seu carro com aplicativos de carona, como Uber, Blablacar, 99 e Cabify, entre outros. Roda mensalmente, em média, 2 mil quilômetros. Em vídeos de seu canal, como um chamado "500 km com o JAC iEV40", ele registra percursos de ida e volta de São Paulo (SP) a cidades cerca de 500 km distantes com seu carro.
Garcia nos contou que não tem um carregador em casa porque já existem mais de 150 postos de recarregamento para carros elétricos na cidade de São Paulo. "Como eu rodo o dia inteiro, tenho anotado e sei de cabeça onde fica cada um dos lugares onde posso fazer a recarga, então por causa disso eu só me programo para nunca deixar de ter bateria", revela.
Mesmo assim, ele nos confirmou que ainda discute com seu condomínio a possibilidade de instalação de um carregador. "Ficaria muito mais confortável poder sair com o carro recarregado todos os dias, mas como não tenho uma fonte de alimentação no meu prédio, preciso me preocupar com a bateria do dia seguinte mesmo na noite anterior", explica.
E Garcia também conta detalhes em seus vídeos. "Além de cumprir quase exatamente a autonomia prevista no computador de bordo, o modelo é muito seguro. Em um trajeto de 120 km, por exemplo, eu quase não utilizei o freio. Em descidas de serra, eu as faço quase que inteiras utilizando o sistema de regeneração. Quando você mantém a média de 80 km/h, isso faz o carro consumir ainda menos."
Thiago revela em seus vídeos que utiliza os carregadores de todas as marcas disponíveis espalhados por São Paulo, seja da BMW, Volvo, BYD, da Incharge e também da Tupinambá Energia - que, recentemente, começou a receber também consultorias do youtuber, que além de usuário, virou especialista no assunto.
Garcia também revela um de seus segredos: quando faz viagens com distâncias maiores, como a do vídeo acima, ele traça o percurso e confere onde existem postos de recarga e com quanto tempo de antecedência precisa sair para não atrapalhar os horários dos passageiros ou das entregas.
O iEV40 também mostra no painel a voltagem da carga e ainda a quantidade de amperes adquirida em cada recarregamento. Mas nem tudo é alegria. Apesar de não gastar uma gota de combustível, Garcia passa por alguns "perrengues" - ou melhor, "perrengues chiques", já que o carro zero km custa R$ 189.900 -, como quase parar por falta de bateria (veja no vídeo acima).
Para rodar 500 km, foram cinco paradas - embora, seja importante destacar, ele não tenha saído com o carro com 100% de bateria de São Paulo. A parte "chata" de ter um elétrico e não ter como recarregá-lo em casa é, sem dúvida, a quantidade de vezes que você precisa parar para abastecer nestas "eletrovias" e o tempo de recarga em cada uma das vezes, que é lento.
Mas Garcia não enxerga isso como problema. Em outro vídeo, intitulado "A mobilidade elétrica só me dá alegria", o motorista conta que teve alguns problemas de carregamento em determinado lugar e que, mesmo assim, conseguiu cumprir o percurso programado para aquele dia mesmo com menos de 30% de bateria indicados no painel.
"Você precisa confiar no carro elétrico. Cada vez mais eu tenho certeza que a minha ansiedade em relação à autonomia está acabando, justamente na proporção em a confiança sobre ele aumenta", afirma. "Se o painel aponta que os 25% de carga conseguem rodar 70 quilômetros, o carro vai rodar 70 quilômetros ou muito perto disso", revela em outro de seus vídeos.
Em um dos vídeos mais recentes, Garcia fala sobre a revisão de 30.000 km do "Chapolin Colorado". No serviço, o carro tem alguns ajustes em filtros e parafusos de suspensão, além de alinhamentos, rodízio e balanceamento de pneus. "Teve algumas atualizações de software também, a trava das portas não era automática a partir de 15 km/h, como o manual dizia, e conseguiram resolver também", conta.
Outro perrengue que costuma ser comum na vida de Thiago Garcia é o de vagas demarcadas para carros elétricos em shoppings, mercados e lugares públicos. "A mais comum é carro convencional, com motor a combustão, ocupar a vaga de carregamento. Isso é bem recorrente por dois motivos: as pessoas não estão habituadas com carros elétricos e não notam que ali é uma vaga exclusiva."
Na opinião dele, falta educação sobre carros elétricos para essas pessoas, e as vagas deveriam ser ainda melhor sinalizadas. "Tem mais: o Código de Trânsito Brasileiro não prevê vaga para carregamento, então como punir alguém por estacionar lá?", completa. Para Garcia, nesse aspecto, de educação e infraestrutura, a mobilidade elétrica ainda tem muito para evoluir.
Em resumo, segundo Garcia, o carro elétrico ainda precisa de um tempo para se tornar habitual em nossa sociedade. "Quanto mais você aprende sobre o carro elétrico, melhor você usa e ainda melhor fica sua experiência com ele", finaliza. E você, caro leitor do WM1, teria um carro elétrico?